Carlos,
Obrigada pela sugestão para o concerto com a Ewa Podles! Foi ontem, na Filarmonia. Cantou apenas uma ária (a que começa neste vídeo no 27º minuto), e deixou toda a sala rendida. A sua voz, quase masculina, começou por me surpreender, para logo a seguir me encantar: que modulação! E que impressionante interpretação da mulher que procura o seu noivo no campo da batalha. Mais que uma mulher, parecia que daquele chão se levantava toda a terra russa em busca do seu jovem noivo.
Na cadeira ao meu lado, um russo chorava. No fim, pediu-me o programa, perguntou-me quem era a cantora. "Ewa Podles?! Polaca?!" - estava para lá de tudo, incapaz de apreender mais do que o milagre daquela voz. "Mas que voz!", repetia ele uma e outra vez. Mesmo depois do intervalo, ao sentar-se, de novo: "mas que voz!"
Assustou-me ver a dificuldade com que se move. Subiu os degraus do palco lenta e pesadamente, muito a custo. No fim, quando voltou à sala, já não subiu ao palco. Que se passará com ela?
Paulo,
o Eisenstein persegue-me (e eu gosto): depois do Outubro, com o Frank Strobel e a Rundfunk-Sinfonieorchester Berlin, no Friedrichstadtpalast, ouvi ontem a música que Prokofjew fez para o "Alexander Newski", de 1938, com a Deutsches Sinfonie Orchester Berlin e o seu novo maestro, Tugan Sokhiev. Por vezes fechava os olhos e imaginava como seriam as cenas de Eisenstein em diálogo com esta música. Mas o mais curioso foi sentir a xenofobia e o nacionalismo a atravessar descaradamente as frases musicais: a dureza dos sons dos alemães, o lirismo dos russos. Por esses dias, o Estaline já não estava muito virado para a Internacional...
Depois do intervalo tocaram a quarta sinfonia do Schostakowitsch. Comecei a olhar para a porta, ali tão perto, tão tentadora. Lia no programa que o seu autor terá dito "Não fujo às dificuldades. Pode ser mais cómodo e seguro avançar por caminhos já feitos, mas é maçador, desinteressante e inútil", e lamentava que ele tivesse escolhido ir a corta-mato. Mais à frente lia sobre a opção de uma orquestra gigantesca, embora desnecessária, tentava perceber do que ouvia o que era gigantesco, e porquê desnecessário, lembrava a crítica do Karajan (tu sabes, daquela conversa no bar dos artistas), que dizia que os programas deviam ser abolidos, porque as pessoas se põem a ler aqueles disparates em vez de ouvir, e se lêem que no terceiro andamento há um rufar dos tímbales ficam o tempo todo à espera do rufar dos tímbales e no fim é o que levam desse concerto: um rufar dos tímbales no terceiro andamento.
Mas fiquei até ao fim, e ainda bem que fiquei: gostei muito do segundo andamento, e daquela marcha fúnebre no início do terceiro, cujo tema vai passeando pelos vários naipes.
No programa tinham também uma imagem da montagem vertical de uma sequência: tom e imagem. Por sorte encontrei algo semelhante na internet:
(daqui)
Agora estou a pensar se vou ouvir o Thielemann no próximo domingo, ou se compro por 10 euros 24 horas no Digital Concert Hall e ouço a transmissão directa em casa, e aproveito para vasculhar mais um bocadinho naquele arquivo.
7 comentários:
Ewa Podles é extraordinária. Ouvi-a há muitos anos no Palácio de Queluz, durante o Festival de Música da Costa do Estoril(?). Que voz! Inesquecível.
Olha o Alexander Nevsky todo.
Ah, o som é um bocado mau.
Obrigada, Paulo!
Este filme, a orquestra e os cantores de ontem, e mais os compinchas tal como da outra vez, no Friedrichstadtpalast, ah, isso é que era!
Pois era. Também já tinha pensado nisso. Não sei se existe alguma cópia restaurada, mas há um estúdio em Munique que faz milagres.
Helena, ainda bem que gostou. É, de facto, uma cantora maravilhosa. A primeira vez que a escutei foi num disco de árias de Rossini para Contralto. Depois, rendido, adquiri tudo o que consegui.
Quanto às dificuldades de locomoção que refere, espero que seja algo passageiro...
Helena, já agora, escute isto: http://www.youtube.com/watch?v=qAueXMs29IM
Até fico arrepiado!
Eu adorava ouvir a Ewa Podles ao vivo! Tem de facto uma voz extraordinária.
Enviar um comentário