28 outubro 2010

é isto uma Europa?

Esta notícia do Público deixa-me pasmada e sem palavras: vão baixar os abonos de família. Por exemplo: uma família com um rendimento mensal inferior ou igual a 209,61 euros recebia 174,72 euros de abono caso a criança tivesses menos de 12 meses, ou 43,68 euros se tivesse mais de 36 meses - e até estes valores vão baixar???

Esta notícia também me surpreende: em Portugal discute-se sobre como poupar 230 milhões de euros?! Tanta coisa, tanta discussão, para o governo poupar 3.420 milhões de euros?!
Só para terem uma ideia: no ano passado, a cidade de Berlim gastou 1.340 milhões de euros *apenas* em segurança social (total nacional: quase 21.000 milhões de euros). Só para terem outra ideia: em Stuttgart estão a pensar gastar uns 4.000 milhões, ou provavelmente muito mais, para construir uma via ferroviária subterrânea.

Na Alemanha, os pobres (desempregados de longo termo, incapacitados, etc.) recebem do Estado cuidados de saúde iguais aos da restante população, habitação e correspondentes custos (água, luz, aquecimento, eventual mobiliário e electrodomésticos), e ainda uns 350 euros mensais por pessoa. Se tiverem filhos, o Estado tem com estes uma atenção especial, porque é importante quebrar o ciclo de pobreza (sim, porque, como estão a ver, os pobres saem muito caros). De modo que toca de lhes dar acesso privilegiado à Educação, com todas as despesas pagas. E mais uma ou outra coisita, como vestuário, viagens, etc.

Por um lado: não sei como é possível viver com 209,61 euros mensais. Não sei como é possível viver com 209,61 mensais, e sobreviver a um aumento do IVA. A sério que não sei.
Por outro lado: o PEC, claro, os países assinaram um acordo de estabilidade do euro, e tal, e já sabiam ao que iam, pois, então porque é que agora vêm com desculpas por não se terem sabido governar? Sim, tudo isso. Entendo muito bem a Merkel e o Sarkozy. Mas há um patamar de dignidade abaixo do qual uma comunidade europeia não pode descer. O que está a acontecer em Portugal, sobretudo se comparado com os níveis de apoio social e gastos em obras públicas nos países mais ricos, é uma vergonha europeia.
Tenho a sensação que a União perdeu o norte.
É isto uma Europa?

Contudo, há aqui algumas questões incontornáveis:
- Porque é que continua a haver em Portugal pessoas com 200 euros de rendimento mensal?
- Porque é que, após mais de trinta anos de FEDER, Portugal ainda não conseguiu dar a volta? Os fundos estão a ser mal utilizados, não houve ainda tempo suficiente para mudar a estrutura, ou temos de aceitar que Portugal ficará para sempre um país estruturalmente pobre e a viver das esmolas dos ricos?
- A UE e/ou o euro são uma oportunidade para Portugal, ou um erro grave?

18 comentários:

Ant.º das Neves Castanho disse...

A Europa não perdeu o Norte, perdeu sim... o Sul! Ou melhor, o Sul é que acabará por perder a Europa. Espero que não para sempre, mas pelo menos para o meu tempo já não tenho esperança nenhuma. Terei de preparar os meus rapazes para emigrarem para o Norte?

Paulo Bateira disse...

Olá Helena,
Para perceberes o que se está a passar, em Portugal (mas não só; na Alemanha tb.), - desculpa ironia - tens que assistir aos debates em torno da Campanha de Manuel Alegre ou ler o Le Monde Diplomatic(português) ou os Ladrões de Bicicletas. O que está a acontecer HOJE, em Portugal p. ex., começou a ser construído há 10 anos atrás (cá dentro e na UE). NOTA: alguma coisa de bom se fez, entretanto. Mas, não só a conjuntura foi infelizmente má para o fazer, bem como foi manifestamente insuficiente, como a UE é, em si, um saco de gatos, uma manta de retalhos, um poço de contradições. O problema é muito mais a UE, que Portugal ou a Irlanda. Saudações a todos de aí. Paulo Bateira.

Helena Araújo disse...

Por isso perguntava se a UE é uma oportunidade ou um erro. Ou é o euro?
Em todo o caso: o que é que nos impede de sair de um e do outro?
Eu leio os Ladrões de Bicicletas, mas continuo sem entender como é que após 30 anos de FEDER ainda estamos assim.

