19 abril 2014

lua cheia sobre Nagorno Karabakh

Era já muito tarde quando chegámos a Shushi, e uma lua cheia enorme erguia-se por trás dos ramos de uma nogueira centenária, junto à casa onde iríamos passar a noite. Por uns momentos lembrei luas cheias associadas a momentos muito especiais do último ano. Na Pampa boliviana, no São João do Porto, com amigos portugueses em Berlim e com amigos alemães na neve. Senti-me invadida por uma onda de gratidão para com a vida - que me passou quando entrei na casa e vi as condições do Bed and Breakfast em que nos tínhamos metido.

Aviso aos visitantes de Karabakh: a não ser que gostem de cenários muito fortes, optem por um hotel.

E se puderem fazer a viagem de avião, em vez de automóvel por estradas num estado lastimoso, talvez não fosse má ideia... Ou talvez seja a pior ideia de todas, porque a paisagem entre Yerevan e Karabakh é uma sucessão de cenários deslumbrantes, e depois há o almoço em Vaik e a aldeia onde se pode provar "o primeiro vinho do mundo", há mosteiros milenares de onde saíram algumas das mais belas iluminuras arménias, e há rebanhos e cães pastores descomunais, há uma vendedora de fruta com a banca mais bonita que alguma vez vi e uma tristeza do tamanho do mundo. Há o sol nas árvores que ladeiam a estrada e mais longe muralhas de montanhas cobertas de neve. Como se estivéssemos a caminho de um lugar mítico. E estávamos. Mas só nos demos conta disso um pouco mais tarde, depois de falar com as pessoas e ouvir a sua história.

A lua cheia sobre o desfiladeiro que protege Shushi era um sinal que não entendemos logo.






Sem comentários: