25 agosto 2010

regresso à escola

Em Berlim, as aulas começaram na segunda-feira passada. Menos mal: em Weimar já tivemos um ano em que começaram no dia 4 de Agosto. A nossa sorte é que por estes lados o Verão é assim a modos que, pelo que passar Agosto numa sala de aulas não é tão horrível como um português possa imaginar.
("A nossa sorte", diz ela!... sniff)

Logo no primeiro dia, a escola do Matthias organizou uma festinha para os alunos novos. Apesar de recorrente, o fenómeno não deixa de surpreender: antes das férias diz-se nas turmas novas desse ano lectivo que no primeiro dia de aulas têm de trazer bolos, pãezinhos e bebidas para a festa, e eles - seis semanas e várias voltas ao mundo mais tarde - trazem.

Ontem houve reunião dos delegados de pais. A escolocracia no seu melhor.
*suspiro*

O director contou os problemas que tem tido para arranjar novos professores. Porque não os há, e porque o Ministério (que atribui os professores segundo o número de alunos matriculados na escola) não acredita que nesta área haja tantas crianças como as escolas dizem que há. Um desalento: quando finalmente há luz verde para um novo posto, já o professor apalavrado tratou da vida dele alhures.
Para complicar, está cada vez mais difícil arranjar professores ou estagiários com qualidade. O Ministério faculta listas com pessoas disponíveis onde constam estagiários (entenda-se: o estágio é o primeiro ano práctico, etapa sine qua non para poder ser professor) que nem o primeiro exame geral passaram, outros têm mais de cinquenta anos...

Depois discutiram-se critérios para triar os alunos que querem frequentar aquela escola. Até agora, o critério era o tempo que demora a chegar à escola usando os transportes públicos. Até 13 minutos entram todos; no grupo dos restantes tira-se à sorte. A partir do próximo ano, pedem-se novos critérios, que devem ser tornados públicos. Mas quais? Quotas para raparigas, já que a escola tem demasiados rapazes? Notas? Relatórios sobre comportamento? Exame de admissão, que anule o efeito de diferentes critérios de avaliação consoante as escolas primárias? Aulas-teste, para ver como é que os miúdos participam e interagem?

Uma das mães pediu a palavra para dizer que é checa, e que no país dela não há entrada em escola alguma ou fase do ensino (básico, secundário, técnico, universitário) sem exame de aptidão. Não passa, não entra. Outro pai pediu a palavra para dizer que é croata, e portanto a checa também o é (não percebi, confesso; e a checa não gostou) e que no país dele não há exames desses e todos se fazem gente. O director riu-se por conta da globalização estar a invadir a nossa escola, e eu quase ia pedindo a palavra para dizer que sou portuguesa, mas preferi ficar calada, não fosse eles perguntarem-me como é essa coisa de não se poder reprovar os alunos.

A propósito de reprovar: a escola tem cerca de 500 alunos, e no ano passado só reprovaram 9. O que é bastante fácil de explicar: fica numa das regiões mais ricas da cidade, o que pressupõe que os pais tenham meios para ajudar os filhos; é um liceu, ou seja: só entram os alunos que na escola primária se distinguiram por excelente aproveitamento; tem fama de muita exigência, sobretudo nas áreas da matemática e das ciências, o que faz com que alunos menos ambiciosos procurem outras escolas.

Falou-se ainda da venda dos livros escolares usados. Um fiasco: algumas turmas esqueceram-se de trazer os livros para vender, outra esqueceram-se de aparecer para comprar. Apesar dos e-mails enviados a todos os delegados de pais, apesar de a organizadora ter percorrido todas as turmas a lembrar a iniciativa. Vamos tentar mais um ano antes de desistir. Mas alguns pais já desistiram: vendem os livros usados na amazon.

Quanto à escola da Christina: pouco sei, porque não sou lá mãe. Além disso é uma escola católica, e portanto pode relegar os factos para o âmbito dos Mistérios...
A grande inovação na turma dela é que, por terem entrado na última fase do secundário, agora os professores tratam os alunos por você. Que o respeitinho é uma coisa muito bonita.

6 comentários:

snowgaze disse...

genial! vender os livros escolares na amazon (os de texto), como é que eu nao pensei nisso! (mais importante, como é que nao me lembrei de os comprar em segunda mao...)

Helena Araújo disse...

Eu sabia que alguém aproveitaria alguma coisa deste post!
Pois é: como é que eu não pensei nisso antes?
Mas ainda vou a tempo, mais ou menos: combinámos com o Matthias que lhe compraremos alguns livros repetidos, para ele poder estudar em casa sem andar a carregar os calhamaços de bicicleta entre a casa e a escola.

snowgaze disse...

olha, essa dos livros repetidos também nao é má... até porque o miúdo se "esquece" frequentemente dos livros na escola, e depois "nao pode" estudar... :)))
Ainda para mais este ano tem uns mesmo pesados (química, bioligia, física, pelo menos, que há uns que ainda falta comprarc)
Isto é que é servico público... :)

snowgaze disse...

por falar em vender, na escola do meu filho fazem um "bazar", no outono e outro na primavera. num sábado de manha os alunos levam para a escola coisas que querem vender. normalmente jogos, livros, coisas assim. é muito útil para comprar skis, patins, esse tipo de coisas, em segunda mao. :)

Helena Araújo disse...

iniciei uma coisa dessas em Weimar, e senti-me muito culpada: é que até então as pessoas ofereciam a família e amigos, e "depois de mim" começaram a vender!
(aventuras da Helena no vai-vém cultural do pós-cortina-de-ferro)

snowgaze disse...

lol mas olha que em geral o preço é simbólico, 5-10 euros por um par de botas de ski usadas e em bom estado é quase dado... ;)