27 junho 2010

Shiprock

Apesar de os canyons de Chaco e de Chelly se situarem sensivelmente à mesma latitude, para ir de um ao outro é preciso desenhar um enorme ómega por estradas que nem sempre são muito boas. Rumámos primeiro para norte, até Farmington, depois para oeste, e na pequena localidade de Shiprock voltámos para sul. Desperdício de tempo? De modo algum!


(imagem encontrada aqui)

Ao cabo de meia dúzia de milhas a sul dessa localidade, entrámos na Indian Route 13, em direcção a sudoeste. A paisagem desértica é atravessada por estranhas muralhas de basalto, lembrando um gigantesco dinossauro enterrado com a crista dorsal de fora. À direita, levanta-se um maciço imponente: Shiprock, montanha sagrada dos navajo, com quase 500 metros de altura. Em geologês, trata-se simplesmente dos diques e da chaminé de um vulcão extinto, mas na tradição dos navajos tudo se torna muito mais rico. Segundo a lenda, quando os diné (o nome que os navajo dão a si próprios, e que significa "o povo que surgiu da terra") vinham a fugir de cruéis inimigos do noroeste, atravessando um canal (talvez o estreito de Bering?), no seu enorme desespero pediram ajuda ao Grande Espírito. Repentinamente, do chão sob os seus pés nasceu um pássaro enorme, que os transportou no dorso durante um dia e uma noite em direcção ao sul. À hora do sol-pôr, deixou-os no ponto onde fica agora Shiprock, e transformou-se de novo em pedra. Em homenagem ao pássaro que os salvou, os navajo chamam a esta formação Tsé Bitʼaʼí: rocha com asas. A partir de então, os navajo ficaram a viver no cimo da montanha, e só vinham ao vale buscar água e cultivar os campos. Um dia, quando os homens estavam a trabalhar no vale, uma grande tempestade abateu-se sobre a montanha. Um raio fendeu as suas encostas, tornando-a inacessível. Impossível ajudar as mulheres, as crianças e os velhos presos no topo das escarpas, que acabaram por morrer de fome e sede. Para não despertar os seus espíritos, é proibido escalar o rochedo.

Um pouco mais à frente, a paisagem muda de novo: Red Valley, terra de magníficas rochas vermelhas e formações semelhantes às de Monument Valley.


A seguir, atravessa-se uma bela floresta de faias (nota mental: regressar lá em Setembro - ou então, ainda melhor: à million dollar highway no Colorado). Em Lukachukai vira-se para sudeste, e pouco antes de chegar a Tsaile encontra-se o north rim do Canyon de Chelly, mais concretamente: o canyon del Muerto.

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