23 abril 2015

simbolismos [ARtMENIANS: RTP2, 24.04, 23:25]




Se me deixassem mandar, o filme ARtMENIANS tinha pelo menos cinco horas.
Passei várias semanas a olhar para o material que tínhamos e a sentir-me o Ali Babá na caverna dos tesouros: para onde quer que olhasse, só encontrava preciosidades. O Ricardo deitava as mãos à cabeça, dizia que o filme não podia ser tão longo. Eu sentia-me angustiada: como escolher que jóias deixar de fora?

Um dos segmentos que acabámos por ter de cortar foi a descrição do modo como fazem o crisma na Santa Sé de Etchmiadzin, que depois é levado para as comunidades arménias em todo o mundo.

Esse óleo é feito com azeite puro e uma mistura de quarenta ingredientes (ervas aromáticas, flores, raízes, folhas, etc.) segundo uma antiquíssima receita. A mistura coze durante três dias num caldeirão selado. Seguidamente, é levado para o altar-mor da catedral, onde fica quarenta dias a receber as orações e os cânticos quotidianos. Na cerimónia da consagração, que só pode ser presidida pelo Catholicus, usa-se também a lança que trespassou Cristo e uma relíquia que vem do princípio do cristianismo na Arménia: a mão direita de São Gregório, o iluminador. Finalmente, junta-se ao óleo novo o que resta ainda do antigo, num gesto sempre repetido desde o primeiro crisma.  

No filme Ararat, de Atom Egoyan, há uma cena em que um rapaz descendente de arménios fala com um polícia sobre a História do seu povo, e se refere à batalha de Avarair, que foi em 451 d.C.
O polícia, americano, espanta-se:
- Isso foi há muito tempo.
- We go way back, responde o rapaz.

É isso. They go way back: o crisma usado nas comunidades arménias em todo o mundo é tocado pela lança que vem do princípio do cristianismo e pela mão do fundador da Igreja Apostólica Arménia, e tem os restos de todos os crismas da História da Igreja Arménia. Mais simbolismo que isto é difícil.
É difícil, mas é possível: esta cerimónia ocorre de sete em sete anos. No cristianismo, o sete representa a unidade plena entre o divino e o terreno - 3 + 4 = a Trindade e os quatro pontos cardeais. O óleo com que ungem os baptizados simboliza a união perfeita do céu, da terra e do tempo.


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