07 outubro 2010
representações de Jesus
A propósito desta entrevista publicada no blogue Tribo de Jacob e deste post sobre um trabalho de Dürer, no Vida Breve, lembro um quadro de Max Liebermann que provocou imenso escândalo na época: um fenómeno tipo caricaturas de Maomé em finais do século XIX.
A imagem foi tirada de um artigo online (aqui, em alemão) que explica o escândalo:
Era 1879 Liebermann apresentou em Munique (e logo em Munique!) um quadro onde o Jesus que discute com os doutores no templo é um rapazinho judeu, de cabelo escuro e caracóis sobre as orelhas, nariz ligeiramente adunco, sujo, descalço e pobremente vestido.
Liebermann não contara com a violência da crítica, que veio de todos os lados: desde as reacções antisemitas nos jornais, que consideravam o quadro uma provocação e uma blasfémia, e criticavam duramente o atrevimento de um judeu invadir assim o espaço cristão, até à própria comunidade judaica, incomodada pelo modo despretencioso e até desprestigiante como os seus doutores estavam representados.
Para não ferir sentimentos religiosos, Liebermann acabou por alterar a imagem de Jesus: um rapaz loiro e de narizinho arrebitado, de costas direitas, com sandálias e túnica decente.
Só muitos anos mais tarde as teologias cristãs haviam de dar-se conta que Jesus era afinal um rapazinho judeu. Hoje em dia, a imagem da direita não nos choca nada. Pelo contrário, é a da esquerda que incomoda: um Jesus ridículo, porque deformado pela mentalidade da época que obrigou àquela representação.
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1 comentário:
Eu até pensei que, na da direita, estava representada uma menina...
Sim, muita gente esquece que Jesus era judeu e que a distinção entre judeus e cristãos só começou depois da morte dele. Desenvolveu-se essa tradição de dizer que foram os judeus que o mataram... Foi o seu próprio povo (ou parte dele) instigado pelas intrigas dos romanos. Enfim, Jesus era uma personagem incomodativa, que mudou o seu mundo do avesso e que arrastava multidões, algo sempre perigoso para a ordem vigente.
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