04 novembro 2015

arriscas um pouco por mim? (1)

O Campact (organização alemã semelhante à MoveOn) criou um guia para as pessoas que querem ajudar refugiados. Achei o texto muito interessante, porque mostra como é que na sociedade alemã se está a lidar com esta questão, e por isso deixo aqui uma tradução feita muito à pressa (o que significa: não pensar duas vezes à procura da tradução mais exacta, cortar algumas frases, etc.)


Guia para as pessoas que querem ajudar refugiados

Queres ajudar refugiados mas não sabes nem onde nem como? Aqui encontras algumas indicações a respeito do tema "participação directa" - e informações úteis sobre o que fazer perante discursos de ódio contra os refugiados na internet.


(foto do site Campact Blog)

Fazer alguma coisa... para os refugiados

1. Quero ajudar os refugiados - mas como?
2. Como encontro parceiros para esta tarefa?
3. O que posso dar?
4. Quero visitar refugiados e conhecê-los pessoalmente - é possível?
5. Na prática, de que tipo de apoio é que os refugiados precisam?
6. O que posso fazer em particular pelas crianças?
7. Como é que posso ajudar a longo prazo?
8. Posso alojar refugiados na minha casa?
9. E quem é que ajuda os milhões de refugiados que não conseguem chegar cá?

Fazer alguma coisa... contra preconceitos e racismo

10. Como posso criar um ambiente de boa vontade para com os refugiados?
11. O que posso fazer quando a extrema-direita faz uma manifestação na minha cidade?
12. E qual é a melhor maneira de reagir a discursos de ódio na internet?



1. Quero ajudar os refugiados - mas como?

Na Alemanha já há dezenas de milhares de voluntários a ajudar os refugiados. Há um número quase infinito de possibilidades de fazer alguma coisa. Mas organizações como a Pro Asyl aconselham a que as pessoas reflictam um pouco sobre as suas motivações e expectativas antes de começarem a agir:

"Analise quais são os seus interesses, os seus pontos fortes e as suas limitações: têm uma área especial de acção? Procura antes de mais o contacto intenso com uma família, ou prefere participar em acções que não o vinculem tanto?"

Portanto, a primeira pergunta é: quanto tempo tem realmente? Quanta paciência? Como diz a Pro Asyl:

"Não queira fazer mais do que o que consegue. Uma coisa é certa: não vai conseguir resolver todos os problemas dos "seus" refugiados."

* Mais sobre o tema: "Como é que se pode envolver na ajuda aos refugiados", da Pro Asyl (em alemão)

A organização católica Caritas também avisa:

"É importante reflectir sobre a sua motivação pessoal e as suas expectativas para evitar desapontamentos e uma carga de trabalhos incomportável."

* Mais sobre o tema: "O que é que posso fazer?", da Caritas (em alemão)

A organização evangélica Diakonie tem disponível na internet um conjunto de perguntas e propostas de reflexão: "Como é que posso participar na ajuda aos refugiados?".


A rede de boas-vindas - mapa interactivo com iniciativas em toda a Alemanha.



2. Como encontro parceiros para esta tarefa?

Em muitas cidades e comunidades já há iniciativas de ajuda aos refugiados. Muitas são de paróquias ou de organizações sociais como a Cruz Vermelha, etc., bem como associações desportivas - mas nas últimas semanas surgiram por todo o país grupos independentes e iniciativas de ajuda.

"Contacte iniciativas existentes e integre-se nelas, em vez de criar estruturas paralelas ou até concorrentes", aconselha Kai Diekelmann da Caritas de Colónia. (aqui, em alemão)

No nosso mapa interactivo encontra um grande número dessas iniciativas. Os Conselhos de Refugiados, que há em todos os Estados da RFA, são também um extraordinário agente de networking. Têm uma experiência de décadas na ajuda a refugiados, e de luta por um direito de asilo mais humano e contra o racismo.
- Aqui encontra a lista de Conselhos de Refugiados.
- Sugestão: telefone para uma instituição de beneficência e peça uma lista de grupos de apoio existentes.  

Também pode procurar na internet, com "ajuda aos refugiados" e o nome da sua cidade. Ou pode procurar no nosso mapa interactivo. Se não houver nenhum grupo, crie um novo!


