(daqui)
A sorte: cheguei atrasada e sem bilhete, porque me tinha demorado no Hackescher Markt com uns palhaços acrobatas e os sem-abrigo que participavam alegremente na performance (Berlim!). A três minutos do início do concerto, um vendedor na rua perguntou-me se queria um bilhete na segunda fila, por metade do preço. O bilhete tinha marcado "preço: 0", mas ele dizia que eram quarenta.
- Por metade, não, que eu não tencionava gastar tanto.
- Quanto queria gastar?
- Beeem... dez euros.
Dez euros. Abençoadas aulas de regateio que a minha irmã me dava na feira de Barcelos.
(Mas gostava de saber onde é que ele foi buscar bilhetes na segunda fila a zero euros...)
A beleza: o Heath Quartett com Michael Collins e o seu clarinete. Dois quintetos para clarinete de que gosto imenso - o "Stadler", de Mozart, e o *depois vejo que superlativos posso usar aqui para dizer que é uma peça que dá vontade de uivar à lua* quinteto em si menor para cordas e clarinete de Brahms.
O quarteto de cordas era muito bom - houve passagens do Mozart em que me perguntei se teriam realmente pautas, ou se estariam a ver imagens felizes, porque os instrumentos conversavam uns com os outros com tal leveza, transcendência e bom humor, que não era possível estarem a ler aquela música a partir de códigos sobre cinco linhas: claves, compassos, mínimas, semínimas, trilos e pausas.
E Michael Collins, um dia que o apanhe a jeito, hei-de perguntar-lhe que truque tem para tocar aquelas frases de um lirismo sublime sem parar para respirar. Terá uma bomba de oxigénio disfarçada sob o fato?
A época começou bem, e continuará melhor. Amanhã é a Carmen no lago Wannsee, na próxima semana regresso à Filarmonia. Só é pena não terem inventado ainda um esticador de dias, bom jeito me faria.
2 comentários:
brahms tem sempre esse efeito :)
hehehe,
que lindo dueto faríamos!
:-)
Enviar um comentário