O bom filho à casa torna - depois do interregno da Berlinale, pois lá voltei à Filarmonia. Em boa hora: um concerto com o Albrecht Mayer que foi demasiado curto (desconfio que este oboé seria bem capaz de encurtar a própria eternidade).
Fui para o ouvir tocar Mendelsson Bartholdy, Ralph Vaughan Williams e Maurice Ravel - tive isso, e muito mais: nos intervalos da música rimos e gargalhámos, porque o Albrecht Mayer tem muito jeito para entertainer. Começou por avisar que o tema da noite seria o plágio, e logo ali lembrou Bach, o maior plagiador do mundo. Não disse o nome "Annette Schavan", mas todos perceberam, e muitos aplaudiram com gosto.
No fim da primeira parte, ofereceu-nos um encore. Perguntou: querem um original, ou um plágio? O público quis um plágio, e ele falou então da canção de Reynaldo Hahn, "S'il est vrai, Chloris, que tu m'aimes", pediu-nos para adivinhar a quem foi roubado o acompanhamento da melodia, a sala entusiasmada: "Bach!", e eu a rir cá por dentro: "ladrão que rouba ladrão..."
O Albrecht Mayer continuou:
- Gosto muito desta peça, imaginava que Chloris seria uma mulher lindíssima, de longos cabelos loiros - até que descobri que afinal era um homem. Ora, isso não me incomoda. O que me incomoda é saber que até há bem pouco tempo os homossexuais ainda eram perseguidos. Mas as coisas mudam, hoje mesmo o Tribunal Constitucional deu um passo importante no sentido da igualdade. Apanharam o Papa demissionário, e foi isto...
Infelizmente não encontrei esta canção com oboé em vez da voz humana. Por isso, deixo aqui o Philippe Jaroussky a tentar imitar o oboé do Albrecht Mayer:
- Gosto muito desta peça, imaginava que Chloris seria uma mulher lindíssima, de longos cabelos loiros - até que descobri que afinal era um homem. Ora, isso não me incomoda. O que me incomoda é saber que até há bem pouco tempo os homossexuais ainda eram perseguidos. Mas as coisas mudam, hoje mesmo o Tribunal Constitucional deu um passo importante no sentido da igualdade. Apanharam o Papa demissionário, e foi isto...
Infelizmente não encontrei esta canção com oboé em vez da voz humana. Por isso, deixo aqui o Philippe Jaroussky a tentar imitar o oboé do Albrecht Mayer:
Deixo também este concerto de Ralph Vaughan Williams (composto em 1944 para ser tocado no Royal Albert Hall, mas que foi passado para Bedford, devido aos bombardeamentos) - gostei muito, especialmente da passagem mais lenta no terceiro andamento:
A orquestra tocou também uma peça de Mendelssohn Bartholdy, composta quando ele tinha uns doze anos (doze anos, meu Deus!), com um segundo andamento extraordinário: manda calar os violinos, e divide as violas em três vozes (a partir de 7'25):
Inesquecível também foi o momento em que o solista nos confidenciou que este concerto era para ele uma "primeira vez": a primeira vez que o público daquela sala não aproveitava os momentos de pianissimo para tossir com toda a força. Falou com muita graça do medo que ele e os colegas da Filarmónica sentem quando, no final da nona de Mahler, naquele lentíssimo morrendo, ouvem alguém a puxar o ar com toda a força, preparando-se para...
O público riu e aplaudiu. Mas é bem verdade que "gabaste-lo estragaste-lo" - dali para a frente, a brigada da tuberculose voltou ao ataque.
**
No fim do concerto comprei um CD e pus-me na fila para os autógrafos. A senhora ao meu lado, muito conversadora, dizia-me que o solista comprou a casa de amigos dela, "festejámos muitas passagens de ano na casa onde ele agora mora". Quase lhe respondi "ah, isso não é nada comparado comigo, quando comprei a casa de cunhado do Mahler e fiz a cozinha no sítio que provavelmente seria a sua sala de música...", mas optei por sorrir com ar de muito impressionada.
