Ontem escrevi sobre a denúncia apresentada contra as três agências de rating. A seguir transcrevo uma síntese de esclarecimento, publicada no blogue A Areia dos Dias por Manuela Silva, e passo, a exemplo da sem-se-ver, o link para um artigo de Robert Fishman no New York Times que questiona a acção dos mercados (aqui o original em inglês, aqui a notícia em português)
À falta de fotografia para o cartaz "Wanted", recorro a este excelente retrato robot pela pena do José Bandeira.
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Foi ontem entregue na Procuradoria Geral da República uma denúncia do comportamento das três maiores agências de rating em relação às suas notações relativamente ao Estado português e aos bancos sediados em território nacional.
Causou surpresa o facto de, em poucos dias, as referidas agências terem baixado as suas notações sem que se conheçam os fundamentos com que o fizeram. O Presidente da República chegou a dizer que tais notações revelavam um enorme exagero na avaliação do risco de crédito.
Nem a crise política, normal em democracia, nem a evolução da capacidade produtiva do País, que não se altera em 24 ou 48 horas, justificam os cortes drásticos recentemente verificados. Há, pois, que procurar outras causas e ver o que está por detrás destes comportamentos.
Três razões objectivas justificam dúvidas: o elevado grau de concentração das três maiores agências de rating, todas americanas e que, no conjunto, detêm mais de 90% do seu respectivo mercado; a possível conflitualidade de interesses, devida à presença de empresas de gestão de fundos na estrutura do capital accionista em duas dessas empresas de rating (num caso, em posição de accionista maioritário) e a falta de transparência por ocultação de critérios em que se baseiam as notações.
Podemos perguntar: a quem aproveita a severidade nos ratings da dívida da República e dos bancos portugueses? A resposta é simples: em primeiro lugar, serve os interesses dos especuladores que vêem as suas possibilidades de lucro aumentadas pelo simples facto da subida dos juros; serve também a uma estratégia de enfraquecimento do euro face ao dólar ou mesmo ao propósito de ressuscitar a moeda americana como único meio de pagamento internacional, conveniente, entre outras razões, para fazer face à elevada dívida pública americana contraída no exterior.
O mais grave é que estes ratings têm efeitos devastadores sobre o acesso ao crédito por parte das pessoas, do Estado e das empresas do nosso País e constituem também uma rampa de lançamento para justificar políticas de austeridade que impedem um desenvolvimento humano sustentável.
Para saber mais consulte http://www.peticaopublica.com/?pi=denuncia. Se concordar pode dar o seu apoio, subscrevendo esta acção.
8 comentários:
Helena,
Neste momento os certificados de tesouro pagam 7,1% a 10 anos. Apesar da adesão ter sido significativa no final do ano há imensa gente em PT que nao se atreve a colocar lá um unico tostão? Veja a caixa de comentário no artigo sobre CA, ou tente "vender" o produto a alguém que conheça.Porque? Porque desconfiam que nao vao reaver o dinheiro de volta, porque simplesmente nao confiam neste governo. E nao me venham dizer que este comportamento é devido às agencia de rating. Conhecem melhor que ninguém o pais onde vivem.
Porque continuam a agravar? Porque não temos qualquer credibilidade, e o cortes que apresentamos nao passam de aspirinas para aliviar o momento.
Pessoalmente espero que o meu banco penalize (na devida proporçao) quem peça crédito e apresente um comportamento que coloque em causa o pagamento dese mesmo empréstimo. Porque se no final o mau pagador nao pagar, pago eu!
Nao quero ser mal educado e vir a sua "casa" barafustar cada vez que fala em agencia de rating, por iso prometo que é o ultimo comentário.
Ainda sobre os CA. Sabia que o nosso governo prefere pagar taxas imensamente maiores aos credores externos que aos portugueses? Dizem eles que os mercados estao disfuncionais. Infelizmente nao sao só os mercados acrescento eu...
Nao entendo como isso já nao indigna ninguem.
Para finalizar. Iniciativas como esta nao nos levam a lado nenhum por variadissimas razões mas para mim a pior de todas afasta a conversa que ninguém parece querer ter, que é como pomos POrtugal a andar para frente e criar riqueza.
A ideia que estamo destinados á grandeza, mas nao atingimos porque há uma conipiraçao capitalita para nos lixar a todos é um lugar muito confortável e cada vez mais impregnada em Portugal.
Guilherme,
o que é esse CA de que está a falar?
E pode explicar melhor essa história de o nosso governo preferir pagar taxas imensamente maiores aos credores externos que aos portugueses?
Quanto à falta de confiança dos portugueses: seria interessante comparar a evolução das compras de títulos da dívida pública no mercado interno e o comportamento das agências de rating. Tomando em consideração pelo menos mais este factor: quando o governo anuncia pacotes de austeridade os indivíduos enchem-se de medo da recessão, e alteram os seus comportamentos de consumo, poupança e aplicação de poupança.
Disparate meu. CT - certificados de tesouro, CA - Certificado de aforro.
