"...
Porém o tempo crescia.
E Gaspar escutava o crescer do tempo... E debruçado sobre o tempo Gaspar pensava: «Que pode crescer dentro do tempo senão a justiça?»
Ajoelhado no terraço Gaspar olhava o céu da noite. Olhava a alta e vasta abóbada nocturna, escura e luminosa, que simultaneamente mostrava e escondia.
E disse:
- Senhor, como estás longe e oculto e presente! Oiço apenas o ressoar do teu silêncio que avança para mim e a minha vida apenas toca a franja límpida da tua ausência. Fito em meu redor a solenidade das coisas como quem tenta decifrar uma escrita difícil. Mas és tu que me lês e me conheces. Faz que nada do meu ser se esconda. Chama à tua claridade a totalidade do meu ser para que o meu pensamento se torne transparente e possa escutar a palavra que desde sempre me dizes.
Primeiro pareceu a Gaspar que a estrela era uma palavra, uma palavra de repente dita na muda atenção do céu...
E foi para seguir essa estrela que Gaspar abandonou o seu palácio".
Que bela oração de Advento. Que liberdade para caminhar.
***
Encontrado no mural de um amigo, no facebook. Texto de Sophia de Melo Breyner, do conto "Os Três Reis do Oriente".
Sempre que leio textos como este lembro-me de alguns amigos ateus ou agnósticos, que acham que eu, como católica, tenho todas as respostas já pré-cozinhadas. Mal sabem eles deste tactear tocando a franja límpida de uma ausência.
Sem comentários:
Enviar um comentário