No verão de 2009 atravessei uns EUA em grave crise económica. As revistas patetas que gosto de comprar quando lá estou (a Oprah, a Real Simple e - não me atirem tomates podres, por favor, que uma mulher não é de ferro e às vezes a futilidade ataca com força - a Martha Stewart) estavam cheias de artigos e testemunhos sobre como enfrentar a crise (a Martha Stewart a falar da crise é muito engraçada, hei-de ver se encontro essas revistas para contar depois aqui).
Julgo que foi na Real Simple que li o texto de uma jornalista freelancer de Nova Iorque, contando como tinha atravessado a insegurança desse inverno com a sua filhinha de sete ou oito anos. No apartamento gelado, a barriga a dar horas de fome, embrulhavam-se em cobertores e liam os livros da Laura Ingalls (lembram-se de "uma casa na pradaria"?), o que as ajudou a relativizar as suas próprias dificuldades e a ter esperança que a situação delas ia melhorar.
Ontem, quando estava a escolher cartas dos miúdos italianos ao Pai Natal, lembrei-me disso. Algumas delas dão sinais de um sofrimento tão insuportável que me faz sentir um certo pudor de me queixar dos meus dói-dóis.
Isto é apenas um desabafo. De modo algum um apelo a que nos acomodemos caladinhos na "porca miseria" só porque outros estão ainda pior. O mundo é para mudar por inteiro para melhor, e não para nos deixarmos ficar apaziguados pelo azar maior de outros.
2 comentários:
Querida Helena,
O teu texto lembrou-me esta iniciativa da Corrente de Sorrisos (http://www.correntedesorrisos.blogspot.com/). Imagina a carta de um destes pais "Querido Pai Natal, por favor por favor por favor traz saúde ao meu menino, se quiseres até pode vir sem laço ou sem papel de embrulho, o que importa é que chegue..." (eu sei, isto vem deslocado). Enfim... Fazer sorrir, dar a mão, afagar uma bochecha, isso sim é Natal.
Um sorriso!
é isso mesmo, Maria Bê. A gente às vezes distrai-se do essencial.
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