Dizem-me que no ensino secundário em Portugal se está a substituir o francês pelo espanhol. Alemão, nem pensar. Latim e grego: para quê?
Admitindo que posso estar a ser injusta e a dar mostras de imensa ignorância, pergunto: o que é que a escolha de uma língua diz sobre a pessoa - e, já agora, sobre uma geração? Se eu fosse empregador, e tivesse dois candidatos com currículo semelhante - um que escolheu espanhol como segunda língua estrangeira, e outro que escolheu latim -, qual preferia?
Para conseguir um bom emprego, não basta estudar. E o caminho da escravatura é bem mais largo para aqueles que se especializam na lei do menor esforço.
Confesso que às vezes me pergunto se é normal e desejável que um rapaz de doze anos escolha uma escola a trinta quilómetros de casa para poder aprender latim e grego (três horas do dia gastas em transportes públicos) e estude violino às seis da manhã porque depois da escola não tem tempo. Se é normal e desejável que um rapaz de treze anos considere que participar em torneios de xadrez, tocar piano desde os cinco anos e escolher chinês como terceira língua estrangeira são pontos fundamentais do seu currículo, como prova de um perfil de disciplina, persistência, capacidade de concentração e prazer de aceitar desafios. Mas porque sei que há jovens assim - e não são poucos - espanta-me e lamento que em Portugal cada vez mais alunos prefiram o espanhol a uma língua que dá mais trabalho.
Os trabalhadores freelance (não estou a falar de recibos verdes, mas dos verdadeiros independentes, por exemplo: tradutores e intérpretes) costumam dizer "a concorrência não dorme". Este lema é um autêntico Abre-te Sésamo para a porta da escravatura: dado que a concorrência não dorme, todos aceitam trabalhos urgentíssimos que os obrigam a trabalhar aos fins-de-semana, trabalhos extensíssimos que os obrigam a trabalhar quase sem pausa para comer ou dormir. Todos esses sacrifícios para que o cliente não se lembre de ir pedir a outro, e de acabar por preferir o outro para trabalhos futuros.
A concorrência não dorme: bem me lembro do descontentamento de uma mãe russa que achava que a escola primária alemã estava a fazer definhar o cérebro da sua filha de seis anos. "Completamente subaproveitado!", queixava-se ela, "As minhas sobrinhas, na Rússia, não andam na escola a perder tempo desta maneira!". E os chineses da turma do meu filho: pequenos génios, todos eles. Ainda hoje ouvi na rádio que a percentagem de frequência do ensino superior é muito mais alta entre os filhos dos asiáticos residentes na Alemanha que entre os filhos dos alemães.
E não me venham com histórias de diferenças genéticas. Isto é simplesmente cultura de esforço, trabalho e disciplina.
Claro que agora podemos falar do fenómeno de suicídio infantil no Japão. E dos programas de alfabetização para crianças que ainda não nasceram. Mas Portugal ainda não chegou a esse ponto, parece-me. E não corre grande risco de chegar lá nos próximos anos.
33 comentários:
Acho que estás a pegar na coisa pelo lado errado.
Eles nao escolhem o espanhol em vez de "uma língua que dá mais trabalho", escolhem a quarta língua mais falada no mundo (em oposiçao ao francês e ao alemao, respectivamente décima e décima primeira), o país europeu para onde mais portugueses vao à procura de emprego nos últimos anos (também aqui antes da França e da Alemanha) e, se pegarmos apenas nas empresas espanholas que investem em Portugal, coisa como 10% do PIB nacional, isto ainda sem falar das empresas portuguesas que investem no país vizinho.
Eles nao estao a optar pelo facilitismo, do ponto de vista do mercado de trabalho a sua decisao é de todos os pontos de vista inteligente e acho que se opoe justamente a um facilitismo português que achava que o portunhol chegava.
Outra questao, muito mais relevante a meu ver, é estarmos a educar crianças a pensar no mercado de trabalho e nao numa perspectiva humanista de crescimento intelectual, pessoal, etc.
Bom dia Helena,
Estou coma Rita Maria no que à escolha de aprendizagem de uma lingua diz respeito.
P.Ex. os franceses andam muuito tristes...mas o facto é que o castelhano é mais importante. Por outro lado estamos ao lado de Espanha.
