17 setembro 2015

quando a praxe se transforma em crime

Hoje apareceu um comentário que escreveram num post que escrevi há tempos, a criticar a praxe.

Penso que merece mais visibilidade. Se isto é mesmo verdade, era preciso ir a correr ao tal supermercado buscar as gravações da câmara de segurança (de certeza que têm uma, não é?) e pôr a polícia atrás desses criminosos.

Isto:

Ainda nem completou um mês de que sou caloira numa faculdade da Universidade do Porto. Com grandes planos de pertencer as atividades académicas como a praxe, deparo-me com uma realidade diferente. Enquanto caloiro, não me é dificil compreender como em certas situações somos capazes de silenciar a nossa voz numa tentativade adaptação neste ambiente novo. Certas práticas na praxe são ofensivas e até mesmo, aquilo a considero, uma prática de bullying que é socialmente aceite. Os caloiros, neste esforço de integração, não tem a completa noção naquilo em que se estão a meter e quando querem sair acabam por ser excluídos e julgados, o que os leva a não o fazerem. Hoje, fiquei sensibilizada para esta situação. Uma colega testumunhou algo que me mostra o quanto grave a aceitação destas atividades pode ser. Por medo de falar, vou ser a voz do sucedido. 
Por volta das duas da tarde do dia de hoje, no Porto, a minha colega foi a um pequeno supermecado, ao mini-preço, e vê vários estudantes académicos vestidos de traje, os tais "doutores", com caloiros, que vestem camisolas vermelhas. Estes entram e uma rapariga trajada pede a chave da casa de banho. Após uns 10 minutos, algo chama a atenção á minha colega: Reparou que o tal grupo de estudantes, cerca de 20, estavam dentro da pequena casa de banho e apesar de terem pedido a chave para trancar a porta, estava um "doutor" a vigiar a porta. Enquanto isto, o supermecado encontra-se vazio, unicamente a tal testemunha, uma rapariga do estabelecimento que se havia ausentado e os estudantes académicos em questão. Apercebe-se de uns gritos, que pareciam de uma rapariga, saídos da casa de banho. Nisto, o rapaz que estava a vigiar a porta abre a porta com a chave que tinha e pergunta aos restantes se já estava resolvido o assunto. Assim, o grande grupo sai da casa de banho juntamente com dois caloiros com a cara desfigurada: Um rapaz com os olhos negros e a sangrar da boca e uma rapariga que, ainda que não em tão mau estado, a chorar imenso. Esta é dirijida por um "doutor" trajado que, de forma a silenciá-la, lhe diz "Ou paras de chorar ou vais piorar as coisas para o teu lado... Pensa bem". Á ida embora, ouve-se algo como "Vamos embora que já estamos a dar nas vistas... E isto que sirva de exemplo para os outros", dirigindo-se então áqueles que consideram seus inferiores. 
Ainda que sem mais provas suficientes do que a palavra de uma testemunha, sinto esta necessidade de reportar. Estas práticas devem ser paradas e unicamente quando souberem fazer justiça áquelas que são verdadeiramente tradições académicas é que deverão ser permitidas. Por medo, vemos pessoas a ser sujeitadas a situações destas e ao ficarmos calados ao observar situações destas estamos simplesmente a ajudar a preservação da violência.

Cláudia Catarina


4 comentários:

Gi disse...

Também me parece que, a ser verdade, é caso para polícia.
É inadmissível que a violência possa ser desculpada como praxe.

SJ disse...

Conheço uma miúda, aluna brilhante com média de 19 que entrou agora em Coimbra, para onde vai morar sozinha pela primeira vez. Confessou à mãe que está cheia de medo das praxes, nem tem dormido bem. É isto que temos para oferecer aos nossos miúdos? Dá-me a volta ao estômago.

Fuschia disse...

O problema das praxes é que ninguém aos 18 anos está preparado para lidar com elas. Ninguém quer ser excluído, ninguém quer perder oportunidades e com medo e vergonha, vão sujeitando-se a tudo. Eu trabalho numa universidade, todos os anos gramo com as praxes que não são (parece-me a mim) violentas, mas ainda assim parecem-me usar do poder de subjugar o outro. Começa logo por chamarem todos os caloiros de bicho e mesmo entre os alunos mais velhos, quando se referem a um caloiro (que não esteja) dizem "o bicho não sei das quantas". É demais.

Helena Araújo disse...

No entretanto não ouvi mais nada sobre este caso.
Sobre praxes, estamos conversados. Chamar "bicho" às pessoas, ou andar com medo na universidade, é o exacto contrário do que a universidade devia ser.
Se me deixassem mandar (!...) mandava que cada evento fosse registado previamente na polícia, e tivesse um número de identificação e um responsável. Antes de começar o evento, os caloiros recebiam uma folha com o nº do evento, o nome do responsável, e uma síntese dos comportamentos que podem constituir um crime. Assim ficavam todos avisados.
Bem, se me deixassem mandar muito, mandava que cada evento fosse filmado por duas pessoas, e que no fim do evento os filmes fossem copiados para um ficheiro na polícia. O facto de alguém estar a filmar já ajudava imenso a controlar o sadismo dos veteranos.