01 fevereiro 2011

adidas yoga

Há tempos o meu ginásio deu uma formação de "adidas sports" a quase todos os professores. Não percebendo bem o que seria esse "adidas", até imaginei que fosse uma deusa como a Nike - sei lá, a Nike estaria para os jogos olímpicos dos gregos como a Adidas para os dos romanos, sei lá.
A minha imaginação prodigiosa nunca me deixará ficar mal: consegue sempre acertar em cheio completamente ao lado, como aqui mais uma vez se comprova.
Na realidade, é a empresa adidas que teve a genial ideia de criar uma nova linha de exercício físico: adidas Yoga, adidas Dance, adidas Zone Cycling, adidas Treino Personalizado e adidas Ballett (este último foi desenvolvido justamente com professores do meu ginásio e bailarinos do famoso Berliner Staatsballett, e com o jeito que tenho para estar no sítio certo no momento certo calhou de assistir a essa sessão enquanto fazia horas para a minha aula de aeróbica. E pensava eu "eh, pá, esta gente dança que é um fascínio!" sem saber que estava a assistir a um ensaio com alguns dos melhores bailarinos da Alemanha.)

 (foto daqui)


Ontem fui à minha primeira sessão (e última, acho) de adidas yoga.

Primeiro sentámo-nos de pernas cruzadas (eu tentando manter as costas direitas, debalde e fazendo de conta que no pasa nada) enquanto cantávamos

om namah shivaya gurave
sacchidananda murtaye
nisprapanchaya shantaya
niralambaya tejase

que quer dizer:              inclino-me perante o Bom em mim, o verdadeiro mestre
a essência interior é verdade, consciência e felicidade
sempre presente e plena de Paz
livre por natureza e radiante de brilho sobrenatural, inexplicável

Cantámos a duas vozes: os outros faziam a primeira, e eu a segunda - a culpa é dos tantos viras que dancei quando era minhota, que me puseram com uma certa tendência para sincopar as melodias que entoo.

Não sei qual era a ideia da professora, mas garanto que não funcionou. Ou talvez sim, no meu subconsciente arcaico, lá onde ressoa a memória da humanidade (cá está a minha imaginação prodigiosa a funcionar em cheio, repararam? estou aqui, estou capaz de acreditar que no fundo, no fundo, a minha alma entende sânscrito cantado em compasso de vira).

Depois começámos a fazer os exercícios típicos de yoga, mas com uma inovação da adidas: além de dizer os nomes tradicionais das posições (cobra, cão, etc.) também havia expressões em inglês para descrever a atitude mental do corpo (será que me entendem?) - as ancas alinhadas pelos ombros, os ombros baixos, as omoplatas unidas, os membros em permanente pressão para se unirem, etc.

De modo que estávamos ali desesperados, a tentar baloiçar um pino ao ritmo da respiração (imaginei logo que à Herta Müller teria ocorrido a expressão "Atemschaukel" quando estava a fazer este yoga), e, como se não bastasse, a professora dizia uma coisa em inglês que eu não percebia por isso não vou escrever e que queria dizer: ancas alinhadas pelos ombros, ombros baixos (que no caso devia ser altos, acho eu), pressão para unir os braços e as mãos, etc.

Pior ainda era o momento em que ela se lembrava que o objectivo do adidas yoga é produzir efeitos ao nível espiritual e emocional, para criar uma atitude plena de energia e optimista perante a vida.
E então mandava-nos fazer a ponte, ou congelar em flexão, ou outra tortura qualquer, dizia a fórmula mágica em inglês (ancas alinhadas pelos ombros, ombros baixos, omoplatas unidas, pressão para unir as pernas e os braços) e acrescentava: solta o teu coração, deixa-o flutuar em paz.

A culpa é dos portugueses, não tenham dúvidas! Dos cristãos portugueses, que saíram nas suas caravelas para levar a mensagem de Cristo aos confins dos novos mundos. Os da Opus Dei iam nas filas da frente e conseguiram passar para as culturas orientais esta peregrina ideia de que o Homem só se liberta e atinge a felicidade num corpo mortificado.

Escusado será dizer que hoje tenho dores em músculos que até ontem nem sequer existiam no meu corpo. Mas escrevi este post com muito prazer, sinal indubitável de que o adidas yoga produz efeitos ao nível espiritual e emocional, e me dá muita energia para escrever disparates - que é a única maneira de levar a vida com optimismo quando se tem o corpo a doer por todos os músculos.

15 comentários:

jj.amarante disse...

Isto não é bem para a sua faixa etária (http://www.bbc.co.uk/news/health-12325285)mas acho todos esses exercícios que deixam os músculos a doer tributários do "no pain no gain", uma forma anglo-saxónica do "vale de lágrimas" embora com uma cenoura no fim. Dê uns passeiozinhos a pé que é o que faz mesmo bem. O Pilates aí na Alemanha deve ser bom. Também deixa as pessoas com dores?

Teresa disse...

Mesmo cheia de pena do teu pobre corpo dorido, fartei-me de rir.

Gostei especialmente deste parágrafo:
«A culpa é dos portugueses, não tenham dúvidas! Dos cristãos portugueses, que saíram nas suas caravelas para levar a mensagem de Cristo aos confins dos novos mundos. Os da Opus Dei iam nas filas da frente e conseguiram passar para as culturas orientais esta peregrina ideia de que o Homem só se liberta e atinge a felicidade num corpo mortificado.»