Verifiquei, vai para 25 anos, que nas Polónias, Hungrias ( pelo menos ) muitos falam alemão...é normal estão aí ao lado.
Agora se me disser que para fazer a diferença ( escolher ter uma mais valia ) será melhor aprender alemão. Tudo bem. Mas isso será em áreas muito específicas e para poucos.
E a longo prazo porque não escolher o russo ou principalmente o chinês ?
Bom fim de semana
Rita,
desculpa que duvide: o portunhol não chega? O espanhol é escolhido como estratégia de emprego no futuro, ou estratégia de notas?
A outra questão é realmente muito relevante: mercado do trabalho ou amadurecimento humano? Precisava de ler agora uns quantos livros sobre o tema para ter uma opinião mais fundamentada.
De facto, não sei qual deve ser o papel da escola. E sei menos ainda se penso no tema à luz da frase "a concorrência não dorme". Pergunto-me, por exemplo, se não corremos o risco de, ao entrar nessa visão extremamente utilitarista do ensino, perdermos algo fundamental para o carácter da Europa. (estarei outra vez a navegar em ideias feitas?)
Claramente mercado de trabalho no futuro, já falei com muitos adolescentes que fazem esta escolha e conheço muitos pais que a recomendam aos filhos. Eu própria a recomendaria à minha irma se a escola dela tivesse espanhol, sem hesitar.
Quanto à outra questao, acho que é a realmente essencial.
E nao, o Portunhol nao chega, claro.
(porras foi a palavra para verificação)
Rita, podes ter razão quando dizes eles não escolhem o espanhol em vez de "uma língua que dá mais trabalho", mas eu acho que é exactamente por ser mais fácil que eles o escolhem. Não me parece nada que estejam a pensar no futuro e nas possibilidades de emprego. Estou com a Helena.
Tentando desbloquear este impasse de "acho que": se o espanhol é realmente importante, não bastaria um curso intensivo de verão?
Nunca tive sequer TVE em casa, mas não tenho problema em ler El Pais ou livros espanhóis. Sim, é verdade que não sei falar e muito menos escrever, mas parece-me que é a língua mais fácil para um português aprender.
Quanto ao chinês e ao russo: claro, António. E árabe também.
Quanto ao francês: eu teria pena de não saber falar francês. Não é só a beleza de língua - é a maneira como as pessoas se exprimem, toda uma outra cultura.
O "portunhol" não chega, Helena.
Trabalhei 4 anos em Espanha e desenrasquei-me...até escrevia relatórios ( revistos por um espanhol) para Conselhos de Administração lerem e elogiavam-me :))
O desenrascanço e o facto de saber francês, ajudou.
Mas para ler com fluência e escrever bem não chega. Já experimentou ler um autor actual, sei lá o Mateo Diez, p.ex, ler leio mas sinto que não "apanho" as subtilezas. Até lhe digo que leio "melhor" em francês porque o aprendi.
Por outro lado há de reconhecer que para jovens que queiram trabalhar e não queiram ficar debaixo das saias da mãe, toda a América Latina é um mercado extraordinário. Concorda ?
Tenho a certeza que sim
Pára tudo!
Vou ali ler "los cachorros", do Vargas Llosa, que tenho andado a adiar por achar as letras muito pequenas e as linhas demasiado juntas, e depois vos digo se era mesmo esse o verdadeiro motivo para ter adiado tanto, ou se o que me falta é conhecimento da língua.
;-)
Helena
Muito bem!
Mas, perdoe-me se estou errada, a Helena tem subjacente ao seu entendimento distinções fundamentais, importantes para se perceber como é que um indivíduo se transforma em pessoa. A Helena fala de Bildung e não só de Erziehung.
Será? :))))
mdsol,
perdonáme pero es que en este momento no sé qué decir o lo que dijo.
;-)
Ich verstehe nicht Spanisch, Helena :))))
Mais uma a dar razão à Rita e ao António P.?!
Não me digam que é mesmo preciso estudar espanhol?!
;-)
De hoje em diante, só falo grego.
Alea jacta est
- ah, perdão, enganei-me na língua -
αντίο μέχρι την επιστροφή μου
Minhas Senhoras ( Helena e mdsol ) ,
não vale a pena esmagarem-me com a vossa superioridade :))
Alemão ( não pesco nada ), latim ( já não sei declinas o rosa, rosae...) e com o grego vejo-me grego.
