09 dezembro 2014

cor-de-Jobim



Quando o Michael Jackson morreu, fiquei surpreendida com as canções que passavam na rádio - apesar de pensar que não ligava nada ao Jackson, conhecia todas aquelas canções quase de cor.
(Esta minha tendência para reparar na mensagem e ignorar o mensageiro...)

Onde estava no dia em que o Jobim morreu? A Christina tinha seis meses, a internet ainda era muito incipiente na nossa vida, o Brasil e Portugal ficavam longe. Provavelmente a notícia só me chegou mais tarde e já sem impacto. Tal como com o Michael Jackson, naquele tempo não sabia da quantidade de coisas minhas que eram dele.

Seis anos depois da sua morte, o Jobim começou a tomar posse do que espalhara pelo meu mundo. Começou num barzinho de Ipanema, num concerto do seu grupo carioca. Comovidos de saudade, os "históricos" cantaram com a voz já quebrada pelo tempo. Cantavam as canções dele enquanto eu reorganizava os meus ficheiros mentais: Jobim no Vinicius, Jobim no Chico, Jobim no Caetano, Jobim no João Gilberto, Jobim no Edu Lobo, Jobim na Elis.  

Algum tempo depois voltei ao Rio com a minha família, e vimos uma exposição sobre o Jobim, com quadros e esculturas a ilustrar algumas das suas canções. Ao lado de cada obra de arte havia auscultadores para ouvir a respectiva canção. Não me lembro de exposição mais emotiva: cada canção trazia para aquela sala a vida de quem a ouvia. As pessoas cantavam baixinho, choravam uma ou outra lágrima em surdina, largavam o corpo num leve ondular - pela música mergulhavam para lugares cativos dentro de si próprias. Os meus filhos pequeninos ouviam e sorriam também - porque, apesar de se terem cruzado com ele à porta deste mundo, nasceram para um mundo jobimizado. Um mundo cor-de-Jobim.

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