Nos seus livros, Kaminer conta histórias que se passaram com ele, com os seus amigos, com os seus conhecidos. Ele faz a distinção claramente: Andrej, o meu amigo; Thomas, um conhecido.
Na Alemanha, amigos, só se tem dois ou três - os mais sortudos chegam talvez aos quatro ou aos cinco. Os outros são conhecidos, vizinhos, colegas de trabalho, pais da escola.
Em Portugal diz-se muito facilmente amigo. Quando cheguei à Alemanha, toda a gente se impressionava com as dezenas de amigos que eu tinha.
E agora: em português, o Thomas é amigo ou conhecido do Kaminer?
É sobretudo uma questão retórica, não se preocupem a responder como se o futuro da tradução mundial dependesse disto. Queria apenas fazer um apontamento sobre a dificuldade na tradução de culturas, que é muito mais que a tradução de palavras e ideias.
Um exemplo bem mais interessante é o da tradução do Antigo Testamento para o grego: como adaptar o universo e o imaginário de um povo nómada ao de um povo urbano?
E é para não falar numa tradução do Evangelho para inglês, na Idade Média, que há anos me passou pelas mãos: o conteúdo foi adaptado ao local e à época. Assim tipo: Jesus feito rei Artur e os discípulos feitos cavaleiros da távola redonda.
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