Algumas dicas para lançar uma iniciativa:

- Afixe anúncios nos quadros dos supermercados ou das lojas biológicas para tentar encontrar outros voluntários.
- Afixe uma lista de contactos para interessados nos eventos de apresentação de novos alojamentos de refugiados.
- Peça ao seu jornal local que publique um anúncio.
- Inscreva a sua iniciativa na nossa rede de boas-vindas.

A rede de boas-vindas - mapa interactivo com iniciativas em toda a Alemanha.



3. O que posso dar?

É difícil dizer o que é mais necessário. Muitas vezes são precisos sapatos e roupa - geralmente para homens (porque a maior parte dos refugiados que estão a chegar são homens) e em tamanhos pequenos (S e M). Também há muita falta de bilhetes de autocarro e comboio, bicicletas e carrinhos de bebé, sacos-cama, colchões de campismo, capas da chuva, etc.
Muitos refugiados gostariam de ter cartões de telemóvel ou cartões pré-pagos (por exemplo, de provedores internacionais como Lebara), para poderem contactar com os famíliares que ficaram no seu país, ou com outros refugiados. Não dê nunca coisas à sorte, convém sempre:
- perguntar nos centros de alojamento de refugiados ou noutros locais - grupos locais de apoio, o conselho de refugiados local, etc., sobre o que é que está a faltar de momento;
- entregue os bens doados no centro respectivo - os grupos não têm capacidade para os ir buscar à sua casa;
- muitas vezes, dar dinheiro é a melhor solução, por ser mais flexível. Os grupos sabem onde melhor aplicar o dinheiro, e além disso têm sempre custos a cobrir.

Dar roupa é importante, mas há um conjunto de princípios básicos: naturalmente só roupa lavada de fresco e separada por tamanhos, já que o trabalho de separar roupa nos centros é extremamente demorado. É melhor entregar as roupas em caixas, em vez de sacos de plástico, porque são mais fáceis de arrumar. Um conselho a quem quer dar brinquedos:

 "Uma boneca bonita, um triciclo, e 20, 50, 100 crianças? Qualquer pessoa que tenha em casa "apenas" duas crianças sabe o que isto significa. Quem deve receber aquele presente maravilhoso? Melhor seria oferecer 10 livros de ilustração iguais, ou 5 garrafinhas de bolas de sabão."

Estas e outras sugestões encontram-se no blogue da Andrea Juchem, que é voluntária.



4. Quero visitar refugiados e conhecê-los pessoalmente - é possível?

O contacto pessoal é possível, naturalmente, mas é preciso ter em conta alguns aspectos:

"Muitos refugiados alegram-se com uma visita solidária, e têm uma atitude muito acolhedora. Pode ir falar com os refugiados", afirma a Pro Asyl. "Mas faça-o sempre de forma educada e respeitadora, porque mesmo um pavilhão de alojamento é um espaço privado dos refugiados. Não é raro que o único sítio para se sentar que um refugiado tem para oferecer é a sua cama."

Também por esse motivo é importante criar espaços onde as pessoas se possam encontrar.

"Talvez haja no local de alojamento uma sala comum, ou um pátio, onde as pessoas possam estar umas com as outras. Melhor ainda é um local de encontro na localidade: já há um "Café Refúgio" na associação de refugiados? Procure na cidade, na Igreja, em associações vizinhas possibilidades de usar um espaço de encontro. Convide refugiados para irem até lá, e se for preciso vá mesmo buscá-los ao centro de alojamento."  

* Mais sobre o tema: "Como é que se pode envolver na ajuda aos refugiados", da Pro Asyl (em alemão)

Se a princípio se sentir um pouco embaraçado, é normal - a maior parte dos refugiados também se estarão a sentir assim.

"Particulamente no início do contacto, é aconselhável prever muito tempo para se começarem a conhecer", aconselham a Caristas e a Diakonie num brochura comum. "Ouça o que dizem, e faça apenas perguntas delicadas (não faça um interrogatório!). Para a maior parte dos refugiados, o mais importante é o sinal - novo, em muitos casos - de que alguém se interessa realmente por eles. Precisam de tempo para perder o medo e a insegurança - que muitas vezes nasceram de más experiências. Também precisam de tempo para trabalhar acontecimentos traumáticos. É possível que reajam à sua aproximação com uma atitude fechada e desconfiança - especialmente se se tratar de pessoas que foram perseguidas ou passaram por experiências muito traumatizantes. O melhor é aceitar estas reacções em vez de as encarar como uma atitude de rejeição."

