07 janeiro 2013

ah, valente!

No filme que vi ontem, "No céu, debaixo da terra", falavam de um judeu alemão assimilado, pessoa muito rica e importante, que recusou diversas vezes o título de nobreza que o Kaiser lhe queria oferecer, alegando: "sou demasiado cobarde para me ridicularizar".



Ah, valente!

20 comentários:

Carla R. disse...

Lembro-me que uma actriz quando estava no inicio da carreira, acho que foi a Melanie Laurent, disse algures que o conselho que o Gerard Depardieu lhe deu foi de nunca ter medo do ridiculo. Eu pensei na altura que tinha sido um bom conselho...

Agora ando a apagar os fimes todos em que ele entra. Normalmente separo muito bem a obra, da pessoa, mas desta vez, estou a ter uma certa dificuldade. Pode ser que com o tempo consiga.

jose disse...

Tem a certeza que é da república da Mordóvia?Com O?Então é uma esperança para a cultura.E que da passagem não deixe lá coiro e cabelo.

Helena Araújo disse...

Carla,
o elogio à democracia do Putin é inadcreditável. Mas, felizmente, continuo a conseguir distinguir os filmes da pessoa do actor.

José,
como é que lhe parece que é correcto?

Unknown disse...

Carla e Helena,
Estas atitudes da pessoa são difíceis de engolir, mas tb. tento separar, pois ao actor basta o "Cyrano de Bergerac" para ter muitos créditos comigo.

jose disse...

Helena
Eu não sei russo,são para mim confusão aquelas consoantes,vogais,repúblicas em democracia e ditadura...Juntando a essa confusão a turbidez do processo Depardieu eu esperava o pior de qualquer tradução.

Lucy disse...

Acho incrível esta atitude dele. E fico parva por as pessoas acharem normal e até graça.Espero que a França o proíba de lá entrar para sempre.

Helena Araújo disse...

Lucy,
eu acho inqualificável ele elogiar a democracia do Putin.
Já quanto a levar os seus milhõezitos para outro lado, não direi que acho graça, mas que está no seu direito - e que dá origem a um debate que tem de ser feito. Afinal de contas, já pagava em impostos mais de metade do que ganhava. E criou uma série de empregos.
Parece-me que é uma questão de ser realista: há um limiar a partir do qual os "ricos" tratarão de soluções legais para não pagarem impostos que consideram excessivos, e esse limiar deve andar pelos 50%, talvez 60% de imposto.
Afinal de contas, quem cria o emprego e a riqueza são os ricos como ele, e sem eles o Estado Social não tem como funcionar.
Se a França o proibisse de lá voltar, talvez fosse um tiro no pé. Talvez ele fechasse as suas empresas na França, para as abrir noutro sítio qualquer.

Lembro-me a propósito da Astrid Lindgren, uma autora de quem gosto imenso, que se fartou de protestar contra o excesso dos impostos na Suécia. Dizia ela que se escrevesse mais um livro perdia dinheiro.

Lucy disse...

Pois eu devo estar a ver tudo mal mas continuo a ficar chocada com a falta de solidariedade desses ricos que só querem fugir aos impostos que iriam, acho eu, contribuir para que o seu próprio país melhorasse e vão para outros não porque os amem muito mas porque lá pagam pouco. Se calhar se fosse rica tb via as coisas assim mas pelintra como sou acho que não está nada errada a famosa e antiga frase "os ricos que paguem a crise". Eu é que devia ir para a Rússia doutros tempos, não??

Gi disse...

Helena, estou totalmente de acordo contigo sobre este assunto.

Quanto à solidariedade, é uma palavra muito curiosa, sobretudo porque, em certas situações, só parece ser usada por uma das partes.

Helena Araújo disse...

Uma correcção importante: quando ali em cima disse "deve andar pelos 50%" estava a fazer uma estimativa e não um juízo moral. Era um "andará talvez pelos 50%".

Helena Araújo disse...

Lucy,
parece-me que essas pessoas estão a ser alvo de um ódio que não merecem. Enfim, pelo menos algumas dessas pessoas não merecem. Antes de mais, temos de distinguir entre ricos e ricos: o que teve uma ideia de negócio que criou milhares de empregos? ou o que enriqueceu fazendo especulação no mercado mundial dos bens alimentares?
"Os ricos que paguem a crise" é uma frase terrível, porque se baseia numa generalização e numa atitude de certo modo fundada no ódio. Não é maneira de construir um entendimento social. Pode ser um logro (será que há ricos com dinheiro suficiente para pagar a crise?) e um tiro no pé (se esticarmos demasiado a corda, os ricos que criam emprego podem levar a sua fábrica para um sítio onde não estiquem tanto a corda, e não os tratem pessoalmente como nojentos intocáveis).

Agora, se me dissesses "os impostos de 50% sobre os ganhos na especulação financeira que paguem a crise", ou algo do género, concordava logo.

