(daqui)
Disseram-me recentemente que o processo pelo qual Relvas acedeu ao seu curso universitário é perfeitamente legal, que ele tem de facto a experiência profissional que justifica as equiparações, e que foi vítima de um bando de jornalistas que andavam a farejar por todos os lados, tentando arranjar o que dizer de mal sobre o governo em geral, e sobre o Relvas em particular.
Começando pelo fim, eu diria que mal vamos quando jornalismo de investigação é confundido com campanha antigovernamental. E pergunto-me se aquele jornalista que andou a investigar a permuta da casa de férias do Cavaco Silva corre o risco de ser acusado de alta traição. Alta traição, diria eu, é esse caso ser conhecido há anos e ainda não ter acontecido nada, excepto ter surgido uma nova expressão idiomática, "nascer duas vezes": um síndroma raro, que só podia ser português, e se revela numa certa maneira de estar na política que se pode resumir a "não é preciso que a mulher de César seja honesta, ou sequer que o pareça - basta que saiba encerrar os debates formulando axiomas a respeito de si própria".
Diria também que uma coisa é ter muita prática na área da Teoria dos Jogos, e outra é confrontar-se arduamente com a Filosofia Política. Um curso universitário não se pode limitar à prática de jogos palacianos, jogos de cintura e jogos de interesses, é sobretudo ler e pensar sobre esses e outros temas (sobretudo os outros temas), mergulhar em profundidade nas teorias, aventurar-se no mundo das ideias. Exige-se à Universidade que saiba distinguir entre a via académica e a via profissionalizante, de cariz mais prático - e se não souber, pergunte ao Crato, que ainda agora veio à Alemanha aprender a diferença.
E diria ainda que o carácter e a ética de uma pessoa se medem pela distância que existe entre os seus actos e aquilo que é legalmente possível.
2 comentários:
Gostei tanto deste post, e a última frase é lapidar. O que aconteceu com o Relvas é um enxovalho a qualquer pessoa que tenha trabalhado para conseguir o canudo, e mais não digo, ainda bem que ainda temos uma imprensa que investiga e esmiuça.
Izzie, a última frase era o meu ponto de partida para este post. Deixei-a para o fim, por a achar realmente importante. Passo a vida a ter de fazer escolhas entre o que podia legalmente fazer e o que a minha consciência (essa chata...) permite.
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