Começámos na Gemäldegalerie. Do muito que contou, retive especialmente os motivos das anatomias femininas de Lukas Cranach o velho.
Esse espertalhão, dizia, decidiu começar a pintar as mulheres nuas. Para não parecer o que era, e que ele bem sublinhava pela posição corporal dinâmica e dengosa (ela própria oscilava o corpo em sss graciosos, os malandros do grupo riam e incitavam "encore! encore!"), retirava-lhe as capilaridades - excepto na cabeça - e pespegava-lhe um cupido de outro reino.
(daqui)
Mas porquê estas proporções anatómicas? Como se terá ele lembrado de representar a mulher não como ela era, mas com um peito tão minúsculo e as ancas assim desenvolvidas?
Porque a Itália estava muito longe, e era difícil ter acesso aos exemplos romanos de representação do feminino; porque a estética é sempre uma construção, e as alterações dão-se em saltos relativamente pequenos; porque ele se limitou a desenhar nu o corpo que corresponderia aos vestidos que na época se pintavam.
Porque a Itália estava muito longe, e era difícil ter acesso aos exemplos romanos de representação do feminino; porque a estética é sempre uma construção, e as alterações dão-se em saltos relativamente pequenos; porque ele se limitou a desenhar nu o corpo que corresponderia aos vestidos que na época se pintavam.
De Picasso para Rothko - agora sei a chave para abrir aquele quadro vermelho que está na Neue Nationalgalerie. A chave não abre o quadro, abre-me a mim. Já não estamos na Idade Média, quando os quadros tinham funções pedagógicas e informativas. A arte contemporânea pede de nós mais do que ser meros alunos aplicados tentando apreender o saber debitado pelo professor.
(daqui)
O museu seguinte era o Hamburger Bahnhof, o de arte contemporânea. Não pude participar nessa parte porque meti umas horas de licença de maternidade para ir assistir à entrega dos diplomas de Abi do ano da Christina. Mas não perco pela demora: a expert parisiense gostou do modo como apresentei a cidade, e vai contactar-me quando trouxer a Berlim outros grupos. Mais uns vinte anitos, e vou ficar uma especialista em arte europeia explicada num excelente francês.
Também nos levou ao memorial do Holocausto. Ela explicou: aqui não há lugar para o patético. É um memorial completamente despojado, onde se evoca a História sem adereços que nos reenviem para os caminhos já percorridos. Este despojamento é algo típico dos berlinenses, e torna a cidade revitalizante. “Reenergizante”, dizia ela.
Lembrei-me então do que o Gonçalo M Tavares disse na apresentação do seu livro "Jerusalém":
- Escrever é cortar, cortar, cortar.Amanhã vou para Portugal. Na quinta-feira procurarei nas livrarias de Viana do Castelo alguns dos seus livros. Talvez encontre neles um vermelho de Rothko.
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