Helena, o seu portunho não está mau :))
Have a nice week end
António,
my special thanks go for...
google translator !!!
;-)
bom fim-de-semana para si também!
go to, melhor dizendo...
hã? "go for" or "go to"?
Απλά ξέρω ότι δεν ξέρω τίποτα, como dizia o Sócrates (o outro Sócrates).
Espero sinceramente que, se escolhem espanhol é por ser mais facil, o que ja denota algum sentido de estratégia. O portunhol não servira para se ser tradutora, nem para muitos postos em Espanha, mas para o comércio (não é esse o grande motor ?) serve, claro que serve. E digo mais, o inglês que aprendemos na escola é mais do que suficiente para se negociar com grande parte dos paises asiaticos, africanos e latinos. Posso dizer que sabia falar melhor inglês quando sai da escola, do que depois de varios anos de comércio internacional (sim, tenho um passado, não nasci mãe). Onde todos falam inglês, mas não exactamente o de Shakespeare.
Espero que os meus filhos compreendam a necessidade de aprender varias coisas, inclusivamente linguas com varias raizes, etc, a importância de serem exigentes com eles mesmo, mas que tenham o cuidado de sentir prazer, que tenham o tal gosto em aceitar desafios, que sejam motivados, que saibam dar a volta às dificuldades. E, acima de tudo, que tenham vontade de partir para a vida (ler sair de casa dos pais).
Ja ouviste falar de um livro extremo, recentemente saido nos States de uma mãe chinesa (Battle hymn of the Tiger Mother) onde se descreve métodos como ameaças de queimar peluches se as filhas não executarem na perfeição uma passagem de musica ? Claro que andam a coleccionar troféus e diplomas, mas ... posso copiar/traduzir um artigo do Courrier International ? "Tocar piano durante 4 horas requer concentração, mas esta longe de ser tão exigente do ponto e vista cognitivo como uma festa-pijama(...) gerir rivalidades, compreender a dinâmica de grupo, asimilar normas sociais, distinguir entre o eu e o grupo."
O equilibrio é uma vez mais um caminho interessante. Exigência e relax... sempre os mesmos clichés ...
O portunhol chega? ehehehe mas se nem o português chega, Helena! E tu testemunhaste isso quando te apareceu aquela oportunidade de escreveres para um site brasileiro.
O google translator está cada vez melhor, sim senhora.
:)))
mãe que capotou,
então está bem: de cada vez que o meu filho se puser a tocar Chopin, mando-o jogar futebol para ficar mais normalzito...
;-)
Maria N.,
pois é, para certos empregos o português não chega.
Mas vá: um bom curso intensivo de verão não chega para um português aprender a falar espanhol? É mesmo tão mais difícil?
Bem, cá vai mais um comentário de quem frequentou o ensino secundário em Portugal há poucos anos:
Na escola que frequentei, havia duas hipóteses: o Espanhol e o Alemão. Eu, claro, sempre mais anglo-saxónico que latino, escolhi o Alemão. Mas como fui dos únicos, lá tive que mandar uma cartinha ao Ministério a pedir o especial favor de abrir a turma por considerá-la fundamental para o meu futuro (na altura, queria ser professor de Inglês e Alemão). E consegui! A turma dividia-se em dois turnos, cada parte para a sua língua. (Latim e Grego não abriram nem com carta...)
Ora, e atendendo à discussão que se gerou aqui, eu tendo a concordar com os dois lados. Enquanto que eu me esfalfava para decorar aqueles casos todos e os malditos géneros esquisitos das palavras alemãs, que eu, de resto, adorava, os meus colegas tinham uma tarefa bem mais leve. E o mesmo aconteceu depois na faculdade.
Economicamente, Espanha tem uma influência mais acentuada do que a Alemanha, desde logo pela sua proximidade. E há outro aspecto muito importante, para além desse e das notas bem mais generosas: alguns dos colegas de Ciências iam às aulas de Espanhol para mais facilmente se candidatarem em Espanha, adivinhem, ao curso de Medicina! Logo, o lobby do Espanhol exercido pelos papás na escola era muito mais forte...