Por outro lado, o Depardieu não vai para a Rússia porque lá "paga pouco", mas porque considera (imagino eu) que a taxa de 75% é um abuso e uma prepotência por parte do governo francês. Os 50% que ele tem pago todos estes anos não são pouco, e ele tem cumprido.

À parte aqueles elogios ao Putin, estou-lhe grata por ter despoletado este debate.

Helena Araújo disse...

Gi,
não concordes muito comigo, porque eu tenho sobretudo questões em aberto.
;-)

Quanto à solidariedade: pois. Quando usada contra os ricos, é uma palavra que aparece sem a sua parceira obrigatória: respeito pelos outros.

Rosário disse...

francamente, por um lado acho que os elogios dele ao Putin são (quase) tão surreais e escandalosos como o escalão do imposto que paga.
por outro, acho-os potencialmente perigosos.

Helena Araújo disse...

Os elogios até me parecem sinal de senilidade. Mas pode ser o preço a pagar para receber o tal passaporte.

Porque é que os achas potencialmente perigosos? Eu só consigo ver ridículo - um ridículo que mata o Depardieu, mais nada.

Rosário disse...

por defeito, acho potencialmente perigosas todas as idiotices que uma pessoa famosa possa dizer, pois há sempre quem lhe siga o exemplo. se este grande actor diz que a russia tem uma democracia exemplar sabe-se lá quem e quantos vão fazer disto porta estandarte para o que sabemos existir.
achas que ele vai cair no ridiculo? tenho as minhas dúvidas.

Baltazar Garção disse...


Helena dixit:

«quem cria o emprego e a riqueza são os ricos como ele e, sem eles, o Estado Social não tem como funcionar».

Totalmente falso.

Quem cria mais emprego são, porventura, os ricos (o que carece de demonstração).

Mas quem cria mais riqueza são, óbviamente, os pobres.

Imaginam qual seria o PIB de um Mundo em que só existissem a Raínha de Inglaterra, os Bill Gates, os Gérards Dépardieu, os Jorges Bushes e os Ricardos Salgados?


Isso mesmo, um PIB miserável.


Um Mundo só de ricos seria tão pobre, que nem Estado Social teria...

Helena Araújo disse...

Explico melhor: quem cria o emprego e a riqueza (que resulta do emprego) são ricos como ele, ou seja, empresários.
Não estava a falar da rainha de Inglaterra. Já o Bill Gates, esse cria empregos que não é brincadeira. A Micorsoft tem quase cem mil empregados. Sem o Bill Gates, e outros como ele, como é que essas cem mil pessoas iam criar riqueza?
Quanto ao Depardieu, parece que além de criar emprego, é um patrão exemplar (http://www.lefigaro.fr/entrepreneur/2012/12/18/09007-20121218ARTFIG00664-depardieu-un-patron-qui-prete-ses-motos-et-fait-revivre-une-rue-parisienne.php).

Qual seria o PIB de um país sem ricos? Vai ver os países do comunismo, tens uma boa aproximação da riqueza que os pobres produzem.

Baltazar Garção disse...

Nem sequer é preciso invocar o Comunismo: o PIB de um País "sem ricos" (mas com um rico Estado Social) é o PIB da Alemanha, da Noruega, da Dinamarca, ou da Suíça, por exemplo: "apenas" os mais altos do Mundo (per capita)!


O PIB dos Países com muitos muuuito ricos (mas tão pobres que nem Estado têm, quanto mais Social...) pode ser o PIB da Somália, do Peru, ou de Angola: lastimáveis...


Há uma lacuna grave na tua explicação, Helena: o Bill Gates cria empregos, sim, mas são os cem mil empregados dele que criam a riqueza.


"Sem o Bill Gates e outros como ele onde é que essas pessoas iam (...)"? Olha, criava-se muita riqueza per capita na ex-Checoslováquia comunista, na ex-Jugoslávia, ou na Hungria, ou na ex-RDA, especialmente em comparação com Países a abarrotar de empregadores com milhares de empregados, como no Portugal dos anos 30 e 40, na Cuba dos anos 50, na Nicarágua dos anos 60, na África do Sul dos anos 70, no Brasil e na Argentina dos anos 80, no Haiti dos anos 90, na Roménia e na Ucrânia da década passada (os exemplos são infindáveis...) e, por este andar, também na Grécia e em Portugal desta década, que já vai quase a meio e em três anos (desde 2009) a procura interna já caíu 36% em Portugal!...

Helena Araújo disse...

Podes definir "riqueza", para não andarmos às voltas?

Baltazar Garção disse...

Penso que falamos aqui de "riqueza" no sentido comum do termo, em termos económicos; grandeza habitualmente mensurável pelo PIB (ou o PNB, etc.).


Só uma pista:


http://www.ibge.gov.br/paisesat/main.php


Porque hoje já não disponho de mais "tempo de antena" (a família espera-me...)!