21 outubro 2010

aviso à navegação (2):

Desta vez, sobre a França.
A propósito deste post, mas poderia ser a propósito de muitos outros onde se exprime a perplexidade de os franceses estarem chateados por terem de esperar até aos 62 anos para poderem ir para a reforma, deixem-me esclarecer umas coisinhas:

(nota: o que se segue é resultado de uma conversa que tive ontem com um francês. Sintam-se à vontade para me mostrar os documentos que rebatem isto.)

- Os franceses só podem deixar de trabalhar depois de terem trabalhado 42 anos. Uma pessoa que estude até aos 28 só tem direito à reforma lá para os setenta.
- Até agora dizia-se que cada filho dava à mulher um desconto de dois anos no período obrigatório de trabalho para a reforma. O que era merecido, porque com o seu esforço ela contribui para o contrato social (concordaremos que é mais fácil trabalhar durante quarenta anos sem filhos que durante quarenta anos com filhos). Esta reforma anula isso. Pior ainda (se bem percebi): uma mulher que teve quatro filhos, e ficou oito anos em casa a cuidar deles, perde oito anos de tempo de trabalho. Vai para a reforma lá para os setenta e cinco?

As greves dos franceses não se destinam a protestar contra a passagem dos 60 para os 62 anos. Isso é a mensagem simplista que alguns escolheram passar para desmoralizar esta luta.

Os franceses perguntam-se porque é que o Estado disponibiliza tanto dinheiro para ajudar o sistema financeiro, e o vai extorquir depois aos trabalhadores. Porque é que se recusa a aumentar os impostos sobre determinadas operações bancárias e especulativas, mas os aumenta tão facilmente sobre a população. Porque é que aceita sem discutir um capitalismo liberal desenfreado e cada vez mais desavergonhado, e pensa que o povo vai continuar a pagar estas opções sem protestar.

Por isso é que os franceses estão em greve.

2 comentários:

sem-se-ver disse...

ah, então é o mesmo que os portugueses se perguntam.


(mas pq tenho a impressão que, mesmo com greve geral convocada, por cá vai dar em nada?)

António P. disse...

Bonsoir Helena :))
Um país que tem champagne, queijos e foie gras só pode ser grande.
Já os ingleses ( whoelse ? ) dizem que a França é o melhor país para se viver...sem os franceses :))
Quanto ao resto não tenho dados, mas é impressão minha ou as palavras de ordem dos sindicatos não são " Reforma ao 62 anos , não ! " ?
Se simplificam o problema não é meu.
Quanto às greves e manifestações de rua em França...dá depois, nas urnas, a direita no poder.
Ver Maio de 1968.
Os franceses são uns pandegos.
Beijos