23 outubro 2012
o Álvaro tinha razão!
Ontem, nos Diálogos Económicos do festival Berlinda, na representação de Baden-Württemberg, serviram pastéis da nata. Estavam deliciosos, os melhores que comi em Berlim. O cozinheiro andava por ali, e dei-lhe os parabéns. É alemão, e cozinha no Hotel Sana. Se for tão bom para o resto como é para os pastéis, acabou de ganhar uma cliente regular para o restaurante Nau. (Bom, "cliente regular" é como quem diz: depende da regularidade com que eu conseguir assaltar as caixas automáticas...)
As travessas dos pastéis pareciam aquela cena do maná no deserto: não acabavam nunca. De modo que eu olhei em volta para me certificar que nenhuma câmara de segurança estava por ali a cuscar-me, e disfarçadamente meti dois pastelitos na carteira para levar aos meus rapazes. Quase ninguém viu. E como os pastéis não paravam de brotar das travessas, daí a bocadinho tirei mais dois (é o nosso segredinho, está bem?).
Esta manhã cruzei-me com a vizinha no elevador, e contei-lhe que ando muito atrapalhada com dores musculares nas costas, e tenho de ir urgentemente a um fisioterapeuta. Ela, que é homeopata, ofereceu-se logo ali para me espetar umas agulhitas para aliviar a dor. Daqui a nada vou a casa dela, e levo-lhe o último pastel de nata.
Portanto: o Álvaro tinha toda a razão, uma razão de visionário, e só falhou por defeito. Ó pra isto: a partir do know-how português (a receita), eu arranjei de pôr um alemão a trabalhar para pagar a uma alemã que vai trabalhar para mim. The pastéis de nata rule the world!
***
Para quem não acredita em milagres, e prefere o árduo caminho da realidade, o encontro de empresários que a Berlinda organizou, em colaboração com a aicep e a embaixada de Portugal, foi um bom passo para mostrar alguns projectos que revelam as potencialidades de Portugal e dos portugueses, e para criar uma plataforma de networking entre empresários e interessados.
No fim das palestras houve um espaço informal de troca de ideias e experiências, e, pelo modo como os pastéis não desapareciam das travessas, parece-me que as conversas foram mesmo boas.
Falei com uma advogada especializada em IT internacional, que trabalha em colaboração com um escritório de advocacia em Portugal. Ela comentou que é uma pena os portugueses não falarem alemão, porque são extraordinariamente bons na área de IT, mas concorrem em inglês a projectos na Alemanha, e só por isso já ficam relegados para segundo plano.
Gostei de um detalhe a que assisti, no fim do encontro: o anfitrião, um responsável da representação de Baden-Württemberg, falava com uma das organizadoras, perguntava se tudo tinha corrido bem, e oferecia aquele espaço para outros encontros no futuro. Para ele será talvez uma coisa pequenina e banal, para mim foi um gesto de abertura e boa vontade que me sensibilizou.
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6 comentários:
Assumindo desde já a minha ignorância, o que é IT?
(acho mal, terem dado a receita a um alemão. já têm mão para a doçaria, se nos ficam com o pastel é que não o conseguimos exportar ;P)
O último parágrafo lembra-me mais uma vez como em Berlim tudo acontece com naturalidade e simplicidade, ao contrário de outras cidades que conheço muito bem (ahem). A história da Biblioteca, a história da régie da Filarmonia, etc.
E o jeito que tens para o negócio?
Eu compreendo que recusarem quem não fala alemão é uma forma de garantir que os empregos qualificados ficam para os alemães (digo eu que seja esta a ideia) e percebo também as bases que sustentam essa forma de estar (tamanho físico, económico e populacional da Alemanha), mas continua a fazer-me impressão. É por aceitarem o Inglês como o fazem que os holandeses têm o país cheio de estrangeiros e que as grandes empresas internacionais - nomeadamente de IT - lá estão todas. É que aprender alemão sem frequentar a escola alemã ou sem ter a possibilidade de ir à Alemanha regularmente praticar é quase impossível!
IT é tecnologias da informação. Usei a expressão pensando no Multibanco, na Via Verde, nos milhentos apps para telemóveis...
Talvez não seja a mais correcta.
Quanto à receita: achas que seja de processar a Maria de Lurdes Modesto? ;-)
Paulo, pois é. Já me tem acontecido muitas vezes. E se te contasse certas peripécias para entrar na cúpula do Reichstag...
Goldfish,
achas mesmo que os alemães têm estratégias dessas para ficarem com os melhores empregos? Eu penso que é simplesmente um comodismo que resulta da dimensão. Se há quem ofereça o que eu quero em alemão, porque é que tenho de me dar ao trabalho de falar estrangeiro?
Mas pergunto-me porque é que os portugueses não conseguiram vender a Via Verde aos alemães, e estes andaram anos a inventar (para a portagem dos camiões) o que já estava inventado.
Quanto às empresas que estão na Holanda: às tantas, é devido à taxa baixa de impostos que elas lá foram parar, e não devido aos holandeses falarem tão bem inglês...
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