Mas, ainda assim, continuo feliz: pois se eu consigo ler em Espanhol textos que são úteis à minha investigação com relativa facilidade, já os meus colegas não se atrevem sequer a pegar nos escritos alemães!
Eu tenho amigos da minha idade a fazer cursos de Espanhol por causa do trabalho.
Nao te reconheço: por um lado falas do ensino humanista e das vantagens de aprender coisas sem utilidade imediata, sendo que estou completamente de acordo.
Depois chegamos ao Castelhano e resolves tudo num curso de Verao...no fim da primária eu sabia falar Português, até antes, para que foram aquelas aulas de Literatura? E o meu Alemao, melhorou com o meu conhecimento da poesia expressionista? Preciso de três meses de Shakespeare e outros três de história da Irlanda do Norte para o meu trabalho de todos os dias ou chegava um cursinho do Wall Street que incluía todo o vocabulário que uso?
E já que estamos nessa, porque nao chega o Latim da Volkshochschule, que dá tao bem para pedir um café? Ou porque é que nao posso aprender só o Grego Antigo necessário para me fazer entender?
Só porque é uma língua mais parecida com a nossa, o que significa que é mais fácil fazermo-nos entender mas potencialmente até mais difícil falar e escrever correctamente, nao é caso para desrespeitá-la como língua, cultura, universo.
Helena, cuidado com as simplificações. Acho que todos têm um pouco de razão, não vale a pena esgatanharem-se mais... E sim, aprender BEM o Espanhol pode ser ainda mais difícil, para um "tuga", do que aprender Alemão, pois é muito mais fácil deixarmo-nos enganar pelas semelhanças com o Português. Assim como, para um germano, talvez seja mais fácil aprender BEM o Português do que, por exemplo, o Dinamarquês, ou o Holandês!
O importante mesmo é saber para que se quer aprender uma Língua estrangeira: e é óbvio que as motivações para aprender Inglês ou Grego clássico nunca poderão ser lá muito parecidas...
E, finalmente, uma banalidade importante: o mais importante de tudo para aprender uma Língua estrangeira é ter aprendido muito bem... a Língua materna!
Entiendes?
Até que a cavaqueira não está correndo mal mas se não souberem alentejano não sabem nada.
(Embora em Beja quem não souber alemão não vai longe)
Claro que chega, Helena!
A maioria agora só pensa ( ou +e levado) a pensar nas línguas em termos de comunicação quotidiana ( e empregabilidade?) e, para isso, convenhamos até chega o inglês de aeroporto, esperanto dos nossos dias.
Outra coisa é a aprendizagem de uma língua para aceder ao seu património literário e de pensamento e aí sim é lamentável que se abandonem línguas como o francês, o alemão, ou que se desconheçam completamente outras como o árabe, o mandarim, o russo, o sueco ou o checo, entre outras.
Parece que (embora não pareça...) vamos conseguir uma plataforma de algum consenso:
- Os idiomas que se aprendem na escola não servem apenas para melhorar a média (escolhendo o mais fácil) ou para preparar um futuro profissional, mas para alargar o horizonte das pessoas.
- Mesmo para portugueses, o espanhol é uma língua tão nobre como as outras, não tão fácil de aprender como eu pensava (obrigada, A.Castanho) e igualmente (ou até mais) importante do ponto de vista de estratégia profissional.
Posto isto, parece-me que vou ter de retroceder para este ponto básico e genérico da minha argumentação: quem escolhe uma língua apenas porque é mais fácil escusa de se queixar mais tarde que a vida lhe corre mal.
Mas agora estou muito na dúvida se os alunos do secundário escolhem o espanhol pela facilidade, pelo interesse que sentem pela Espanha e por uma grande parte da América Latina, ou por estratégia de futuro profissional.
Pelo que este debate já valeu a pena: quando escrevi o post, ontem, estava muito longe disto.
Obrigada a todos!
(Será que já disse hoje que adoro os comentadores deste blogue?)
Boa noite Helena,
Eu gostava que a Helena e os leitores deste post lessem o último comentário de A. Castanho ao post sobre o artigo de VPV spbre este mesmo assunto. É que aquele mestre canalizador que vive bem, que não exerce a licenciatura e que não precisou de emigrar é uma figura muito importante. A desvalorização do trabalho técnico e do trabalho manual é um problema muito portugués. aquele exemplo tem muito que ver com o que VPV diz. Poderiam existir milhares de mestres canalizadores muito mais realizados do que o licenciado em direito que nunca terá um euro no bolso e que quando estiver a trabalhar é um frustrado.