Quando chegou a sua vez, ela disse-lhe "sei muitas coisas sobre si!", ele sorriu, eu engoli em seco. O que é que esta gente pensa?!
Quando chegou a minha vez, ele queria saber o meu nome, e de onde venho, e de que cidade de Portugal. Que simpático! Disse-lhe que talvez tivesse ouvido falar de mim, por causa da noitada de fado que os filarmónicos tiveram em Lisboa, ele respondeu cheio de pena que tinha perdido esse momento mágico, de que tanto se falou na orquestra. Prometi-lhe que havia de lhe dar uma segunda oportunidade.
(Paulo, prepara-te: ainda vai sobrar para ti!)
Agora vou passar o dia a ouvir um CD com corais de Bach para oboé, orquestra e coro, e a olhar para a dedicatória: "für Helena! Ihr Albrecht"
(ele se calhar diz o mesmo ponto de exclamação a todas, mas eu prefiro fazer de conta que não)
Inesquecível também foi o momento em que o solista nos confidenciou que este concerto era para ele uma "primeira vez": a primeira vez que o público daquela sala não aproveitava os momentos de pianissimo para tossir com toda a força. Falou com muita graça do medo que ele e os colegas da Filarmónica sentem quando, no final da nona de Mahler, naquele lentíssimo morrendo, ouvem alguém a puxar o ar com toda a força, preparando-se para...
O público riu e aplaudiu. Mas é bem verdade que "gabaste-lo estragaste-lo" - dali para a frente, a brigada da tuberculose voltou ao ataque.
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No fim do concerto comprei um CD e pus-me na fila para os autógrafos. A senhora ao meu lado, muito conversadora, dizia-me que o solista comprou a casa de amigos dela, "festejámos muitas passagens de ano na casa onde ele agora mora". Quase lhe respondi "ah, isso não é nada comparado comigo, quando comprei a casa de cunhado do Mahler e fiz a cozinha no sítio que provavelmente seria a sua sala de música...", mas optei por sorrir com ar de muito impressionada.
Quando chegou a sua vez, ela disse-lhe "sei muitas coisas sobre si!", ele sorriu, eu engoli em seco. O que é que esta gente pensa?!
Quando chegou a minha vez, ele queria saber o meu nome, e de onde venho, e de que cidade de Portugal. Que simpático! Disse-lhe que talvez tivesse ouvido falar de mim, por causa da noitada de fado que os filarmónicos tiveram em Lisboa, ele respondeu cheio de pena que tinha perdido esse momento mágico, de que tanto se falou na orquestra. Prometi-lhe que havia de lhe dar uma segunda oportunidade.
(Paulo, prepara-te: ainda vai sobrar para ti!)
Agora vou passar o dia a ouvir um CD com corais de Bach para oboé, orquestra e coro, e a olhar para a dedicatória: "für Helena! Ihr Albrecht"
(ele se calhar diz o mesmo ponto de exclamação a todas, mas eu prefiro fazer de conta que não)
5 comentários:
O que eu gosto do Albrecht Mayer!
Ele que venha, ele que venha.
(Ou sabes de alguma coisa que eu não sei?)
Eh, chega pra lá! Vi primeiro! ;-)
(não, não sei de nada, infelizmente)
a canção tocada em oboé deve ser cá uma coisa...
e obg pelo mendelssohn. não conhecia, e é extraordinário, realmente.
sem-se-ver,
1. A canção tocada em oboé é cá uma coisa. Mas todo o concerto foi uma coisa, para falar verdade.
2. De nada. Pensar que fez aquilo com 12 anos! E o concerto de Rossini que tocaram também foi composto sensivelmente com a mesma idade. Aquilo eram umas juventudes muito geniais, não há dúvida.
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