Esta manhã, avançava eu cuidadosamente pela rua traiçoeira de gelo, quando me cruzei com a vizinha coreana que mora no rés-do-chão.
- Hoje agasalhou-se muito bonita, disse ela, e eu fiz-lhe um sorriso friorento, por causa das pernas de fora entre o casaco curto e as botas.
- E como vão as coisas na Bulgária?, perguntou. Ouvi dizer que estão mesmo mal.
- Na Bulgária, não sei. Será que se refere a Portugal? Estão mal, estão. Isto vem por aí uma crise que ainda vai arrastar também a Alemanha.
- Na Grécia, disse ela, as coisas estão de tal maneira que uma amiga me contou que já não há nada para comprar. Ninguém dá crédito às empresas, estas não podem funcionar, o mercado está a esvaziar-se. A sorte da minha amiga é que tem um terreno onde vai cultivando aquilo de que precisa para comer, eu até já lhe disse que fosse ao mercado trocar o que tem a mais por outras coisas de que precise.
- E isso no século XXI, comentei eu.
- É o fim do mundo, respondeu ela. E fez-me uma piscadela de olho.
2 comentários:
Tanto que as pessoas falam no tal terreninho para cultivar as refeições diárias que um dia... lá terá de ser. Na maioria dos dias acho que não chegaremos a isso, em outros... perde-se um pouco a esperança num mundo melhor. Ou será o tal terreninho o inicio dum mundo melhor?
Eu começo a pensar se é boa ideia vender uma leira que tenho lá na terrinha...
Em princípio, cultivar os seus próprios legumes não tem nada de mal. O problema é se caminhamos na direcção do "enquanto tiver umas couves e umas batatas para fazer a sopinha, não passo fome".
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