11 maio 2015
conclave em Berlim
Os músicos da Filarmónica de Berlim estão hoje reunidos numa sala fechada, sem telefones nem telemóveis, a escolher o próximo maestro titular da orquestra. Provavelmente logo à tarde saberemos quem terá sido convidado a ocupar este lugar impossível.
Albrecht Mayer conta numa entrevista à revista conzerti como é que o "conclave" decorre:
Cada músico começa por sugerir três nomes. Somados os nomes, retiram-se todos os candidatos com menos de 30%. A seguir há um debate, após o qual se faz a votação, na qual cada músico só tem um voto. Isto é o habitual. Mas acrescento que, curiosamente, o nome de Claudio Abbado não estava na lista dos que tinham mais de 30%, e acabou por ser ele o escolhido. O seu nome só surgiu pouco antes da decisão final. As pessoas lembraram-se de concertos maravilhosos com ele, e depois de cinco ou seis horas de debate acabámos por decidir a seu favor.
O diário berlinense Tagesspiegel refere a dificuldade deste lugar:
Dantes as frentes estavam claras: de um lado Deus no seu pódio, dizendo o que é para fazer, e do outro os instrumentalistas que lhe obedeciam. Hoje em dia o trabalho da orquestra deve ser um trabalho de grupo. Colegial, entre iguais, uma democracia com hierarquia plana - compatível com a filosofia das empresas no séc. XXI. A curiosidade sobre as eleições nos Filarmónicos aproxima-se um pouco da discussão sobre modelos actuais de trabalho. Os alemães proficientes? Os alemães bons colegas - os Filarmónicos podem transmitir também essa imagem ao mundo.
Para além disso, são individualistas com extrema autoconfiança, perante os quais qualquer maestro precisa de ter bons argumentos para defender as suas ideias artísticas. O maestro tem de ser um especialista do repertório nuclear desta orquestra, tem de saber dirigir com profundidade Bach, Beethoven e Brahms e ao mesmo tempo surpreender no dia seguinte com uma estreia mundial. Como "rosto da orquestra" espera-se que seja moderno, charmoso, poliglota, sempre capaz de fazer small talk com políticos, fotogénico por causa do Digital Concert Hall, simpático às crianças por causa dos Education-Programs, aberto para novos tipos de concerto desde o Lunchkonzert ao Late Night Lounge. Em suma: o maestro titular tem de aguentar toda a pressão de autojustificação que hoje em dia se exerce sobre a música clássica, sobre a qual se diz ser elitista.
Mas será que existe nesta área da música um homem para todos os ofícios como o aqui retratado? Claro que sim, mas Simon Rattle decidiu abandonar a orquestra em 2018 (...)
Simon Rattle. O maestro que, como diz o Zeit, "deu à orquestra a coolness a que se dá o nome de séc. XXI."
Daqui a umas horas saberemos quem foi escolhido. E daqui a uns anos veremos o que a escolha de hoje mudou no panorama mundial da música clássica.
(na foto, Simon Rattle sentado no chão do palco, aplaudindo o solo que o violinista grego Leonidas Kavakos ofereceu como encore)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Estou muito curiosa.
Gi, agora vamos aguentar a curiosidade mais um anito. Paraece-me que foi uma óptima solução. Eles precisam mesmo de tempo para ir decidindo que rumo querem dar à orquestra.
Enviar um comentário