Queria dizer CT. Os CA foram outra vergonha deste Governo, penalizando os pequenos aforradores e matando esta forma de financiamento e instrumento de poupança. Mudaram as regra a meio do jogo e os prémios de permanencia sao uma vergonha. O que vale é que nao precisamos de dinheiro.
Quanto á segunda pergunta. Hoje etamos assim:
A “yield” da dívida portuguesa a cinco anos sobe 21,5 pontos base para 10.465%. A taxa de juro dos títulos com maturidade de dois anos sobe 27,9 pontos base para 9,33% e continua acima dos juros que os investidores exigem pelas obrigações a 10 anos, que avançam 14,1 pontos base para 8,884%
fonte:
http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=479431
Para as subscrições de certificados do Tesouro em Abril de 2011 a:
Taxa ilíquida dos juros distribuídos anualmente do 1.º ao 5.º ano - 1,95%
Taxa ilíquida de juro anual garantida para uma aplicação a 5 anos - 6,80%
Taxa ilíquida de juro anual garantida para uma aplicação a 10 anos - 7,10%
Fonte: http://www.igcp.pt/gca/?id=948
O Estado leva 21,5% em impostos nos CT, quando vende lá fora nao (creio eu, nao tenho a certeza)
Qual a justificaçao dada?
http://economia.publico.pt/Noticia/igcp-fixa-administrativamente-taxa-de-juro-dos-certificados-do-tesouro-e--nao-acompanha--mercado_1487517
http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=477745
Conclusão: Preferimos pedir dinheiro lá fora do que incentivar a poupança em Portugal e atenuar o juros que andamos a pagar
Atenção: nao defendo que isto explique uma grande parte do problema. O nosso problema é economico, e agora financeiro, e a minha argumentaçao vai no sentido de centramos a dicuão na economia e nao nas finanças, ou neste caso na lógica inevitável dos credores
Estimado Guilherme, perguntar não ofende e já vi que percebe disto: se tem assim tanta certeza de que o problema é este Governo, já que ele caíu, não será agora a melhor altura para comprar os tais CT a dez anos? Daqui a (menos de) dez anos já lá deve estar outro Governo, há muuito tempo (em princípio já a partir de Junho, não é?)? Agora não vá é contar isto a muita gente...
Outra coisa, se o problema em Portugal é mesmo este Governo, por que é que a Manuela Ferreira Leite, que tanto se queixava do "despesista" Guterres, ainda agravou mais a nossa situação?!! Não me diga que também estava a mando do Sócrates? E depois o Bagão Félix a seguir, que aldrabou indecorosamente as contas públicas e ofereceu um lindo presente ao (na altura) Campos e Cunha? Também era um "boy" de Sócrates, encapotado? E quer o Guilherme que se leve esta conversa da treta do Medina Carreira a sério???
Nao apresentei os numeros para mostrar que "percebo disto" mas apenas para substanciar a minha opinião. Se estou enganado ou existe alguma falha na minha análise esteja à vontade para contra argumentar.
Tenho as minhas dúvidas se os CT a 10 anos sao, ou nao, um bom investimento sobretudo devido à previsivel subida das taxas de juro no futuro próximo (mais um elemento para uma tempestade perfeita). Cabe a cada uma decidir em funçao do risco e retorno associado
Nao sei porque insinua que defendo a MFL, o Bagão e companhia e o que eles fizeram à quase 7 ou 8 anos atrás. Se eles forem para o Governo terei o mesmo espirito critico que tenho em relaçao ao PS. Eu acho que o governo PS tem uma grande parte da culpa desta situaçao você provavelmente pensa que nao terá tanta e que as alternativas serão ainda piores.
Nao vou entrar em politiquices, porque leva nos para o mesmo caminho que a diabolizaçao dos credores, Merkl, Alemanha, agencias de rating, etc...
Os meus posts tem sido longos mas a minha ideia era muito simples, nao podemos fugir á verdeira questão: que temos que fazer para criar riqueza e ter um futuro melhor. É uma frase feita mas não deixa de ser verdade
O medina carreira é a versão contraria do Pureza e companhia. Berra muito, aponta dedo a tudo e todos mas nao apresenta uma unica ideia construtiva.
Estimado Guilherme, eu não presumo nada, nem quero entrar em politiquices. Nem quero maçá-lo com as minhas opiniões sobre o actual Governo. No essencial, concordo consigo que não vale a pena culpar os Credores pela actual situação, nem serve de nada. Se calhar, nem justo é.
Já quanto à sua afirmação de que temos de criar riqueza para termos um Futuro melhor, diria que concordo, embora considere uma frase tão vaga, que pode até ser esvaziada de conteúdo. É preciso criar mais riqueza, claro, se quisermos continuar a consumir desenfreadamente, sem dúvida. Já isso significar um "Futuro melhor", tenho fundadas dúvidas.
Conhece os indicadores de Felicidade, não conhece? Então deve saber que a correlação com o P. I. B. não é tão elevada como seria de esperar. Mas isto já é outra conversa... Cumprimentos.
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