O jornal de hoje trazia uma notícia que me assustou: vão tirar o abono de família às pessoas com rendimentos mais altos. Bem sei que está correcto: o abono de família não devia ser dado a todos, mas apenas àqueles que mais precisam, especialmente em tempo de crise, pois claro, blablabla.
Compreendo, mas não me dá jeito: cá em casa são 368 euros por mês.
(O abono de família alemão é assim: 184 euros por criança, 190 para o terceiro, 215 para o quarto e seguintes. Uma família com seis filhos receberia mensalmente 1203 euros. Já dava para uns litrinhos de leite e uma grosa de fraldas.)
(Por acaso, agora que voltei a olhar para o regulamento, hei-de ver se não nos convém mais pedir uma isenção de impostos - seriam 7.008 euros por ano. Algo me diz que o nosso contabilista tem andado a dormir...)
Lá fui lendo a notícia, fazendo contas de cabeça sobre os tais 368 por mês que vamos deixar de receber, até que cheguei à penúltima frase: rendimentos mais altos é 250.000 euros anuais, ou 500.000 no caso de ambos trabalharem.
Fiquei toda contente e aliviada por não sermos ricos...
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Os custos de alimentação aqui são semelhantes aos portugueses. As rendas de casa são aceitáveis (nós pagamos, numa das melhores zonas de Berlim, cerca de 6 euros por metro quadrado) (é verdade que em Munique os preços são bem diferentes, mas eu também nunca me lembraria de ir viver para Munique...). Os cuidados de saúde das crianças são gratuitos (do champô para piolhos até às férias na praia ou nas termas para tratar a asma). O ensino é mais barato que em Portugal, porque (ainda) é a escola que empresta a maior parte dos livros. As famílias que têm menores rendimentos recebem participações especiais para as crianças terem acesso a actividades extra-escolares ou participarem nos passeios da turma.
Entre a Alemanha e Portugal: tanto mar, tanto mar.
6 comentários:
Começo a ficar farto desta conversa que se vai insinuando que os cidadãos em geral não têm direito a compensações do Estado por situações específicas em que se encontram como terem filhos a seu cargo estarem doentes, etc. Basicamente o Estado está a migrar para uma espécie de protector dos pobrezinhos e distribuidor de esmolas. Para isso já tínhamos a Santa Madre Igreja, a caridade cristã, a Santa Casa da Miseriocórdia em Portugal, etc, etc
Por um lado, inteiramente de acordo: o simples facto de os filhos ficarem caros, e serem um elemento fundamental para o futuro da sociedade, já justificaria essa ajuda estatal.
Por outro lado, o que eu queria é que a caridade cristã não fosse necessária, porque cada um receberia do Estado um mínimo digno. Embora isto, justamente isto, esteja a ser cada vez mais posto em causa. "Os preguiçosos habituam-se", e por aí.
Obviamente não me estava a queixar que o Estado alemão dê todo este apoio a quem tem filhos. Mas também acho bem que não dê os tais 7000 euros anuais a quem já ganha meio milhão. Isso sim, era uma boa esmola.
Tanto mar? Pois é verdade, mas e a diferença entre as diferenças entre a Alemanha e Portugal nos anos 70 e hoje? Não interessa nada? Pois é, em Portugal parece que tudo isso já está esquecido.
E o Estado, se bem que cada vez mais necessário, não é infelizmente uma mina de diamantes, mas sim o espelho da realidade contributiva de um País! Se não há Produto, como pode haver Estado?
O problema está pois na incapacidade de perceber o problema, por isso é que andamos a dar tiros na água desde os anos oitenta e os "milhões diários" dos fundos estruturais, sem percebermos que o problema não está no carro, está no condutor (quero eu dizer no Povo, de um modo geral, ou seja, na tal coisinha chata chamada PRODUTIVIDADE!).
Muito concretamente, enquanto a eficácia da nossa Economia for dez vezes menor do que a alemã, não podemos querer ficar-nos só pelo "tanto Sol, tanto Sol"...
Tudo certo, mas se o problema fosse acima de tudo uma questao de riqueza, a desigualdade em Portugal nao seria tao superior à desigualdade na Alemanha. É por isso que a coisa é tao revoltante.
Também está muito certo. São dois problemas bem distintos, mas infelizmente nem sempre se tem feito bem a separação entre os dois! Na generalidade dos casos, quando se discute a desigualdade, o pessoal da Direita manda-nos logo "criar riqueza" primeiro (espertos...), por outro lado, quando se discute a produtividade, o povaréu de Esquerda chuta para canto e lamenta-se da desigualdade (manhosos...). E assim cá vamos, cantando e rindo, levados, levados sim (levados pela classe política, mas igualmente por uma "élite" socio-económica e uma comunicação social de massas que em nada têm ajudado a melhorar o "estado da arte" desta discussão em terras lusas), de há demasiados anos a esta parte...
Para todos uns FELIZES SANTOS (ou "aloínes", como preferirdes...)!
Tanto mar, indeed. Pese embora, estejamos a anos-luz dos anos 70 como lembra o A. Castanho, a verdade pura e dura é a que indica a Rita: um fosso abissal, por exemplo, entre quem é funcionário público ou trabalha por conta de outrem e os restantes que escapam pelas malhas largas da lei e pela ineficácia e ineficiência do sistema de fiscalização do nosso Estado.
E como falar de produtividade e aumento da dita com o estrangulamento da economia nos termos em que ela se encontra em Portugal?
E se concordo em absoluto com a medida alemã, estou com o jj neste discurso abjecto que grassa em Portugal sobre o fim do Estado Social e o renascer de um Estado caritativo, a fazer lembrar a outra senhora.
Não foi para isto que se fez uma revolução.
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