(que bom ver-te por aqui, Paulo! aproveito para agradecer aquela bela surpresa que me chegou pelo correio - andava há que tempos a pensar pedir o teu e-mail a alguém que o saiba, mas se calhar sabes como é: entre uma coisa e outra...)

António P. disse...

Boa noite Helena,
E sem o euro e a CEE estaríamos como ?
Estamos pior que a Alemanha ? Estamos.Mas já estavamos.
Estamos melhor que há 30 anos ?
Sim, muito melhor.
Por causa do euro e da entrada na CEE ?
Sim.
Há problemas ?
Há. Em Portugasl, em França, no Reino Unido...enfim na Europa.
Saberemos resolvê-los ?
Espero bem que sim, Não só os portugueses mas os europeus.
E atenção que a Alemanha pode estar bem mas à custa de outros. Não foi a Alemanha que vendeu submarinos a Portugal e à Grécia ? ( ver intervenção no Parlamento Europeu de Daniel Cohen-Bendit ) ou ler o João Pinto e Castro , no Jugular e não só .
Bom fim de semana nos Alpes

io disse...

Não. Isto não é UMA Europa. Tens toda a razão. E ou bem que a Senhora e o Senhor pensam bem no que estão a fazer ou bem que o estertor pode estar aqui ao nosso lado, sendo certo que tenho as maiores dúvidas que a Alemanha ou a França possam, neste mundo, sobreviver sem uma EUROPA. As maiúsculas são intecionais. Deixo-te um vídeo que talvez tenhas visto mas que me parece o pôr o dedo na ferida sobre se queremos continuar neste caminho de afrontamento dos pequenos e sobretudo do Sul. http://www.youtube.com/watch?v=wg5SU_bDNsA

Helena Araújo disse...

António P.,
(caso ainda aqui esteja, o que duvido)
a intervenção do Cohn-Bendit foi muito boa, e coloca muito bem a questão de alguns países estarem sobrecarregados com despesas que deviam ser europeias. A Grécia, pelos vistos, aprendeu com rapidez: recentemente pediu apoio à Europa porque se diz incapaz de controlar sozinha a sua fronteira.
Penso que a solução ideal seria haver haver um empenhamento europeu, militar e policial, na defesa das fronteiras europeias. Mais Europa, portanto.

Outra coisa é a história dos submarinos: o que quer isso dizer de a Alemanha estar bem à custa de outros? Vamos culpar a Alemanha por exportar, fugindo à nossa própria responsabilidade por importarmos o que não podemos?
Se Portugal não tinha meios para comprar, não comprava. Ou fazia como fizeram agora os gregos: pedia que fosse a Europa a encarregar-se disso.
Também ninguém nos obrigou a comprar à Alemanha. Agora, comprar com dinheiro que não tem, e vir queixar-se que a Alemanha anda a enriquecer à custa dos outros porque vende...
Se resolve comprar, Portugal deve assumir as suas decisões com responsabilidade, ou questionar directamente quem as tomou.

O seu argumento preocupa-me, porque lhe vejo uma certa desresponsabilização de Portugal. O que queremos realmente dizer quando lembramos que a Alemanha enriquece à conta dos submarinos que vende?
- é ilícito a Alemanha vender armamento aos outros países europeus?
- a Alemanha vive à custa de quem lhe compra os submarinos e por isso deve contrapartidas especiais, para além dos submarinos vendidos?

Helena Araújo disse...

io,
obrigada por me lembrares o filme que te passei há meses... ;-)
Como já disse no comentário anterior, essa intervenção foi importante por levantar questões fundamentais. Mas há uma parte dela que temos andado a ignorar cuidadosamente: décadas de política corrupta.
O problema da Grécia (e de Portugal) não é só os submarinos que compra à Alemanha e os aviões que compra à França. São políticas irresponsáveis, é o fartar vilanagem com que foram usados os fundos da União que se destinavam a criar um desenvolvimento estrutural.
Da Grécia, posso-te dar exemplos de reformas perfeitamente legais antes dos quarenta anos de idade, ou de bairros residenciais de luxo cujos habitantes arranjam maneira de não pagar impostos.
De Portugal, sabes com certeza tu mais do que eu.
Mantenho que o nível "aceitável" de pobreza em Portugal é vergonhoso. Que baixar os abonos de família a pessoas com rendimentos tão baixos como 209 euros é um crime. E que os custos que este OE vai implicar ao nível dos mais pobres é inaceitável num contexto europeu. Do mesmo modo, obrigar a Grécia a arrepiar caminho a toda a velocidade é uma violência.
Mas não podemos fugir à questão: como é que chegámos aqui? Porque é que 30 anos de FEDER não nos conseguiram colocar numa via de desafogo económico estrutural?
Visto a partir da Alemanha, é isto: esses tais países do Sul usam mal os fundos, têm governos corruptos e irresponsáveis, e dão-se ao luxo de continuar como estão porque sabem que a Europa não os deixa cair.