Ant.º das Neves Castanho disse...

Então as únicas dores boas mesmo para a Saúde não são as dos músculos? Se fossem dos ossos, dos tendões, ou sobretudo dos órgãos, isso é que seria preocupante! Dores nos músculos são o maior sinal de vitalidade, Helena!


Quanto à «Adidas» - de todas a marca de sapatilhas mais famosa e prestigiada no meu tempo de "chavalo" -, tanto quanto sei até foi criada por um alemão de origem árabe, um tal Adi Dassler, se bem me lembro...

Helena Araújo disse...

Obrigada pela introdução ao vídeo: muito gentil! :-)

O único ganho que me interessa é manter a flexibilidade do corpo e fortalecer músculos que são importantes para me aguentar o esqueleto. O Pilates que tenho feito não basta (mas boa ideia - vou recomeçar).
Até agora, o que mais me agradava era a hidroginástica (mas da última vez parece que exagerei, vou passar a ter mais cuidado) e o zumba - que tem uma componente de dança muito agradável.
Embora não goste muito, volta e meia faço também alguma ginástica para fortalecer os músculos das costas.
Acho que vou desistir do yoga, e não vou ter saudades nenhumas daquela sala cheia de gente a respirar com toda a força.

Quanto aos passeios: sempre gostei de fazer. Muito mais que andar de bicicleta, aliás. E vou continuar a fazer. Mas penso que não é suficiente para manter o corpo em forma.

Helena Araújo disse...

O comentário anterior era para o jj. amarante. Pensei que só estávamos aqui os dois...

Teresa,
viste? Não sei porque não me convidam para reescrever os manuais de História. Aposto que a minha, essa os miúdos estudavam com gosto!
;-)

A.Castanho,
se assim o dizes! Pois lá irei amanhã de novo "libertar-me" um pouco mais.

Adidas (fui ver na wikipedia alemã): não falam sobre a origem árabe do homem. Chamava-se Adolf Dassler, e por volta dos anos 20 começou a fazer sapatos de desporto com o seu irmão Rudolf. Passavam a vida a zangar-se. A empresa adidas foi fundada por Adolf - Adi - Dassler. Daí o nome.
As coisas que tu sabes sobre a Alemanha!

Rita Maria disse...

E querias trocar isto por posts sobre limpezas ou até posts nenhuns? Tu realmente.

Helena Araújo disse...

Rita,
como percebeste que isto foi provocado pelo teu comentário anterior "quero que continues a escrever sobre o ginásio"?
És muito perspicaz.
Amanhã é dia de fenício, e a Christina também quer ir ver. Queres vir? Tiras um dia de férias e vens ver o meu fenício fazer dança do ventre?
Se não vieres, eu conto.

Por outro lado, admito que se eu contasse mais vezes o que vejo quando ando a caminhar pela cidade também gostavas. Aliás: as ideias para os posts mais absurdos surgem-me enquanto caminho.

Ant.º das Neves Castanho disse...

Não sei onde é que a tulha mais profunda lá da minha memória foi buscar essa da origem árabe do tal Adi Dassler. Será que a matreira me enganou, "arrumando" este farrapinho de sabedoria lá numa qualquer gaveta etiquetada com o simplismo "Adi, logo árabe", ou coisa parecida? Agora fico a desconfiar um pouco dela, a marota...

maria disse...

ahahahahah (é pena é eu estar aqui tão longe...) amanhã também ia...só para fortalecer os músculos, claro!

Helena Araújo disse...

:-)

Paulo disse...

Há que sofrer para ser bela. A sereiazinha que o diga.

Helena Araújo disse...

Portanto, Paulo: achas que devo continuar a ir ao ginásio? É por causa de um inquérito sociológico em curso.

Paulo disse...

Bem sei que andas a inquirir o povo, eu é que não sei o que te diga. Como posso dar-te um conselho que eu próprio não consigo seguir?
Se deixares de ir ao ginásio perderemos umas belas histórias, mas se começares a fazer caminhadas em vez de, terás na mesma muito que contar.

(Estarei eu apenas preocupado com as minhas leituras em vez de zelar pela tua forma física?)

Helena Araújo disse...

Tens andado a falar com a Rita às escondidas, Paulo?
;-)

Não precisas de fazer o que dizes, basta que me digas o que devo fazer. Se bem me lembro, já me avisaste para ter cuidado com as máquinas - e deixei logo de as frequentar, vês com sou bem mandada?

Na última aula de Zumba pensei que um dia tenho de te levar lá. Aliás, em todas aquelas aulas penso que tenho de te levar lá. É mesmo muito engraçado.

De qualquer modo, aqui fica uma promessa: daqui a nada vamos começar a construir a casa (daqui a nada = quando tivermos o projecto + quando o projecto for aprovado + quando tivermos vendido a casa de Weimar) e aí intercalo visitas ao ginásio com longos passeios a pé para ir controlar os tijolos um a um. Não percas a próxima fase deste blogue: posts sobre trolhas!

Paulo disse...

As máquinas são infernais. Um amigo meu ganhou uma "lixação" muscular à conta delas e disse adeus ao ginásio.

Humm, estou cada vez mais curioso em relação às aulas de Zumba na caneca.

(Toca a despachar. Queremos seguir atentamente a história da casa, das primeiras medições até à colocação da última telha)