11 dezembro 2012
com o Wim Wenders e o João Canijo no cinema
Na sexta-feira passada o João Canijo apresentou o seu "Sangue do meu sangue" num festival de cinema berlinense, e eu - que já tinha ouvido falar muito nesse filme - aproveitei para o ver, toda contente (e a correr muito, que continuo com aquele problema de ohvidademilfacestransbordantesite).
Estava com fome, mas pareceu-me muito mal comer pipocas numa sala de cinema onde estavam o Wim Wenders e o João Canijo, e por isso comprei um Mars, paciência.
Sentei-me, abri o Mars, e daí a nada quase me ia engasgando no caramelo ao ouvir um típico restolhar de papel e pipocas. Era o Wim Wenders, a duas cadeiras de mim, com um pacotão. Ah, se ele é assim..., pensei eu, e fiquei vai não vai para me levantar e ir comprar um pacote do mesmo tamanho, mas entretanto o organizador do festival subiu ao palco, e começou por dizer que este é "provavelmente o último filme a ser financiado pelo Estado porque, devido à crise, o Governo simplesmente reduziu a zero todos estes financiamentos", depois chamou o Wim Wenders, que foi contar de como gostava imenso do "Jéon", e da sua curta participação no Lisbon Story, e de como tinha a certeza que o filme ia ser bom, embora ainda não o tivesse visto (não aproveitei a sua ausência para lhe roubar pipocas, e tão fácil teria sido...).
Ora bem: aquilo não é um filme para pipocas. É uma tareia.
No fim, agradeci ao João Canijo, enquanto pensava "és masoquista ou quê, minha? então agradeces a quem te bateu tanto?"
Seguiu-se uma longa conversa com o Wenders e o público. O realizador alemão estava muito impressionado com algumas passagens do filme, largou um "wow" lindo de se ouvir sobre o modo de filmar os passos da mãe no momento em que se afasta da filha, mencionou o requinte das cenas múltiplas no mesmo plano (também gostei imenso), falou do fim abrupto e da câmara a focar os prédios ("só agora reparei que são masculinos - impõem-se, dominam"). Perguntou se era mesmo preciso incluir o incesto, não tinha gostado desse excesso de melodramatismo. Pensei para comigo: Oh, homem!, vai ler o Eça. Depois dos Maias e da Rua das Flores, por menos que isso não se pode fazer. De facto, não percebo como é que o Wim Wenders queria fazer aquele filme, aquele filme sobre amor incondicional, sem o incesto como motivo. Então a mãe insurgia-se contra aquela relação apenas, sei lá, porque não gostava de ver a filha com um homem mais velho? Não dá, não resulta - não seria amor incondicional, seria manipulação. Mas o João Canijo, modesto, limitou-se a fazer um sorriso muito simpático. E continuou: falou do modo como o filme foi nascendo, e de como certas ideias - nomeadamente a central, de uma mãe que ama a filha tanto que, por amor, é capaz de arriscar perdê-la - só podiam ter vindo de uma mulher, uma das actrizes envolvidas. Os detalhes - por exemplo, os músicos que também são dealers ("a sério", ria-se o Canijo, e o Wenders acrescentava "é a beleza dos clichés: quase sempre funcionam muito bem"). Depois falaram do chefe dos dealers, "lembrava-me o Zidane", dizia o Wenders, "era-me muito simpático. Nas cenas finais, estive sempre à espera que ele dissesse que não era nada daquilo, que só estava a brincar" (eu também - hehehe, se agora estou telepática com o Wim Wenders, não percam o meu próximo filme, hihihi)
Depois falaram da versão completa do filme, de três horas, muito melhor mas infelizmente impossível de passar nos mercados. O Wenders encomendou logo ali a sua cópia, o Canijo disse que sim - há testemunhas.
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Uma amiga minha é vizinha do Wenders, e já por duas vezes esteve a ponto de ser atropelada por ele, que passa de bicicleta a pedalar furiosamente, com a cabeça provavelmente no próximo filme. Vou-lhe pedir que veja se arranja de à terceira ser de vez, e quando estiver toda esparramada no chão e o Wenders lhe disser "Oh, como lamento! Oh, estou inconsolável! Como pude eu fazer tal erro? Como poderei recompensá-la deste incómodo?" ela vai e responde "empreste aquele DVD do Sangue do meu Sangue à minha amiga Helena!" - e pronto, tudo se resolve a contento de todos.
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3 comentários:
Finalmente ficamos a conhecer a história completa. Eu já estava a aguar.
hahaha
(e não tarda nada conto tudo sobre Dresden! estou quase quase a recuperar o atraso. Depois disso, só me falta mesmo acabar a série "EUA 2009"...)
Questiono-me como é que alguém consegue comer a ver 'Sangue do meu sangue´...
Helena, talvez não valha a pena sujeitar a sua amiga a um atropelamento: em Portugal vende-se o dvd em edição especial, com versão curta, versão completa e outros extras, por cerca de €15...
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