Esta semana tinha um bilhete para a Filarmonia, guardado há muitos meses, e já não me conseguia lembrar porque é que o tinha comprado: música de câmara?! violino, violoncelo, harpa?! que me terá passado pela cabeça?!
Tudo se esclareceu quando vi o programa: Max Bruch, Acht Stücke. Ah, pois. A primeira vez que ouvi estas oito peças foi na versão para clarinete, viola e piano, e fiquei completamente rendida. Neste concerto descobri que três delas tinham sido escritas também para um quarto instrumento: a harpa.
E ali estavam as peças para harpa acompanhada por violino e violoncelo, e a harpa era tocada por Marie-Pierre Langlamet. Que beleza! Aos primeiros acordes da harpa ocorreu-me com urgência um "Max Bruch, queres casar comigo?"
Era a peça nº 2. Começou com a harpa, a seguir entrou o violoncelo nas mãos do Ludwig Quandt, que é, como a Marie-Pierre Langlamet, membro da Filarmónica de Berlim, na qual tem o lugar de primeiro violoncelo e solista. É pena não haver um superlativo de primeiro violoncelo, porque ele merecia-o bem. Faz-me esquecer que está a tocar um instrumento feito por humanos, arranca dele tons quentes e de uma fluidez que me levam para a própria essência da música. O início daquela peça, em dueto com a harpa, foi sublime.
- Ludwig Quandt, queres casar comigo?
Finalmente entrou o violino, pela Lara St. John. No Canadá e nos EUA dizem que está entre os violinistas mais importantes da sua geração, mas eu não sei que diga. Toca com muita virtuosidade, lá isso toca, só é pena o violino dela parecer que anda a tomar Ritalina. Demasiada energia, demasiados ziguezagues. Transformou o meu Max Bruch numa montanha russa, não sei se lhe perdoo.
A verdade é que as oito peças de Max Bruch ficam bem é com clarinete em vez de violino, e se o clarinete for tocado pelo Andreas Ottensamer, ai aí, então...
- Andreas Ottensamer, queres casar comigo?
(Hoje estou muito casadoira)
O Bach e o Bruch da Lara St. John não fazem muito o meu gosto mas, em compensação, a garra e a alegria dela ficaram muito bem na "Czardashian Rhapsody" de Martin Kennedy. Trata-se de uma peça inspirada em Liszt e na tradição folclórica húngara, um dueto para violino e harpa, composta especialmente para a Lara St. John e a Marie-Pierre Langlamet, e tinha ali a sua estreia mundial. Composta na forma das czardas, começa com leveza e larga-se a acelerar até atingir um ritmo vertiginoso. A Lara St. John agitava-se, saltava no palco, brandia o arco como um sabre. Na harpa, a Marie-Pierre Langlamet sorria, muito divertida e com um visível prazer.
O público adorou.
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