30 março 2015
obrigada por pedires ajuda, filha
Quando os meus filhos eram pequeninos e choravam a meio da noite, eu levantava-me para cuidar deles sentindo que ninguém no mundo naquele momento seria capaz de os ajudar melhor do que eu. Às vezes bastava uma palavra, um beijinho. Às vezes era preciso mais. Inalações, ou limpar pela casa toda os excessos de uma gastroenterite, por exemplo. Passei algumas noites de Inverno a dormir sentada no sofá da sala, com a cabecinha do Matthias pousada no meu ombro, a janela aberta para ele respirar o ar seco e gelado - o que era melhor para os seus pulmões -, e no dia seguinte andava animada e cheia de energia. Sentir-me útil e especial para as pessoas mais importantes da minha vida dá uma onda muito boa.
Esta manhã, quando a Christina ligou da Bolívia, muito aflita porque não a deixavam entrar no avião por falta do boletim de vacinas, acalmei-a, e depois procurámos juntas uma solução. No fim ela agradeceu muito, "que seria de mim sem ti?", e eu ri-me, "resolvias o problema sozinha, tenho a certeza!" Mas senti-me feliz por ter podido ajudar - sobretudo por ela ter sentido que não estava só e tudo se ia resolver.
Há tempos ela contou-me que uma vez pediu às amigas que nos avisassem caso a vissem a escorregar para a toxicodependência. "Bem sei que os meus pais me vão dar o raspanete da minha vida, mas vão-me ajudar", disse ela.
Que podemos nós desejar mais do que esta confiança dos nossos filhos já grandes, de que saberemos ser-lhes abrigo no meio da tempestade?
(Bem sei que mais tarde serão eles o nosso abrigo - "vejam lá como nos tratam, somos nós quem vai escolher o vosso lar!", ameaçam eles, com um sorriso malandro. Bem sei que o nosso lugar será cada vez mais o de espectadores discretos e pudicos, enquanto eles vão conquistando com segurança o centro no palco da vida deles. Mas, para já, é assim que a vida vai, e sinto-me grata por isso.)
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4 comentários:
Helena, quando casei, não quis inicialmente que a minha mãe se preocupasse ou incomodasse com nada, mas a certa altura percebi que pelo contrário, ela queria mesmo ajudar e sentir-se útil.
Perceber isso foi muito bom para ambas.
Ao contrário deles (dos filhos) nós mudamos pouco de casa.
Mesmo quando o fazemos tentamos sempre ficar com o mesmo número de telefone.
Boa Páscoa.
Eu dou-me muito bem com a independência deles. Se querem fazer sozinhos, fazem. Aliás: queremos que sejam independentes. A Christina não teve a menor ajuda minha para tratar de todo o processo de um ano de trabalho voluntário na Bolívia. Depois ajudou o irmão.
Mas é bom saber que eles sabem que podem contar connosco quando estiverem em dificuldades e não souberem o que fazer.
Luís, fale por si... ;)
o máximo de tempo que fiquei numa casa, desde que vim para a Alemanha, foi 7 anos. E penso que esta que fizemos agora não vai ser a última.
Mas o nosso telemóvel e endereço de e-mail vai sempre connosco, ao menos isso!
Boa Páscoa também para si.
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