15 setembro 2010

"repatriamento"

A verdade nua e crua: a Polícia francesa desmantelou os acampamentos dos ciganos, tirou-lhes as roulottes. As famílias vêem-se obrigadas a viver em tendas precárias ou, pior ainda, debaixo de toldos de plástico.





As fotos foram copiadas deste artigo do Spiegel.

8 comentários:

Ant.º das Neves Castanho disse...

Que desumanidade! Que culpa têm as pobres Crianças dos erros cometidos pelos Pais?...

Helena Araújo disse...

Se é que se pode chamar erro, tentar fugir à pobreza mais miserável indo viver para um país mais rico...

O estado francês passou aqui uma linha de fronteira que não podia nunca ter passado.
(e um pormenor: os miúdos estão de mangas compridas, sinal de que o tempo lá já arrefeceu - o frio que devem ter durante a noite!)

Ant.º das Neves Castanho disse...

Helena, não é no emigrar em si que está o erro. Não compares este tipo de "emigração" à emigração legal e honesta, por favor. O erro dos Pais existe, é grande e tem sido demasiadamente ignorado e tolerado e são essas excessivas tolerância e brandura continuadas que são agora as grandes culpadas desta explosão inevitável e das respectivas consequências desumanas e muito lamentáveis (e que deveriam ter sido o mais possível minoradas, claro)!


Porque aquilo a que tu chamas ir "viver para um País mais rico" eu e muitos outros contribuintes honestos, solidários e generosos chamamos ir viver de expedientes e de trafulhices para um País mais rico e demasiado laxista! Até um dia, como seria inevitável.


Neste aspecto sou muito frontal e "filho mais velho": um Estado de Direito não é nem nunca poderá ser como Deus e os incumpridores, todos e qualquer um, nunca deverão esperar de César perdões divinos em vez da Justiça dos Homens. Seja ela escrita por que linhas for, desculparás a minha franqueza: num Estado de Direito não há lugar para "filhos pródigos"!


Aliás, no dia em que houvesse, deixaria de ser necessária qualquer Religião...

Helena Araújo disse...

A. Castanho,
vejo toda esta questão de outra forma. Os ciganos devem ser o povo mais pobre da Europa, e o mais estigmatizado.
Alguém dá emprego a um cigano? Alguém convida para sua casa um filho de ciganos?
Eles têm alguma hipótese de, sózinhos, sair desse ciclo vicioso?

Penso que um Estado de Direito tem obrigação de quebrar estes mecanismos perversos, que logo à partida condenam um grupo de cidadãos à miséria.

E lembro aquela frase de já nem sei que filme português: "roubar para comer não é pecado".

A Justiça dos Homens implica que se fale com esta gente e se lhes dê os meios para poderem ter uma vida digna na nossa sociedade.

Quanto às trafulhices e aos expedientes: em todos os povos há gente assim. E quanto mais pobres, maior a probabilidade de arranjarem esquemas para sobreviver.
Não me parece que os trafulhas mais perigosos para a nossa sociedade pertençam ao povo dos ciganos...
(só para desconversar de modo cínico: não me consta que haja algum cigano entre os administradores de bancos que criaram a crise actual)

Para usar a tua linguagem evangélica: os ciganos não são filhos pródigos, porque nunca tiveram qualquer herança; são os famintos debaixo da mesa, disputando com os cães as migalhas que caem das mesas dos ricos.

Ant.º das Neves Castanho disse...

Helena, não conheço em pormenor a problemática dos Ciganos na Europa, mas posso garantir-te que, em Portugal, a maior parte das tuas cândidas e benfazejas premissas infelizmente não se verificam.


Concordo contigo que não basta castigar e punir, é necessário e urgente compreender, corrigir e prevenir.


Mas uma boa parte do povo cigano (não serão todos, claro, mas acredita que são uma percentagem muito elevada) já interiorizaram a sua condição de comedores de migalhas e conseguiram tirar partido e proveito dela, saindo debaixo da mesa e comportando-se não como "cães", mas como autênticos "lobos"!


A verdade é esta: muitos ciganos são ricos, para os padrões normais - têm bons carros, boas vidas e, o que mais me preocupa, um estatuto de impunidade social, baseado na lei do faroeste, que não é desmentido por um ou outro caso pontual de descriminação ou brutalidade social. Ou não fosse preciso por vezes, sobretudo no Norte, ter de se chegar ao limiar da barbárie, com milícias populares, para tentar desesperadamente repor alguma justiça onde o Estado, com consciência pesada ou não, há muito que se demitiu.


Tu própria já aqui escreveste que, em Portugal, com Ciganos ninguém se mete. E sim, há dezenas de pessoas, técnicas de segurança social, que vivem aterrorizadas por não poderem fazer relatórios isentos e imparciais que possam pôr em risco a continuação da atribuição de subsídios a Ciganos. E não é por acaso que ninguém quer ter os Filhos em Escolas onde predominem os Ciganos.


Resolva-se o problema social, de acordo, mas no sentido da integração e do respeito mútuo, não no do medo e da "tolerância" cobarde com a injustiça, que só podem dar mau resultado. Em França já começou...

Helena Araújo disse...

Sim, o estatuto de impunidade é assustador. Bem como o medo que existe do "nosso" lado.
E pode ser que venha a acontecer também com estes provenientes da Europa de Leste. Quem já tem pouco a perder...

É o desejo de Justiça que me leva a dizer que é preciso encontrar com eles uma solução de, como tu dizes, integração e respeito mútuo. E direi mesmo mais: respeito mútuo, para ambos os lados.
Não o medo ou uma falsa ideia de tolerância.

Helena Araújo disse...

Sim, o estatuto de impunidade é assustador. Bem como o medo que existe do "nosso" lado.
E pode ser que venha a acontecer também com estes provenientes da Europa de Leste. Quem já tem pouco a perder...

É o desejo de Justiça que me leva a dizer que é preciso encontrar com eles uma solução de, como tu dizes, integração e respeito mútuo. E direi mesmo mais: respeito mútuo, para ambos os lados.
Não o medo ou uma falsa ideia de tolerância.

Ant.º das Neves Castanho disse...

Claro. Nem uma falsa ideia de tolerância, como tampouco uma falsa ideia de injustiça. Quando li a tua pergunta sensível "alguém dá emprego a um Cigano, ou convida os seus Filhos para casa?" eu rápidamente pensei noutras perguntas similares, como "alguém dá emprego a uma mulher baixa, feia e gorda? Ou a um gago? Ou a um coxo? Ou a um homem válido com mais de quarenta e cinco anos? E alguém convida os Filhos de um negro para sua casa? Ou de um varredor da Câmara? Ou de um sidoso?". Ou seja, quantas e quantas discriminações invisíveis e silenciosas não permanecem na nossa Sociedade, estigmatizando milhares de pessoas sem culpa?