14 agosto 2011

13.08.1961 - 13.08.2011 (8)




Um dos elementos centrais deste cinquentenário, na Bernauer Straße, foi a conversa com testemunhas da época. Na primeira dessas conversas juntaram um habitante de Berlim ocidental, uma pessoa que ficou em Berlim leste e duas que fugiram.

O de Berlim ocidental contou como a sua rua, directamente na fronteira, se tornou cada vez mais silenciosa - o fim do mundo.

Um dos que fugiu contou a aventura desse dia: a 13 de Agosto de 1961 tinha 17 anos, durante várias horas procurou com a mãe um ponto por onde escapar, e foram visitar um pastor protestante, a quem a mãe queria pedir opinião. Este sentiu-se muito desconfortável com a questão, e desconversou, "que não se preocupe, que as coisas vão melhorar". A mãe agradeceu, e mal se apanhou na rua decidiu: "hoje, ou nunca!" Esperaram pela noite no sotão de uma casa contígua ao cemitério que ficava na fronteira. Quando tentaram fugir, deram-se conta de que havia um desnível de mais de cinco metros. Por sorte havia uma ruína de guerra sobre a qual puderam avançar, na direcção de uma árvore que lhes permitiu a descida. No cemitério não havia soldados ("o regime respeitou bastante os espaços da Igreja", comentou ele, e lembrei-me de episódios semelhantes, por exemplo quando nas manifestações de 1989 em Leipzig as pessoas se refugiavam em casas da Igreja para fugir à Polícia) e eles foram avançando às escuras, até que avistaram ao longe um cartaz publicitário e concluíram que iam na direcção certa. No fim da conversa, ofereceram-lhe uma cópia desse cartaz feito bússola.


O que não fugiu contou as dificuldades diárias: tudo aquilo que era elemento central da sua vida de rapazinho (a escola, os amigos, o cinema do bairro) ficou inacessível, do lado de lá do muro. A princípio não levaram isso muito a sério - era a terceira vez que os acessos a Berlim ocidental eram vedados. E como viviam na Bernauer Straße, o acesso à casa fazia-se pela parte ocidental da cidade, na zona de ocupação francesa. Mostrando os documentos de moradores, os polícias deixavam-nos sair do leste para poderem entrar na sua casa (que ficava também no leste). Maior foi o choque quando descobriram que o muro viera para ficar, e para lhes mudar irreversivelmente a vida.

 


A segunda fugitiva apontou para a fotografia atrás de si, e contou: olhem, esta sou eu, tinha 16 anos. Ao almoço os meus pais disseram que fugiríamos daí a duas horas, e que durante esse tempo devíamos embalar tudo aquilo que nos fosse suficientemente importante para levar. Quando estávamos prontos, o meu pai começou a passar-nos as coisas pela janela, e nós corríamos de um lado para o outro da rua, para pôr tudo a salvo. Dois homens que passavam de bicicleta começaram a ajudar-nos. O meu pai estava de cabeça perdida: chegou a trazer à janela um prato de vidro cheio de fruta. A minha mãe ralhou, "para que precisamos nós disso?" e ele levou o prato para a cozinha. Trouxemos muitas coisas, até o meu porquinho da Índia e o periquito. Foi o único pássaro que fugiu para a liberdade dentro de uma gaiola.

O público, que ouvia atento e consternado, desatou a rir.
 


Mais tarde, vê-la-ia de novo falando com outras pessoas, sobre as fundações de uma das casas derrubadas, com a célebre fotografia na mão.




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