Vi num canal alemão: esconderam uma câmara de filmar numa barraquinha de salsichas grelhadas, e pediram à vendedora que, ao fazer o troco, se enganasse sistematicamente a favor do cliente.
Curiosamente, as pessoas mais velhas reparavam no erro e devolviam o excedente, enquanto as mais novas metiam o dinheiro ao bolso e iam-se embora.
"Pode ser que os mais novos não façam contas", pensaram eles, e mudaram o teste: a vendedora passou a enganar-se a seu favor. A partir daí, os mais novos começaram a protestar que faltava dinheiro. Os mais velhos também.
Foram falar com as pessoas. Os mais velhos diziam "eu sei o que ele custa a ganhar" ou "era o que mais faltava meter dinheiro ao bolso à custa daquela mulher". Os mais novos arranjavam desculpas, "ah, que estranho, não reparei..." ou "a culpa não é minha, ela que veja o que está a fazer".
***
E é assim que uma pessoa se põe velha...
Numa livraria, ao pagar dois livros, vi que a máquina registou ambos mas só cobrou um. Por um momento senti-me tentada a não reparar naqueles 25 euros de diferença, mas a velhice falou mais alto. Disse o que costumo dizer nestas situações: "não é que me queira queixar, mas..."
Hoje em dia, já nem nas máquinas de registar se pode confiar! A empregada, muito agradecida, deu-me um saco de pano muito bonitinho, decorado com uma página de um livro antigo.
A velhice tem destas coisas: uma pessoa sai das lojas com a cabeça levantada. E com um it-bag de borla...
A revista com o programa quinzenal de Berlim trazia colado na capa um caderninho que me interessava muito: praias e Biergärten na capital. Era o último dia em que estava à venda, e daí a umas horas seria substituída pelo número relativo à quinzena seguinte. Olhei em volta: no meio daquela confusão, ninguém se daria conta de um cliente a tirar um caderninho minúsculo. Além disso, não estava a prejudicar a loja, porque o programa da revista já estava desactualizado. Porque hesitava, então?
A velhice é uma coisa tramada. E a vergonha de ser apanhada a roubar uma coisa sem valor também.
Perguntei ao vendedor se me podia dar o caderninho. E ele deu: olhou para a data da revista, arrancou o caderno, e deu-mo enquanto resmungava "que chatice, esta cola que eles usam nas capas não presta para nada, os cadernos soltam-se todos sem querer..."
Saí da loja a rir, de bem com o mundo. Melhor assim, que com um caderno precipitadamnete enfiado no bolso e o rabo entre as pernas.
5 comentários:
Velha, a Helena ??!!!!
Velhice rima com ....não sei.
Juventude rima com.....não sei.
E os mais novos não são/ foram ensinados pelos mais velhos ??
Poder. Provocar. Medo.Testar territórios...etc, etc
E fiquei saber que em Berlim há praias mas biergarten !!! serão jardins de cerveja ?? :))
Bom fim de semana
Obrigadinha, António, estava a ver que não aparecia aqui ninguém a dizer que eu, no máximo dos máximos, sou é precoce...
;-)
Aquele teste foi muito curioso.
Os mais novos são educados pelos mais velhos, é verdade. Mas o que explica estas pequenas desonestidades tão generalizadas entre eles?
As praias berlinenses são assim a modos que... não venha cá no Verão, vai ficar decepcionado. Embora tenha por aí uns lagos engraçados.
E os "jardins de cerveja" são umas esplanadas simples, com mesas e bancos corridos, geralmente à sombra de árvores frondosas, onde se pode comprar e beber cerveja (em alguns até se pode evar a sua própria comida, se quiser).
Um óptimo fim-de-semana para si também!
:))
Há uns anitos atrás, numa estância de ski austríaca comprei um chocolate e a vendedora deu-me 20 cêntimos de troco a mais. Nunca vi ninguém tão chateado por receber dinheiro de volta...
Aaaah! De onde se conclui que se hoje em dia os jovens não dizem ao vendedor que se enganou no troco, é por mero respeito - para que a pessoa não se incomode por ter cometido um erro e ainda por cima com testemunhas. Muito japoneses, estes jovens...
;-)
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