Antes de sair para a Costa Rica há que largar aqui as fotografias das férias na neve na semana passada, não vá acontecer como com as fotografias da Arménia que prometi e ando há um ano para cumprir. E não me venham agora dizer que isto é só laró, porque a culpa não é minha. O Joachim queria esquiar com um grupo que marcou a semana para demasiado tarde, a Christina só tem férias nesta altura, e cá vamos tentando conciliar os interesses de todos. Isto não é uma queixa.
Ora então:
Ora então:
(muitos passeios com o Fox, esse estabanado que passava a vida a fugir para fora da fotografia)
(estas casas estavam ao lado do consultório do veterinário que levou 50 euros para cortar uma unha partida ao Fox - é o que se chama meter a unha para tirar a mesma. Fiquei chateada - pareceu-me que ele, o veterinário, tinha arrebitado as orelhas de maneira especial quando me ouviu falar alemão...)
As recordações são como as cerejas...
Semana em Itália, com um grupo de esquiadores do sul da Alemanha. Dou comigo a jantar a uma mesa cheia de sotaques da Suábia e de Baden, todos a falar da neve, da neve solta, da neve dura, de esquiar na neve virgem, da má visibilidade quando neva.
Lembrei-me do Nicolas, num piquenique em Coyote Point, olhando para os surfistas e fazendo comentários sobre o vento. Decidi nesse dia que nunca sairia com um grupo de surfistas, só sabem falar do vento. Boa decisão - e para quê? Para acabar num hotel com gente da Suábia e de Baden a falar da neve.
O Nicolas viveu no Tahiti, falava da luz do Tahiti com tal encanto que quase nem é preciso ir ver para se encantar da mesma forma. Fazia muitas vezes uma receita tradicional, "poisson cru". Um dia hei-de ir de férias com uns amigos que eu cá sei para a ilha de Armona, e hei-de ir a Olhão comprar atum fresquíssimo dos viveiros que eles me disseram haver lá (esse, a Christina deixa comprar) para lhes fazer "poisson cru".
Cortar os filetes de atum em bocados pequenos. Envolver os pedaços de peixe em sumo de lima. Quando mudar de cor está pronto. Escorrer o sumo, e cortar o processo de cozedura com leite de coco. Juntar cenoura ralada (um pouquinho, para dar cor), sal e pimenta.
Também se pode juntar tomate, cebola vermelha em anéis finos.
Diz que o leite de coco não deve ser da lata. Não sei, não sei...
Mesmo sendo da lata sabe-me tão bem que estava capaz de comer quilos e quilos disto. Até apanhar um choque proteico, como daquela vez na Ile d'Yeu. A culpa foi da anedota do homem que estava com dificuldades naquilo, já se sabe o quê, e o amigo disse-lhe que experimentasse ostras. Passados uns tempos encontraram-se de novo, e ele atirou "tu e as tuas ostras! comi duas dúzias, só funcionaram sete!"
No mercado junto aos barcos estavam a vender ostras, e nós resolvemos experimentar quantas funcionavam. Comprámos duas dúzias, treize à la douzaine, apanhámos um choque proteico tal que não funcionou nenhuma. Mas sobrevivemos, e foram umas férias inesquecíveis. Às vezes, se o vento me traz um aroma de mar e anis, regresso a esses dias perfeitos. Como na reserva de Año Nuevo, nós a fazer a caminhada de quase uma hora para chegar às pouca-vergonhices dos elefantes marinhos em em Fevereiro e Março (também há uma anedota a propósito disto, mas eu queria acabar o post ainda hoje), e a vegetação rasteira misturada com a maresia a soltar aquele aroma inconfundível, o Joachim a correr com os miúdos mais à frente, longe demais, eu sem poder sorrir-lhe, "lembras-te?", ele sem saber que era a sua deixa para dizer "temos de voltar a essa ilha!"
Semanas depois era domingo de Páscoa, e fizemos outro piquenique, desta vez na Tomales Bay. Tínhamos um saco de vinte quilos de ostras compradas na baía, e uma toalha de Chanukkah que a nossa amiga encontrara na cave. Desde então, sempre que vejo o candelabro de sete braços, lembro-me dessa Páscoa, das ostras e de uma manada de veados a desaparecer na neblina de uma encosta verde. E da praia de Sir Francis Drake - eu era a única que lhe chamava pirata (algumas das minhas noções de História ainda não passaram o cabo do 25 de Abril).
Nos passeios com o Fox descobri um grupo de árvores que me lembrava uma catedral. Que me lembrou logo a Avenue of Giants, quilómetros e quilómetros de redwoods. Levei lá os miúdos numa das viagens mais loucas que já fiz. Queríamos ir de San Francisco a Oregon despedir-nos dos amigos antes de regressar à Europa, e eu resolvi aproveitar para passear no norte da Califórnia, enquanto o Joachim ia de avião, porque só tinha o fim-de-semana.
Ainda a viagem não tinha começado e já estava a correr tudo mal, porque eu confundo milhas com quilómetros. Bem sei que não é a mesma coisa, mas, enfim, é quase como se fosse. Na manhã da saída, até ter tudo metido dentro do carro demorou algum tempo, e mal atravessámos a Golden Gate foi preciso meter gasolina, e "já agora" lavar o carro. A Christina soltou um "ó, mãe..." tipo "gosto muito de ti, mas também não precisavas de exagerar tanto os testes ao meu amor". E lá fomos nós, atrasados como tudo mas num carro muito asseado. Parámos em Fort Ross, para ver sinais dos russos que ali vivera, e acampámos numa cidadezinha pacata que em tempos foi dos lenhadores que dizimaram as florestas de árvores gigantes. Comemos na antiga cantina dos lenhadores, cheia de fotografias deles muito ufanos junto ao corpo do delito. Nem a comida se aproveitava.
Numa curva da estrada vi uma tabuleta lindíssima, com um bule de chá cheio de florinhas, tudo muito inglês e romântico, e a frase "best pot in California". Não sei quantos meses andei até perceber finalmente o que vendiam ali...
Percorremos a Avenue of Giants, passamos de carro pelo meio de uma dessas árvores, entrámos na casa feita no tronco oco de outra, os miúdos fascinados, eu com pena de não ter tempo para parar mesmo e partir a pé pelo meio da floresta.
Fomos ao Heritage House Inn, em Mendocino, e o Joachim, quando soube, ficou cheio de pena de não ter estado connosco. Havemos de ir lá os dois, prometi, e desatámos ambos a rir - afinal de contas, é o sítio onde foi filmado "same time, next year", não devia ser lugar de peregrinação de casados.
Dois dias mais tarde chegamos à casa de praia no Oregon onde os amigos nos esperavam. Enchemo-nos de boa vida e de crabs pescados por nós nas baías desenhadas por cedros, e no regresso resolvi vir pela auto-estrada do interior. Atravessámos um vale que devia ficar muito perto do paraíso, porque era lindíssimo. Tudo como nos sonhos: flores selvagens a perder de vista, montes doces, e um rio a saltitar pelo meio. Mas não anotei o nome na altura, e nunca mais o encontrei. É estranho. Garanto que não tinha comprado, e muito menos consumido, o tal best pot of California.
(Mais vale parar aqui mesmo, mais uma frase e desgraço-me.)
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