* Mais sobre o tema: "O que é que posso fazer?", da Caritas (em alemão)

E ainda uma sugestão do Conselho de Refugiados de Baden-Württemberg:

"Não se esqueça disto: uma oferta de ajuda é uma oferta. Se alguém a recusar, terá com certeza motivos para isso. Vá ter com outra pessoa, que certamente se alegrará por ter a sua ajuda."



5. Na prática, de que tipo de apoio é que os refugiados precisam?

As possibilidades - e as necessidades - são quase ilimitadas. Pergunte directamente no centro de acolhimento de refugiados ou nos grupos de apoio. Algumas ideias:

- Coisas que nos parecem banais podem ser uma ajuda enorme num país novo: guie os refugiados nas vizinhanças do centro de alojamento, ou até à cidade mais próxima. Acompanhe-os na ida ao supermercado. Explique-lhes as regras para andar de transportes públicos. Responda às suas questões sobre problemas da vida quotidiana.
- Se tiver um carro, ofereça-lhes boleias. Muitas vezes os refugiados têm de ir aos serviços estatais ou ao médico, e podem ter dificuldades em fazê-lo com transportes públicos. Ou ofereça-se para levar voluntários ou caixas de doações.
- A ida aos serviços estatais é muitas vezes uma situação complicada para os refugiados - que não falam alemão, e em muitos casos viveram situações traumatizantes. O simples facto de ir com eles já pode ser uma grande ajuda, para reduzir os medos ou animar os funcionários públicos a serem mais simpáticos. Também é necessária ajuda para preencher formulários.
- Acesso à internet é algo essencial para os refugiados - para estarem em rede, para fazerem skype com familiares, para procurarem informações importantes. Um projecto muito importante é instalar cafés-internet nos centros de alojamento, com computadores para uso gratuito dos refugiados, ou colaborar com grupos "freifunk" para instalar Wifi.  
- A língua é essencial para uma boa entrada na Alemanha, mas os refugiados não têm acesso fácil a cursos de alemão estatais, e não têm dinheiro para os cursos privados. Organize cursos, arranje material pedagógico, e preveja acompanhamento para as crianças enquanto os pais estão no curso.

Para a orientação no novo país, é muito útil ter "pastas de boas-vindas" com informações sobre a cidade, endereços úteis, dicas para o dia-a-dia. Alguns exemplos:
- um "reader" para Munique, feito por voluntários
- uma brochura de uma cidade, feita em dez línguas
- informações, também em árabe, feitas pelo governo da cidade de Berlim

Nos primeiros meses, os refugiados não estão autorizados a trabalhar - embora muitos o quisessem fazer. Sem ferir as leis, pode ajudar do seguinte modo:

- Perguntar em empresas locais se podem oferecer estágios ou a possibilidade de assistir ao trabalho - isto é permitido.  Organize visitas a empresas ou universidades, de modo a que os refugiados tenham contacto com profissões e áreas de trabalho na Alemanha, e possam ficar com uma ideia mais realista do mundo do trabalho.
- Após alguns meses, normalmente os refugiados podem trabalhar. Para eles (e para os empregadores) há um bolsa de trabalho online especial.

Nas seguintes brochuras podem encontrar-se muitas outras ideias e informações básicas para o voluntariado:
- "Acompanhar e apoiar refugiados e pessoas que pedem asilo", da Caritas de Munique
- "Com os refugiados", da Cruz Vermelha Alemã
- "Acompanhar refugiados", da Caritas e da Diakonie em Baden-Württemberg

Ainda um aviso da Pro Asyl:

"Não se esqueça que as pessoas que pedem asilo não são apenas pessoas em estado de necessidade. São pessoas que, com a sua fuga, já deram provas de uma grande capacidade de iniciativa, e que têm muitas competências: em "tandem" de idiomas, as pessoas podem aprender a língua do outro. Deixe que lhe mostrem as especialidades culinárias. Olhe para os refugiados como indivíduos à sua altura."


[Publico sem rever. Ainda falta traduzir muito. Se notar que há interesse nesta tradução, amanhã continuo o trabalho.]


1 comentário:

Gi disse...

Obrigada, Helena. É uma grande ajuda. Vou tentar saber se há alguma coisa do género em Portugal. Se não houver, talvez haja interesse em fazer.