Hoje apareceu um comentário que escreveram num post que escrevi há tempos, a criticar a praxe.
Penso que merece mais visibilidade. Se isto é mesmo verdade, era preciso ir a correr ao tal supermercado buscar as gravações da câmara de segurança (de certeza que têm uma, não é?) e pôr a polícia atrás desses criminosos.
Isto:
Ainda nem completou um mês de que sou caloira numa faculdade da Universidade do Porto. Com grandes planos de pertencer as atividades académicas como a praxe, deparo-me com uma realidade diferente. Enquanto caloiro, não me é dificil compreender como em certas situações somos capazes de silenciar a nossa voz numa tentativade adaptação neste ambiente novo. Certas práticas na praxe são ofensivas e até mesmo, aquilo a considero, uma prática de bullying que é socialmente aceite. Os caloiros, neste esforço de integração, não tem a completa noção naquilo em que se estão a meter e quando querem sair acabam por ser excluídos e julgados, o que os leva a não o fazerem. Hoje, fiquei sensibilizada para esta situação. Uma colega testumunhou algo que me mostra o quanto grave a aceitação destas atividades pode ser. Por medo de falar, vou ser a voz do sucedido.
Por volta das duas da tarde do dia de hoje, no Porto, a minha colega foi a um pequeno supermecado, ao mini-preço, e vê vários estudantes académicos vestidos de traje, os tais "doutores", com caloiros, que vestem camisolas vermelhas. Estes entram e uma rapariga trajada pede a chave da casa de banho. Após uns 10 minutos, algo chama a atenção á minha colega: Reparou que o tal grupo de estudantes, cerca de 20, estavam dentro da pequena casa de banho e apesar de terem pedido a chave para trancar a porta, estava um "doutor" a vigiar a porta. Enquanto isto, o supermecado encontra-se vazio, unicamente a tal testemunha, uma rapariga do estabelecimento que se havia ausentado e os estudantes académicos em questão. Apercebe-se de uns gritos, que pareciam de uma rapariga, saídos da casa de banho. Nisto, o rapaz que estava a vigiar a porta abre a porta com a chave que tinha e pergunta aos restantes se já estava resolvido o assunto. Assim, o grande grupo sai da casa de banho juntamente com dois caloiros com a cara desfigurada: Um rapaz com os olhos negros e a sangrar da boca e uma rapariga que, ainda que não em tão mau estado, a chorar imenso. Esta é dirijida por um "doutor" trajado que, de forma a silenciá-la, lhe diz "Ou paras de chorar ou vais piorar as coisas para o teu lado... Pensa bem". Á ida embora, ouve-se algo como "Vamos embora que já estamos a dar nas vistas... E isto que sirva de exemplo para os outros", dirigindo-se então áqueles que consideram seus inferiores.
Ainda que sem mais provas suficientes do que a palavra de uma testemunha, sinto esta necessidade de reportar. Estas práticas devem ser paradas e unicamente quando souberem fazer justiça áquelas que são verdadeiramente tradições académicas é que deverão ser permitidas. Por medo, vemos pessoas a ser sujeitadas a situações destas e ao ficarmos calados ao observar situações destas estamos simplesmente a ajudar a preservação da violência.
Cláudia Catarina
4 comentários:
Também me parece que, a ser verdade, é caso para polícia.
É inadmissível que a violência possa ser desculpada como praxe.
Conheço uma miúda, aluna brilhante com média de 19 que entrou agora em Coimbra, para onde vai morar sozinha pela primeira vez. Confessou à mãe que está cheia de medo das praxes, nem tem dormido bem. É isto que temos para oferecer aos nossos miúdos? Dá-me a volta ao estômago.
O problema das praxes é que ninguém aos 18 anos está preparado para lidar com elas. Ninguém quer ser excluído, ninguém quer perder oportunidades e com medo e vergonha, vão sujeitando-se a tudo. Eu trabalho numa universidade, todos os anos gramo com as praxes que não são (parece-me a mim) violentas, mas ainda assim parecem-me usar do poder de subjugar o outro. Começa logo por chamarem todos os caloiros de bicho e mesmo entre os alunos mais velhos, quando se referem a um caloiro (que não esteja) dizem "o bicho não sei das quantas". É demais.
No entretanto não ouvi mais nada sobre este caso.
Sobre praxes, estamos conversados. Chamar "bicho" às pessoas, ou andar com medo na universidade, é o exacto contrário do que a universidade devia ser.
Se me deixassem mandar (!...) mandava que cada evento fosse registado previamente na polícia, e tivesse um número de identificação e um responsável. Antes de começar o evento, os caloiros recebiam uma folha com o nº do evento, o nome do responsável, e uma síntese dos comportamentos que podem constituir um crime. Assim ficavam todos avisados.
Bem, se me deixassem mandar muito, mandava que cada evento fosse filmado por duas pessoas, e que no fim do evento os filmes fossem copiados para um ficheiro na polícia. O facto de alguém estar a filmar já ajudava imenso a controlar o sadismo dos veteranos.
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