Voltando à intervenção do Cohn-Bendit: "não existe na Grécia uma identificação com o Estado" é o "chacun pour soi", "é preciso dar-lhes tempo para encontrarem um consenso".
Resta a pergunta: em nome de quê é que a União deve continuar a deixar correr, e deve ser fiador automático de países que continuam a funcionar assim? Por quantos anos ainda?

António P. disse...

Ainda aqui estou, Helena :))
Sabia,que quando regressasse dos Alpes, me responderia :))
Não se preocupe eu não desreponsabilizo ninguém e muito menos Portugal.
Os seus governantes ( os actuais e os passados )e nós os portugueses.
Mas não me venham com tretas sobre só uns é que têm qualidades e sabem governar a sua casa.
A Alemanha pode vender os submarinos que quiser e a quem quiser mas sem corrupçaõ e aliciamentos, isto para não falar naquilo que diz sobre a Europa, como um todo ter uma política militar e de defesa integrada em que os cusots possam ser proporcionais com as capacidades de cada país.
Como é óbvio isso é tarefa dos europeus ( todos ).
Espero que se tenha divertido nos Alpes.

Helena Araújo disse...

diverti, pois!
Mas ao chegar a casa caí na asneira de falar da Alemanha com alemães, e lá vi os pés de barro ao santo. Ele por aqui também acontece cada uma...
(outro dia conto)

Sobre as luvas dos submarinos: tanto quanto sei, foram os alemães - e não os portugueses - que deram pela trapaça e iniciaram um inquérito. Há um controlo apertado desses expedientes. Volta e meia também metem na cadeia empresários que furam boicotes de venda de armamento. Ou seja: não me está a dizer nada de novo se diz que a Alemanha não pode recorrer a aliciamentos e outros truques ilegais para vender os seus produtos.

Pode ser que tenha a visão turva, por estar a ver da Alemanha. Mas parece-me que de facto alguns países têm andado de modo irresponsável e desgovernado na União. E pergunto porque é que uns têm de pagar o desgoverno dos outros.
O Euro, por exemplo: nenhum país foi obrigado a entrar, e há regras claras para fazer parte da união monetária. A Grécia andou a aldrabar as contas, a gastar muito mais do que podia, e quando se deu conta da dimensão do disparate foi pedir ajuda à Europa. A Merkel gaguejou um bocado (pudera - como é que explica aos seus eleitores que têm obrigação de ajudar quem não cumpre?) e as taxas de juro dispararam. Ora bem, quem tem a maior culpa: a Merkel, que gaguejou, ou os governos gregos que andaram a aldrabar e etc.?
Parece-me que andamos a exigir demasiado dos alemães. Em nome de quê? Dos dois submarinos que venderam, isso não há-de ser.
E outra coisa que me irrita profundamente: a partir do momento em que a Alemanha e a França começam a falar em obrigar os países a cumprir os acordos, tornam-se odiadas. A ideia de tirar o direito de voto é uma palermice acabada, concordo. Contudo, em nome de quê é que os países acham que podem ir continuando a furar os acordos, e que os mais ricos vão pagar sempre que for preciso?

Ant.º das Neves Castanho disse...

Pois claro. O que teria sido da Europa do Sul, nos últimos, digamos, vinte e cinco anos, sem as "sopas" da Alemanha e da França? E sacudir as culpas para cima dos "governantes corruptos" também não é moralmente aceitável. Vai ou foi hoje apresentado um novo "site", o "Eurodata" (semelhante ao "Pordata" mas à escala europeia) onde um dos números mais chocantes é o que ilustra a produtividade portuguesa: por cada hora de trabalho do português médio, a sua produção é cerca de METADE da de um europeu médio!

