A ver se consigo contar isto em duas palavras:
(ahem, não consigo, vão ser algumas mais)
Com as manifestações de segunda-feira em Leipzig, e com a famosa manifestação dos 900 mil em Berlim, o regime da RDA descobriu que se estava a desmoronar inexoravelmente, e tentou reagir com um regulamento para saídas definitivas do país, que logo um grupo alargou para incluir as simples viagens ao exterior. As coisas aconteceram muito depressa, a mão direita do Politbüro não sabia o que é que a mão esquerda do mesmo andava a fazer, e o pobre do Günter Schabowski, responsável pelas conferências de imprensa, caiu naquela trapalhada tarde e a más horas, recebeu o documento alterado sem a indicação do que se tinha falado antes e de que essas informações só eram para passar no dia seguinte, para dar tempo de avisar os guardas das fronteiras.
De modo que foi muito mal preparado para a conferência de imprensa, e foi a cena gaga que se viu (a partir do 25º segundo) e daí a nada os telejornais da Alemanha ocidental estavam a dar a notícia na RDA (ah, pois), as pessoas estavam a sair para as passagens do muro, os guardas olhavam para aquela multidão atarantados, pensando como haviam de fazer a vida negra a tanta gente ao mesmo tempo (chegaram a aventar rasgar-lhes os passaportes, e assim), nos EUA falava-se de astonishing things happening e depois o muro caiu.
E eu sentada no sofá dos pais do Joachim, e eles sentados ao meu lado: a chorar, de mão dada.
De onde se prova que o que fez avançar a História nesse dia foi - curiosamente - a falta de eficiência alemã.
Se isto não é um sinal importante - e até um trunfo de argumentação - para os países do Sul, que diz que não se organizam e são calaceiros e tal...
6 comentários:
mt obg, nao me lembrava (será que de todo me apercebi?) deste episodio!
realmente, helena, realmente... tem mt razao no teu comentário provocatório. mas, verdade verdadinha, qd os povos se levantam, os ditadores ficam sempre bastante atarantados. é mm por isso que são derrubados.
O muro caía de uma maneira ou outra, se não fosse no dia 9 era no dia 10 ou 11. Eu até preferia, para o feriado nacional alemão ser o 10 ou 11 de Novembro.
O 9 não pode ser, por causa da Reichtskristallnacht.
Mas aquela cena é muito engraçada: ele estava literalmente aos papéis.
(agora: eu estava a brincar! não esperava que me dessem razão.)
mas eu dou-ta contra a tua vontade :D é uma provocaçao deliciosa.
(eu sei, todos nós sabemos, que nao era uma questao de 'se', mas de 'quando'. como disse: quando os povos se levantam...)
vou dormir, acho que estou a ficar doente. bjs
eu tinha 16 anos e vivi tudo muito intensamente
e senti-me afortunada por poder assistir àquilo no meu tempo de vida*
fui comprar jornais para guardar, um dia seriam uma relíquia... obviamente que não sei onde param ou sequer se ainda existem :/
* sempre tive uma certa inveja de quem pôde viver alguns momentos, dos quais o 25 de Abril é aquele de que tenho mais inveja, peço à minha tia constantemente para me contar tudo sobre como foi o dia dela
Gosto que tenha sido assim, mas também teria graça o feriado alemão calhar no dia de São Martinho.
São Martinho? Aquele que dava tudo aos pobres? Muito simbólico, sim senhor...
;-)
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