Como o Público conta, uma das grandes estrelas do actual governo alemão está a ser acusado de ter cometido vários plágios no seu trabalho de doutoramento. O Público diz que "grande parte da sua tese de doutoramento foi copiada", o que é um manifesto exagero. Aqui podem ver que se trata de um punhado de frases, num trabalho de mais de quatrocentas páginas. Entretanto, já existe um grupo de voluntários internéticos que está a passar o trabalho a pente fino. Parece que já chegaram a 78 passagens de plágio ou "próximo do plágio". Uns 16% do conjunto, ainda não verificados pela Universidade que está a tratar do caso.
Esta Universidade tem um papel ingrato: considerar que em 1200 pés de página é normal que se esqueçam 10 ou 20 (ou seja: deixar passar um ministro muito estimado no país), ou considerar que o plágio é grave, e retirar-lhe o título - uma decisão movida também por importantes motivos pedagógicos, para que nenhum outro doutorando se lembre de fazer algo semelhante, mas que arrumaria com a carreira política deste ministro.
E que ministro! Um fenómeno: nobre, rico, proveniente de uma família que resistiu ao nazismo, parecia ser um daqueles políticos que representa o melhor da Alemanha e não precisa de fazer joguinhos à custa do país para encher os bolsos. Um homem independente, uma pessoa de carácter, uma figura carismática. Já visto por muitos como um futuro chanceler.
E agora isto.
A ver vamos como é que o caso evolui.
Para já, alguns políticos da oposição aproveitam para o atacar, alguns do seu próprio partido tentam deitar água na fervura.
A penúltima palavra será dada pela Universidade. Veremos como zu Guttenberg vai rematar.
Depois conto.
Adenda (a 02.03.2011): este post tem algumas informações erradas, para além de padecer da confusão entre "página" e "frase". Menos de duas semanas mais tarde, os dados sobre o plágio são muito mais concretos: http://gut.greasingwheels.org/
12 comentários:
Na verdade, parece-me que a última penada vai ser dada daqui a um bocadinho pela Merkel, nao acredito que a universidade depois a contrarie. De resto, o mais giro de tudo no caso é o anúncio do Neue Zürcher Zeitung, uma das fontes plagiadas, que faz agora publicidade com o summa cum laude que "lhes" concedeu a universidade de Bayreuth.
(honestamente, num trabalho académico ninguém plagia por acaso, nao acredito nada. A forma como crias o texto quando escreves "segundo o autor x ou ainda de acordo com y torna o plágio impossível e também nao te esqueces de umas aspas. Na verdade no meu tempo o que mais fazíamos era acrescentar citaçoes, para parecer que tínhamos lido este mundo e o outro - isto por exemplo nao se arruma na rubrica "nota de pé de página esquecida por um homem de carácter")(por outro lado, se ele abdicasse do Doktor eu acharia que ele é um homem de carácter)
Meu Deus, o homem é o Speedy Gonzales!
Ele leu-te os pensamentos!
E queres ver lá tu que vai conseguir escapar desta?
Simples: renunciou ao título, quando o barulho acalmar diz que se esqueceu de anotar aquelas 9 ou 10 citações (em 1200), e a gente esquece.
Tu tens um ping directamente do Spiegel para a tua mesa?
Um dia falo-te do Twitter :)
(vé,eu acho aquela lista de páginas bastante significativa)
Foi por causa destas e doutras que nunca me dediquei a fazer teses :))
Fico à espera das actualizaçõe e , Helena, lembre-se que eu não sei nada de alemão.
Bom fim de semana
António,
o melhor é receber as actualizações da Rita - ela é que tem twitter!
Para já, o ministro renunciou ao título. A ver vamos o que se segue.
Rita,
já me conheces: nem sequer licenciaturas ao domingo me incomodam por aí além.
Até os franceses andam a comentar e a fazer comparações com as alegadas falsificações de diploma da Mme. Dati, que o governo e a direita tentaram disfarçar e minimizaram a todo o custo.
Queres ver, que até a escolher o pais de acolhimento capotei ? E logo eu, que preferia o champagne à cerveja ...
Agora é que disseste tudo: o rapaz bebeu uma cervejita a mais (logo ele, que é bávaro!) e por isso confundiu-se um bocadinho.
Vá, não façamos de um rato um elefante...
- hics -
;-)
Actualização, para o António P.:
A oposição acha que ele se deve demitir, uma sondagem diz que mais de 70% dos alemães acham que ele deve continuar no governo, a Merkel continua a defendê-lo.
Vamos ver.
Outra actualizaçao para o António P.: entretanto ele prescindiu do título de forma definitiva (a do outro dia era só até a coisa se ter clarificado).
Rita, parece que estamos aqui só nós duas a falar uma com a outra, mas não faz mal.
Outra actualização:
- A Merkel distingue entre académico e ministro. O Governo não precisa do académico e não o contratou como professor, mas como o excelente ministro que é, e do qual precisa imenso neste momento em que está a operar reformas tão complexas no Exército. (isto parece-me um bocadinho real politik, e é um pouco arriscado - permite-se a um ministro que tenha distracções de carácter se for um ministro excelente?)
- Parece que o titular não pode abdicar do título. Compete unilateralmente à universidade a decisão de lho retirar. Mas vá, já é um gesto positivo da parte dele dizer que não tenciona usar o título, e pedir desculpa às pessoas que ofendeu.
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