Então, de quem é afinal a culpa da nossa "pobreza"? É só dos nossos "Governos corruptos" (e que nós livremente elegemos), ou é também e muito de quem trabalha, de quem não trabalha e recebe, de quem manda trabalhar, de quem contrata quem trabalha mas não produz, de quem despede quem trabalha e produz, de quem sabe de tudo isto e nada faz para mudar este estado de coisas, de quem nos esconde estas realidades e nos dá "circo e futebol" para não pensarmos muito nelas, a culpa está repartida por quem e em que proporções, afinal?

Helena Araújo disse...

E de onde vem essa baixa produtividade?
Por outro lado: ainda outro dia ouvi um empresário português dizer que o que safa uma certa empresa alemã filha da Bosch é justamente a "neta" portuguesa... (e eu acredito, que bem vi como uns e outros trabalhavam)

(Isto tem pano para mangas!)

Ant.º das Neves Castanho disse...

Helena, essa baixa produtividade, que é real e de uma magnitude assombrosa, tem muitas causas, todas elas já devidamente identificadas e estudadas, pelo menos pelos especialistas, e algumas até com terapêutica há muito definida, se bem que pouco ou mal aplicada. Não me parece sequer grave que ela exista, se for conscientemente assumida, pois cada um é feliz à sua maneira e os portugueses, a começar pelos alentejanos, sabem muito bem que o trabalho e a riqueza material não são tudo na vida.


Os problemas, quanto a mim, são outros e básicamente estes dois: 1º) ter consciência de tudo isto e não tirar as devidas ilações, ou seja, querer fingir que isso não tem consequências, isto é, querer ter Sol na eira e água no nabal, trabalhando pouco mas consumindo muito; 2º) não ter consciência de nada disto e não haver ninguém que explique por que é que as coisas são assim.


No primeiro caso estão as élites informadas, incluindo políticos, comentaristas, empresários, corporações e sindicatos, que sabem muitíssimo bem que Portugal tem uma vida acima das possibilidades da sua produtividade e não fazem nada para melhorar a situação; no segundo caso está a opinião pública mais ignorante, que nunca ninguém quis esclarecer para melhor manipular à medida dos seus interesses particulares e que inclui os trabalhadores mais desqualificados e os pensionistas mais pobres, que passaram vidas de miséria e sofrimento para agora verem os outros que estão "lá em cima" dizer-lhes que devem fazer ainda mais sacrifícios. Estes não têm culpa da sua ignorância, mas contudo podem vir a tornar-se o maior perigo: mal dirigidos, podem dar origem aos piores males sociais, incluindo agitação e apoio a tentações sebastianistas, subversivas do Estado de Direito.


Os primeiros são os verdadeiros e grandes culpados, porque sempre souberam toda a verdade, mas esconderam-na deliberadamente em proveito próprio. Se houver alguma Justiça transcendental e intemporal, serão eles que terão de pagá-las, na altura certa. Políticos, sindicalistas, empresários, fazedores de opinião, banqueiros, académicos e, de um modo geral, todos os poderes de topo, sejam eles financeiros, políticos, corporativos, económicos, eclesiásticos ou sociais.


Porque a "torneira", simplesmente, agora fechou para todo o sempre! Por motivos económicos e políticos, mas igualmente ambientais, demográficos e globais (o "Mundo Ocidental" já nunca mais governará o Planeta sózinho!). Agora é o tempo de trabalhar, mais e sobretudo muito melhor, ou então de aceitar reduzir os níveis de consumo e voltar à sustentável economia de guardadores de rebanhos! É tão simples, que podia começar a ser ensinado no 5º Ano de escolaridade. Até porque, agora, a escolha já não será nossa, que já não iremos a tempo de mudar nada, mas dos nossos Filhos...

Ant.º das Neves Castanho disse...

Quanto ao teu exemplo da "Bosch", longe de mim dizer quem a culpa da baixa produtividadde é dos "malandros" dos trabalhadores portugueses, que são aliás dos melhores e mais apreciados em qualquer parte do Mundo! A insuficiente produtividade é um problema eminentemente colectivo e tem mais a ver com os métodos de trabalho, do que com o mérito e o esforço individual dos trabalhadores.


Um dia alguém me ilustrou a diferença entre trabalhar e produzir desta forma bem expressiva: trabalhar é um homem e uma grua, durante um dia de laboração, tirarem e logo pôrem, trinta vezes seguidas, a mesma pedra, para fora e para dentro, de uma camionete de carga. Produzir, pelo contrário, é o mesmo homem e a mesma máquina, com exactamente o mesmo esforço e o mesmo consumo de combustível, tirarem para fora, ao longo de um dia de laboração as sessenta pedras com que a camionete vinha carregada para a obra...

io disse...

