29 outubro 2014

os benfiquistas parece que gostam de ser maltratados pelas mocinhas


Se calhar nem todos, mas o benfiquista a quem eu mandei uma boca foleiríssima, que metia o Estado Islâmico e adeptos do Benfica na mesma frase e sem respirar de permeio, parece que sim, que gosta de ser maltratado pelas mocinhas, porque na volta do e-mail me convidou, e mais a uma portista ferrenha, daquelas de herança genética e tudo, para ir jantar com ele, e serviu um Borgonha (*), um Douro (**) e um Madeira (***) de 1978 que eram de beber e chorar por mais. De beber e bater por mais, diria eu, porque quanto mais nós nos alargávamos em explicações sobre a superioridade do Gloriuôso, e tal, mais os copos se enchiam quase sozinhos.
Uma noite bem passada, portanto: a carne estava uma delícia, o gelado artesanal de morango e menta estava sublime, a mousse de chocolate idem, a portista batia com conhecimento de causa, eu batia só para merecer mais um bocadinho do Madeira antigo, e também, confesso, por amor aos jogos florais do mal-dizer: sobre a nudez diáfana da verdade, o manto cruel da fantasia.

Depois, já a caminho de casa, ocorreu-me que se calhar os benfiquistas não gostam de ser maltratados pelas mocinhas. Se calhar aquele belo jantar foi uma bofetada de luva branca, tão bem dada que nem reparei. Caramba, os benfiquistas com aquele ar desligado de quem só está ali por causa da bola: sabem-na toda!


(*) Echézeaux - não li  nome do produtor, mas não faz mal. Basta-me o nome, Echézeaux - benditos produtores de vinho da Borgonha que ao destacar o nome do torrão da Côte d'Or na garrafa me levam instantaneamente a lugares onde fui muitas vezes feliz (****).
(**) Tentei ler a etiqueta da garrafa do Douro, e li, mas depois esqueci-me.
(***) Boal, Barbeito.

(****) "fui muitas vezes feliz": passear pelas aldeias da Borgonha, entrar nos pátios das quintas, falar com o viticultor, sentar-se a uma mesa de madeira antiga, provar vários dos seus vinhos. Passar os dias nisto.


Sem comentários: