20 abril 2014

a prima do cunhado da vizinha da tia

Em Berlim estava tudo bem combinado: tínhamos convite para ir filmar o jantar festivo do sábado de Páscoa numa família que dá muito valor às tradições religiosas. Na sexta-feira veio o balde de água fria: este ano não haveria festa na casa daquela família, mas podíamos ir à casa de amigos deles.

Profunda consternação nas fileiras. Tudo nos parecia estranho: uma festa importante desfeita na véspera, a filha de uma família com grandes tradições pascais vai connosco festejar noutra família? Não conseguíamos entender, mas  não tínhamos grande escolha.
A situação complicou-se ainda mais quando me dei conta de que a filha não conhecia a tal amiga, e esta não ia festejar na sua casa, mas na dos cunhados. O meu coração de alemã transtornou-se ligeiramente, mas depois ocorreu-me que fazer um filme num país ainda muito desconhecido, sobre um povo cuja língua não conheço, é como andar sobre um arame - e desatar a esbracejar não ajuda muito ao equilíbrio.

Os arménios devem ter percebido melhor aquele "olhai os lírios do campo" e mais dois ou três ensinamentos de Cristo, porque nos receberam - um grupo de seis desconhecidos- com alegria, hospitalidade e paciência. Acabámos à volta da mesa a trocar brindes comovidos, e no final despediram-se com muitos abraços e sorrisos rasgados e a frase "a minha casa é a tua casa".

Uma Páscoa inesquecível.


1 comentário:

Pancho Roble disse...

A vida não escolhe os momentos, eles acontecem, assim, simplesmente.