É para ler o texto todo, sem esquecer os links que lá vêm.
Passo algumas passagens, só para terem uma ideia:
Genericamente, julgo que a economia narrativa "vai trabalhar, malandro" resume bem tudo o que se tem vindo a dizer contra os jovens portugueses nas últimas semanas. Esta narrativa vive de três figuras chave: um jovem que se esforçou muito e conseguiu o que queria (o american dream), um jovem que não conseguiu o queria mas limpa escadas e nunca pediu nada ao Estado nem aos pais e conquista assim a sua dignidade (o pobrezinhos mas honrados) e o estróina que tirou um curso inútil, tem a mania que é artista e que ainda queria o rabinho lavado com água de rosas (a esmagadora maioria).
(...) Perceberam bem? Eu volto a explicar - os nossos pais que deixem de lutar pelas suas reformas elevadíssimas e por salários dignos ou pelas suas férias, porque a luta deles pelos direitos adquiridos está a impedir que nós tenhamos alguns direitos também. De cada vez que a geração anterior luta contra a precariedade no trabalho, os jovens são mais precários. Porquê? Parece que foi feita uma quantidade de dinheiro limitada que só dá para alguns direitos.
(...) os jovens, completamente idiotas, pensam que isto foi feito de propósito para os chatear a eles, especificamente. Vou citar porque este argumentário é tão imbecil que vocês podem não acreditar que é verdade: "Só falta imaginarem que os recibos verdes e os contratos a termo foram criados especificamente para os escravizar, e não resultam do caos económico com que as empresas se debatem e de leis de trabalho que se viraram contra os trabalhadores". Aqui, o papel do destino é entregue a duas coisas daquelas completamente imutáveis e que não têm rigorosamente nada a ver com política: o caos económico, gerado per se, e as leis do trabalho, entidades independentes, que se viraram contra os trabalhadores. Por isso é completamente ridículo que os jovens organizem um protesto político contra esta situação: primeiro, porque o protesto seria contra circunstâncias inamovíveis, mais valia fazer uma manifestação contra o clima; depois porque o mal não é só deles e toda a gente sabe que só faz sentido protestar se se tratar de uma situação que é injusta para um grupo específico e restrito. Existe uma uma regra da vivência apolítica que dita que, se estivermos todos no mesmo barco, é bom calar e comer, que é sinal que não há outro barco, nem outro rumo nem outra forma de organizarmos a nossa existência.
A terceira parte do texto é sobre este post da Rititi, e passo aqui o início, mas aconselho que leiam tudo, porque o modo como a Rita desmonta aquele discurso é das coisas melhores que vi ultimamente na blogosfera.
A última estratégia é a menos original, mas parece-me importante mencioná-la pelo que tem de desesperado. É a conhecida estratégia do Biafra, a ultrapassagem pela catástrofe: há sempre alguém pior do que nós. (...)
Um apontamento final: o post tem um ou outro erro gramatical, sinal de que a Rita escreveu isto de rajada. É o que mais me surpreende: a velocidade com que ela encadeia os elementos da sua análise.
(Um dia destes ainda crio uma empresa para vender autógrafos da Rita, é desta que vou enriquecer)
7 comentários:
Sejamos justos: eu escrevi isto de rajada, claro - porque só consigo escrever coisas tão compridas quando me zango e porque quando comecei eram dez da noite e queria vir-me embora do trabalho, mas sabia que não o escrevia se esperasse por chegar a casa.
Mas eu também faço erros na versão normal, calma e desacelarada. Todos os dias me penitencio por isto e por não poder concentrar-me em resolvê-lo, mas não deixa de ser verdade.
Muito bem, Rita Maria.
Os ataques descabelados à "geração parva" não só são muito mais parvos do que aqueles a quem são dirigidos, como sobretudo têm muito menos desculpa para a parvoíce!
São eles, os mais parvos que os parvos, que se encontram já visívelmente à rasca e que, dentro de muito pouco tempo, se sentirão decerto bem enrascados...
rititi:
já lá fui.
rita:
vou lá agora.
tu:
já cá volto.
cá estou.
pois muito bem.
o que me dana em tudo isto é a estupidez de quem não entende a ironia e a desonestidade intelectual de quem a entende perfeitamente mas finge que não.
amava que a manif fosse gigantesca
:)
Desconfio que vai ser gigantesca.
Eu tenho algum medo. Há um texto muito populista a colar-se, há rumores de que a extrema-direita quer ir...espero que tudo se ultrapasse e ainda vou com a Gabi para o Alex, mas não sei não....
achou que desmontou muito bem
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