Oh diabo, mais uma diabrura do alemão.

Quanto ao mais, gostava de saber outra coisa: o que é a UE, mormente a Comissão, fez para verificar o que é que o Sul, esse desregrado Sul, tem andado a fazer com os fundos e com o controlo dos seus défices?

É um bocadinho uma pergunta com o tom daquela que internamente fazemos perante o descalabro do BPP e BPN: o que é que a supervisão andou a fazer?

Não fazem o trabalhinho de casa e depois quem se amola é o mexilhão. Sempre o mexilhão.

Por isso, acho vital o vídeo que te rapinei há meses.

Provavelmente, a Europa não poderá aguentar indefinidamente as más gestões do sul. Mas será que a solução passa pelo encurralemnto ou pela expulsão?

Não é esse o mundo em que gostaria de viver. Prezo demasiado a solidariedade para isto. Todavia, tenho de admitir, provavelmente é o mundo que temos.

Helena Araújo disse...

io,
essa supervisão é uma mudança da matriz europeia. É aceitável que Bruxelas controle os governos nacionais? Que desconfie que a Grécia está a aldrabar as Contas do Estado, e que envie para lá fiscais? Que controle se os fundos para o Desenvolvimento em Portugal foram aplicados em Mercedes?
Pode ser que já haja uma supervisão forte e com poderes efectivos - a sério que não sei. Caso exista, então andou a trabalhar mal, isso é certo.
Em todo o caso: é isso mesmo que queremos? Desconfiar dos Estados que fazem parte da União? partir do princípio que há entre nós Estados incompetentes, corruptos e aldrabões? Criar comissões de fiscalização de Estados? Criar punições automáticas para quem não cumprir? (hehehe, o Sarkozy e a Merkel iam aplaudir muito esta minha última frase)

Parece-me que isto vai acabar assim: Europa a duas velocidades.
Com políticas e práticas comuns para determinados níveis, e separações para outros.
É possível fazer de outro modo? Não sei. Há muita coisa que não foi pensada, e vai acabar por afastar a Europa do seu sonho.
Por exemplo: viste o que tenho andado a contar aqui sobre os apoios que a segurança social alemã dá aos seus pobres? Tipo: casa e seguro de saúde, mais 350 euros por pessoa, mais o que for preciso para as crianças, mais um ou outro extra que seja necessário. Se calha de os ciganos da Roménia decidirem vir instalar-se aqui, este sistema rebenta. Pura e simplesmente rebenta.

Uma outra questão: será que os países do Sul estão condenados ao atraso? Por muitas décadas de FEDER que tenhamos, não vamos conseguir sair da nossa situação estrutural de pobreza relativa?
É que, se é assim, temos de repensar a Europa. Há trinta anos pensava-se que era possível elevar todos os países para um patamar mais ou menos comum de desenvolvimento e bem-estar. Isso é impossível, ou o tempo ainda não foi suficiente, ou o quê?

Quanto à solidariedade, e como já disse atrás: como explicar aos alemães porque é que eles têm de estar sempre prontos a pagar alegremente pelos erros e pelas aldrabices dos outros?

O discurso do Cohn-Bendit não me sai da cabeça: que União é possível entre Estados que não têm o mesmo nível de maturidade democrática?
(claro que agora podemos responder que são todos iguais, mas uns disfarçam melhor que os outros...)

Ant.º das Neves Castanho disse...

Muito bem, Helena.

A chave está mesmo aí, na maturidade democrática. E cá no Sul houve demasiadas décadas de prática anti-democrática e, depois, de pedagogia "democrática" feita por comunistas, ou seja, por não-democratas. É um lastro pesado...

Mas eu acredito na superação desse atraso, com o tempo. E desde que essas "duas velocidades" sejam assumidas, ou seja, se calhar terá de haver duas moedas, um euro nórdico para os do pelotão da frente e um sub-euro para os que quiserem, orgulhosamente, nas eiras do Sul ou do Eire, pastar as suas cabritas em paz e sossego!

Não, isto não é nada fácil...

Kruzes Kanhoto disse...

Portugal é um erro.

Helena Araújo disse...

Bem, Kruzes Kanhoto, tão longe não iria. Há muita coisa que funciona mal, e há muita coisa que funciona bem. E depois há os portugueses. Os que eu conheço, a grandessíssima maior parte, não os trocava nem por nada.