02 abril 2015

há um ano por estes dias estava em Nagorno-Karabakh

De regresso a Yerevan escrevi um texto a contar sobre a viagem, e prometi fotografias. Um ano depois, ainda pode ser?

O texto era este:

lua cheia sobre Nagorno Karabakh

Era já muito tarde quando chegámos a Shushi, e uma lua cheia enorme erguia-se por trás dos ramos de uma nogueira centenária, junto à casa onde iríamos passar a noite. Por uns momentos lembrei luas cheias associadas a momentos muito especiais do último ano. Na Pampa boliviana, no São João do Porto, com amigos portugueses em Berlim e com amigos alemães na neve. Senti-me invadida por uma onda de gratidão para com a vida - que me passou quando entrei na casa e vi as condições do Bed and Breakfast em que nos tínhamos metido.

Aviso aos visitantes de Karabakh: a não ser que gostem de cenários muito fortes, optem por um hotel.

E se puderem fazer a viagem de avião, em vez de automóvel por estradas num estado lastimoso, talvez não fosse má ideia... Ou talvez seja a pior ideia de todas, porque a paisagem entre Yerevan e Karabakh é uma sucessão de cenários deslumbrantes, e depois há o almoço em Vaik e a aldeia onde se pode provar "o primeiro vinho do mundo", há mosteiros milenares de onde saíram algumas das mais belas iluminuras arménias, e há rebanhos e cães pastores descomunais, há uma vendedora de fruta com a banca mais bonita que alguma vez vi e uma tristeza do tamanho do mundo. Há o sol nas árvores que ladeiam a estrada e mais longe muralhas de montanhas cobertas de neve. Como se estivéssemos a caminho de um lugar mítico. E estávamos. Mas só nos demos conta disso um pouco mais tarde, depois de falar com as pessoas e ouvir a sua história.

A lua cheia sobre o desfiladeiro que protege Shushi era um sinal que não entendemos logo.





Comecemos pelo mosteiro Khor Virap, não muito longe de Yerevan. Entre um cemitério e o monte Ararat - que fica já do outro lado da fronteira, e naquele dia estava coberto de nuvens. Foi aqui que o rei Tiridates III mandou encarcerar o São Gregório, o Iluminador. O que não foi grande ideia, porque a seguir o rei começou a transformar-se num porco. Estava cada vez pior, ninguém o sabia curar, e em desespero de causa lembraram-se do São Gregório metido no seu buraco (o mosteiro veio depois, claro), foram lá buscá-lo e encontraram-no milagrosamente em óptimo estado, levaram-no ao rei. Aconteceu como tinha de acontecer: o São Gregório curou o rei, que voltou a ter forma e comportamento humano, se converteu ao cristianismo, com ele todo o povo. 
Esta história é antiga, ainda mais antiga que este mosteiro que parece estar ali desde o princípio do mundo. Os arménios são o mais antigo povo cristão. 







Parámos numa aldeia para filmar um grupo de amigos a jogar cartas. Os homens jogavam, a equipa de filmagem filmava, os mirones miravam, e eu - mirone-mor! - fotografava os mirones. Até que eles repararam em mim e trataram de se esconder.





Identificação de uma mulher.
O nosso guia disse-lhe "pense numa coisa bonita para sorrir" e ela respondeu que não tinha nenhuma recordação feliz.





Dizem que nas grutas destas rochas se guardava o primeiro vinho do mundo.
(Espero que a mãe do Pedro não veja estas imagens...) (Até eu tive vontade de lhe gritar: "sai já daí! olha que vais cair!")






Em Vaik, numa cave de pedra, serviram-nos um banquete. Hei-de voltar a Vaik só para tentar comer de novo estas batatas com carne. Soube-me à comida da casa da minha avó, no Minho. É estranho ir à outra ponta da Europa em busca da recordação de uma avó portuguesa, mas a gente vai aonde for preciso para poder tocar, por uns momentos, a própria infância.









Decidimos deixar o mosteiro de Tatev para o regresso, e no regresso não pudemos ir.
Mais um motivo para voltar à Arménia.




"Free Artzakh welcomes you"



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