21 outubro 2010

liberdade de expressão - um post de Abril de 2006

Enquanto procurava o tal post antigo sobre Integração, encontrei este que também merece ser republicado. No coração de Berlim dou-me conta da diferença: aqui nunca me sinto ameaçada por ser estrangeira. Em Weimar era bem diferente.
E antes que venham dizer que os alemães são todos iguais e muito orgulhosamente arianos, e que a Merkel é um Hitler de saias (de saias, a Merkel, hihihi), aviso já que na região da antiga RDA há problemas sociais graves. Altíssima taxa de desemprego, poucas perspectivas de futuro para os jovens, desorientação devido ao fim da RDA e a alguns aspectos humilhantes do processo de reunificação, etc.

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Em Erfurt (capital da Turíngia, uma das Länder da antiga RDA), numa loja de revistas, uma mulher que estava na fila para a caixa reparou que alguém estava a comprar um jornal onde se lia em parangonas góticas:

O SEU POSTO DE TRABALHO JÁ FOI ROUBADO POR UM ESTRANGEIRO ?

- Isso é discurso de extrema-direita, isso é incitamento ao ódio! Porque é que você vende isso?, perguntou a mulher ao dono da loja.
- Neste país há liberdade de expressão, respondeu ele.
- Pois há, e é por isso mesmo que eu digo aqui, alto e bom som, que numa loja que vende material deste não deixo ficar nem um cêntimo!

Largou o que queria comprar, e saiu.

Asseguro que não era eu. Entre vários outros motivos, por este muito simples: pela minha pronúncia, é fácil perceber que sou estrangeira. Há por aqui gente que não
se ensaia nada para mandar estrangeiros para o hospital, partidos de pancada. É uma sensação estranha andar pelas ruas sabendo que posso apanhar um par de bofetadas apenas porque não sou alemã. E tenho sorte: aos asiáticos e aos africanos aqui residentes não basta manter a boca bem fechada para conseguir disfarçar a sua condição.

7 comentários:

Rita Maria disse...

Uma última história antes de te deixar em paz pelo dia, mesmo a propósito: uma vez lá no Plus duas ciganas e os filhos andavam às compras com as crianças e de vez em quando gritavam pedidos ou perguntas entre eles todos (em alemão! as sociedades paralelas do meu bairro, não sei que problemas têm, parece que não sabem falar estrangeiro).

Na caixa um senhor muito zangado começa a resmungar muito indignado e toda a gente olha para o lado muito desconfortável. A certa altura encontra o meu olhar e diz:
-É que isto não é cultura.
E eu respondi-lhe, aproveitando a oportunidade:
- O seu racismo é que não é cultura.
O senhor calou-se mas na fila, pode ter sido impressão minha, parecia que já se respirava melhor.

Mas a parte importante da história vem a seguir. Dois senhores vieram ter comigo depois de termos pago, muito agradecidos. Perguntaram-me se era alemã. Queria tanto ter mentido, fiquei com tanta pena de nao lhes ter dito que sim.

PS: Aviso aos leitores incautos deste blog - a Helena faz que nao mas fala um alemao excelente, pode abrir a boca à vontade.

Helena Araújo disse...

Bela história, Rita!

Aviso aos leitores incautos deste blogue: a Helena fala um alemão excelente, mas com sotaque de holandesa... ;-)

Paulo disse...

Sotaque de holandesa? Ora essa! Se me aparecesses à frente a perguntar quem é que mandou construir a Torre de Belém, tomava-te por berlinense de gema. Quando muito, um berlinense de gema poderia tomar-te por alemã da "Frisolândia", vá.

Helena Araújo disse...

Det issen Ding!
Ick been janz baff!
Du, ick been keen berliner!!!
Det ist jelojen wie jedruckt!

Encontrei uma lista de expressões berlinenses aqui:
http://berlin-and-more.de/Berlinerisch-Deutsch.html

Tem lá "Stulle", que uma amiga nossa volta e meia dá aos miúdos. O Matthias comentou: "quando a Elisabeth diz que nos vai fazer uma Stulle, dá-me sempre a sensação que é algo muito melhor que um mero belegtes Brot..."

Paulo, tu também sabes anedotas dos frisolandeses? São como as nossas de alentejanos.

Paulo disse...

Não percebi nada dessa tua Jeschmadder. Bom, às duas do meio ainda cheguei. Nada mau, hein?

Eu com anedotas fico sempre um bocadinho baff. Mas sim, basicamente, como se diz agora, são as mesmas.

Helena Araújo disse...

Jeschmadder, hihihi

A primeira também é fácil: das ist ein Ding!
A última foi um bocado inventada. Troquei o que era g por j:
Das ist gelogen wie gedruckt.

Paulo disse...

ahahahahahahah