15 janeiro 2016

nem por um milhão de euros




Os preços das casas na nossa rua estão a subir a uma velocidade impressionante. Quase não se acredita.
Perguntamo-nos: Se pudéssemos ganhar um milhão de euros, vendíamos?
Respondemos: Não. Se tivéssemos esse dinheiro, quereríamos comprar aquilo que já temos. Esta casa, neste bairro, com estes vizinhos.

Há dias nevou imenso. Fui limpar o passeio antes de o Joachim sair (é mais fácil limpar antes de haver marcas de pessoas e carros). Como já estava com a mão na massa, limpei também o passeio em frente à casa do vizinho, que ainda estava a dormir. O da casa mais à frente já estava na rua, ofereceu-se para fazer uma parte desse trabalho. O que estava a dormir acordou, veio-nos agradecer, e a meio da tarde, mesmo antes de eu ter reparado que nevara outra vez, andava ele a limpar o passeio de nós os três.

Esta manhã a rua estava de novo coberta de branco. Agarrei na pá e comecei a limpar a neve, tentando não acordar toda a vizinhança. O que é difícil, porque a maldita pá bate nos relevos no cimento e faz uma barulheira que me soa a horrorosa na rua deserta e calmíssima de neve. Haviam de inventar uma pá de silicone, para agarrar na neve sem fazer ruído. Ou então uma espécie de rolo de pintor, mas gigante, que rodaria sobre a neve para a enrolar silenciosamente, formando um cilindro cada vez maior. Desconfio que acabei de inventar a pá do futuro, com licencinha, vou ali ao registo de patentes e já cá volto.

Troquei a pá pela vassoura, um pouco mais discreta, e fui pelo passeio adiante: o meu, o do vizinho que agora está a fazer férias de ski e passou o verão a convidar-nos para ir comer no jardim dele a carne deliciosa acabadinha de assar no churrasco em frente à garagem, o outro vizinho que me tem feito todas as impressões de que preciso agora que a maldita impressora avariou (não sei porque é que perseguem tanto a VW, e ninguém se lembra de pôr um processo de milhares de milhões às empresas que programam os equipamentos para se estragarem ao fim de algum tempo), o vizinho a seguir que faz um goulash de caldeirão húngaro que é de comer e implorar por mais, os vizinhos que estão agora na Costa Rica e ainda ontem mandaram fotos do Matthias a fazer férias com eles numa casa com piscina na praia em frente ao Pacífico...

Enquanto a neve está fresca não custa nada - e o dia de meia dúzia de famílias desta rua começou com uma surpresa agradável. De modo que nem eles nem nós, ninguém vende a casa, nem por um milhão de euros, nem que chova!

E assim vai o inverno do nosso contentamento.

(Agora com licencinha, vou limpar a neve outra vez.)


1 comentário:

Paulo Topa disse...

Boa entrada para animar o intervalo.