20 setembro 2011

diversidade

O sábado estava lindo, transformado por uma luz que já anuncia o Outono, e decidimos aproveitar os últimos cartuchos do bom tempo para dar uma grande volta de barco. Saída na Friedrichstrasse, atravessando a Mitte:


A esplanada em frente ao Bode Museum estava animada, como de costume nestes dias de verão, com música e pares a dançar tango. Ou salsa?



No lugar onde dantes estava o Palácio da República há agora um descampado, e este "diamante" provisório, para informar sobre o megaprojecto da construção de uma cópia do antigo palácio do Kaiser e para recolher alguns fundos. No edifício da esquerda vê-se a única varanda que sobrou do palácio - não foi destruída em homenagem a Karl Liebknecht, que dali proclamou a sua república. E no paredão do rio lê-se: "democracia autêntica já!", "sapere aude!" e "indignai-vos!"

Continuámos em direcção ao sul: Friedrichshain e Treptow - bem dentro de Berlim Leste.
O barco vai deslizando silenciosamente pelo meio dos contrastes: ora extraordinárias obras de arquitectura e engenharia, ora vestígios de outros tempos e mundos, aqui e além barracões industriais convertidos em bar e centro cultural, tudo isso entremeado de graffiti bem-humorados. 









Meia volta, passagem de novo pela Friedrichstrasse, rumo a Berlim Ocidental.
Outra vez o diamante, agora iluminado (acho que vou sentir a sua falta quando o destruírem para construir aquele pastiche de palácio):


E o edifício dos grupos parlamentares, junto ao Reichstag:


Em Charlottenburg, o nosso bairro, a paisagem (vista quase às escuras) era muito mais homogénea e ordenada. Boring.
Por momentos pensei que seria bem mais interessante morar lá para os lados de Mitte, ou até na península de Stralau, tão linda e tão central, onde estão a construir inúmeras casas modernas. Mas depois lembrei-me da vizinha da frente, e de como nos vem trazer sumo quente de sabugueiro quando algum de nós tem gripe, lembrei a resposta que me deu quando lhe perguntei onde deixava os filhos durante os quatro dias em que saía de férias com as amigas ("vagou uma cave na Áustria", disse ela com uma piscadela de olhos). E pensei nos vizinhos do segundo andar, os que fizeram questão de pôr em frente à nossa porta uma pedra com o nome da mulher que aqui viveu nos anos 40, e daqui foi arrancada para ir ser assassinada em Auschwitz. Durante o verão tiveram uma conta bancária aberta para recolher fundos para pôr mais pedras dessas na nossa rua (são trinta nomes, trinta judeus que foram levados desta rua minúscula para os campos de concentração). Espalharam papéis por todos os prédios, explicando ao que iam e o número da conta. Agora há uma folha nova na entrada do nosso prédio: informam que receberam 1800 euros, podem encomendar metade dos memoriais devidos por esta rua. Eu leio, e pasmo de admiração por tudo: pela iniciativa, e pela resposta que os outros moradores deram.

Em suma: Mitte e Pankow são bairros animados e dinâmicos e tal, mas as pessoas do meu prédio e da minha rua não estão nada mal. Fico por cá.

7 comentários:

cjs disse...

O que tu queres sei eu! :-)

Grunewald

Helena Araújo disse...

estou tramada com estes leitores que me desmascaram ao primeiro post!
;-)

sem-se-ver disse...

que bicho é aquele da/na 4ª fotografia? :|

sem-se-ver disse...

(7ª; 4ª daquela série)

Helena Araújo disse...

É um hotel junto ao Spree. Vou fazer um post com fotografias onde se vê melhor.

Helena Araújo disse...

Não, afinal mudei de ideias. Em vez de fazer um post com mais do mesmo, olha aqui:

http://www.google.com/search?q=hotel+nhow+berlin&oe=utf-8&rls=org.mozilla:de:official&client=firefox-a&um=1&ie=UTF-8&tbm=isch&source=og&sa=N&hl=en&tab=wi&biw=1920&bih=871

sem-se-ver disse...

ok, eu vou ver, mas só para me desgostar logo pela manha!