16 março 2011
choque cultural
Por estes dias tenho pensado muito nos meus amigos japoneses que, espalhados um pouco por todo o mundo, estão a salvo da catástrofe, mas terão com certeza parentes e amigos a viver um tempo de incrível angústia. Por várias vezes retraí o impulso de lhes escrever - porque sei o que lhes diria, mas não sei se é o que precisam de ler neste momento.
Observando a aparente placidez desses japoneses presos numa brutal armadilha, vendo esta gente que procura controlar as emoções e atravessar o inferno sem sobressaltos de pânico, pergunto-me: que valor acrescentado seria o meu se enviasse mensagens a abrir para cima deles as comportas do meu horror?
É em momentos assim que me dou conta de enormes diferenças, e de como temos de ser cuidadosos para não esperar dos outros formas de agir, reagir e interagir como as que na minha cultura se consideram naturais.
(Outra questão sobre o que posso fazer, sem o cómodo distanciamento das análises sociológicas, é esta: estaria disposta a oferecer a minha casa em Portugal para abrigar uma família de "refugiados de radioactividade"?) (sim, estaria - excepto nos meses de Verão...) (como era mesmo aquela história do camelo e do buraco da agulha?...)
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