Penso que VPV se refere a uma espécie de "religião educativa" que se desnvolveu em Portugal desde 1820 e que é uma fonte de frustração.
Pedro
Em Portugal desde 1820?
Bom, dessa parte não me tinha apercebido.
Mas se fala em 1820, ocorre-me a mudança de pedagogia e de papel do ensino operada na Alemanha por Humboldt, por essa época. É muito graças a ela que a Alemanha chegou onde está hoje. E na década de 70 do século passado não tinha, como em Portugal, uma impressionante percentagem de analfabetos e apenas cerca de 10% dos jovens com acesso ao ensino superior. Alguma coisa correu mal em Portugal com essa "religião" nascida em 1820...
Ah, já me ia esquecendo: o comentário do A. Castanho era tão evidente que não me pareceu necessário chover mais no molhado.
Pode ser que as coisas equilibrem um pouco, e se perca essa ideia generalizada de ser preciso ser doutor.
Pedro e Helena, talvez me tenham interpretado de uma forma que eu não esperava (seguramente por culpa minha) e que acaba por distorcer a minha opinião: o que eu apontei foram DOIS factos que me parecem relevantes para aquela discussão sobre o Artigo do VPV, tendo o primeiro resultado claro e pacífico (ser realizado na sua Profissão não está forçosamente relacionado com o que se aprendeu na Escola). Porém, quanto ao segundo, acho que não fui suficientemente claro, pois o que eu penso mesmo é que o meu Mestre Canalizador (ou, melhor dizendo, multi-ofícios...), podendo realmente não ter ficado mais habilitado a exercer a Profissão que abraçou com a sua Licenciatura em Jornalismo, não se sentirá por isso frustrado, ou seja, arrependido de a ter concluído e não exercer! Se calhar, a verdade é que ele prefere ser um bom Mestre Canalizador E licenciado em Jornalismo, do que apenas ter o 9º Ano de escolaridade. Mais claro agora?
O que remete para a tese do Pedro, do tal Escolarismo português supostamente introduzido pelo Liberalismo, a qual me permito rebater nos seguintes termos: não creio que seja a elevação do nível de escolaridade média do Povo a causa dos problemas que sentimos, mas antes a destruição progressiva de um dos grandes mitos sociais da Época Moderna, que consistia na valorização das pessoas não só pelo que possuíam, ou até pelo que sabiam (uma "modernice" adquirida apenas no Iluminismo), mas também e, muito provávelmente, sobretudo, pelo que faziam! Algo que a industrialização, com a mecanização e a indiferenciação do trabalho, entre outras novas realidades laborais (e mitos ou preconceitos sociais), acabou por desvalorizar por completo. Muito mal, na minha opinião (e só aqui me reencontro com o pensamento do Pedro)...
Alguém ainda aqui se lembra do que valiam, socialmente, no tempo dos nossos Avós, os Mestres Pedreiros, Carpinteiros, Ferreiros, Tintureiros, Alfaiates, Cutileiros, Sapateiros, etc., ou mesmo os famosos (mas curiosamente menos valorizados...) Mestres-Escola?
Compare-se com a "valorização" social nos dias de hoje de um Filósofo, um Arquitecto, um Sociólogo, ou uma Jurista que atendem num "call-center", ou que impingem "promoções" aos incautos nos centros comerciais...
Algo correu mal, Helena, apesar das excelentes conquistas do Humbolt e seus continuadores...
Clap, clap, clap!
(para o A. Castanho)
(pronto, para ti também!)
Thanks a lot, Rita Maria.
E escreve-se de facto "Humboldt" (em Português: "Alexandre Herculano"?), peço mil desculpas...
Só uma achega: no tempo da minha avó, aos pedreiros, carpinteiros, etc. dava-se o nome de "artistas".
Acho lindo, e é mesmo pena ter-se perdido essa valorização.
No início, o movimento Bauhaus queria recuperar esse fundamento artístico que liga o indivíduo à sua obra. A catedral medieval, desenho de Feininger para acompanhar o manifesto da Bauhaus, é um óptimo símbolo disso mesmo.
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