29 outubro 2014

yonder

Há tempos pediram-me um conto numa frase. Como é que se lembram de me pedir tal exercício de síntese a mim, logo a mim, é algo que nunca entenderei, mas hoje, ao ver uma fotografia no facebook, o conto veio ter comigo. Assim:



Guardou as más memórias numa caixa, escreveu por fora "do not open", e sucumbiu ao seu peso cada dia maior. 

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Melhor seria usar a caixa para guardar as boas recordações, escrever por fora o conteúdo com evocativas simples, e por elas partir para yonder - o lugar entre o que foi e o que se quer reter.

Ler "de coração cheio": ao entardecer, entre a lua cheia e o mar, os rapazes a jogar à bola com o Fox; ler "filha grande aventureira": a interminável viagem de carro a Colónia e a tua filha a contar histórias do seu Setembro no Nepal; ler "espaços de sublime que são verdade!": o passeio com os amigos no outono de Potsdam.

E esquecer na caixa fechada - por insignificantes - o vento e a areia da praia misturada no vinho, o terror quando o autocarro nepalês parou na queda de água sobre a estrada e começou a deslizar de lado para o abismo, o relógio a expulsar-nos de Potsdam para o aeroporto.


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