...e pois claro que há relação entre homossexualidade e pedofilia, tal e qual como há relação entre heterossexualidade e pedofilia - quando as vítimas dos homens são meninas.
Estava capaz de apostar que há muitas mais vítimas de heterossexuais que de homossexuais.
De onde se prova que, nesta tragédia da pedofilia, o maior problema é a heterossexualidade.
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Falando um pouco mais a sério: pedófilos, há-os com todas as orientações sexuais, e até mesmo sem nenhuma, digamos assim (casos de adultos que temem uma relação com outro adulto).
Aproveitar este tema para atacar determinados grupos é um erro gravíssimo, e distrai-nos do objectivo central, que é averiguar as causas e os mecanismos, e resolver o problema.
8 comentários:
Distrair do tema central parece ser o objectivo e acho que chegámos ao ponto do vale-tudo. Dê por onde der, há que encontrar um modo de dar a volta à questão e, se possível, sair a ganhar. Como diz a fernanda câncio, anything goes.
Paulo,
anything goes, é verdade, mas isso está a acontecer em todos os lados. O modo como desataram a atacar o celibato dos padres também é uma palermice.
E andamos todos a brincar na rama da questão.
Se instâncias mais altas do Vaticano resolvem começar a atirar contra os homossexuais, é sinal que ainda não perceberam a dimensão do problema, e continuam encerrados nos seus esquemas intelectuais arcaicos. Infelizmente!
Outra questão para que um amigo me chamou hoje a atenção: ninguém está a falar de mulheres que abusam de crianças. Se não estou em erro, a Ana Matos Pires perguntou por estatísticas sobre actos pedófilos de freiras.
Para mim a questão não é freiras ou padres, é adultos e crianças.
Deve haver estudos de medicina e psicologia sobre esta doença. Onde andam os especialistas? Porque é que não aparecem as estatísticas detalhadas do fenómeno (abuso na família, abuso em internatos, grupos juvenis, etc., e percentagem de homem/rapaz, homem/rapariga, mulher/rapaz, mulher/rapariga)?
Porque é que andamos todos a mandar bocas, e não se põem os factos e os conhecimentos da Ciência na mesa?
Penso que foi a Ana Matos Pires. A existirem, seria muito importante que esses estudos viessem cá para fora.
Em relação aos ataques, é muito compreensível que eles aconteçam. Convém não esquecermos que a ICAR passa grande parte do seu tempo a condenar tudo e todos e a imiscuir-se em assuntos de Estado que não lhe dizem respeito.
Uma coisa que não compreendo é como tantos dos nossos, digamos, "chefes eclesiais"(não quero dizer espirituais) dizem coisas tão aberrantes e, às vezes, tão tontas que até confrangem... Por onde andará o Espírito Santo?
Lucy,
desconfio que o Espírito Santo estará a conferenciar com o Pai e o Filho sobre se terá sido boa ideia dar tanta liberdade aos humanos...
Ou então, está a fazer uma psicanálise. É que é muito frustrante tentar, tentar, e não conseguir penetrar certas cabeças demasiado duras.
Aflige-me muito que a hierarquia continue encerrada nos seus esquemas arcaicos, não perceba o que se está a passar no nosso mundo, e ainda tenha o desplante de vir insultar um grupo.
Paulo,
eu acho esses ataques pouco inteligentes - embora compreenda quer o desejo de encurralar a Igreja para a fazer provar do próprio veneno, quer a simples Schadenfreude.
Quanto ao barulho que se está a fazer à volta disto: pretende-se encurralar toda a hierarquia da Igreja, ou os responsáveis e cúmplices (e apenas estes) dos casos de pedofilia, ou toda a Igreja Católica?
Dizes que a Igreja passa a vida a condenar e a imiscuir-se em assuntos do Estado que não lhe dizem respeito. Eu acho que lhe dizem respeito, e que a Igreja tem o direito de dar a sua opinião onde lhe apetecer - tal como as ONGs, os lobbys, os sindicatos, os políticos, os políticos populistas, os fazedores de opinião, etc.
Uma outra questão é a do poder da Igreja - talvez eu seja ingénua, mas acho o seu poder muito relativo. Primeiro, porque não há "uma Igreja", mas uma enorme pluralidade dentro da Igreja Católica. Segundo, porque a Igreja diz uma coisa, e as pessoas fazem o que entendem (a taxa de natalidade em Portugal, país ao que dizem profundamente católico, aí está como prova da liberdade das pessoas em relação às orientações que recebem).
Tenho uma relação ambivalente com estas orientações e imposições da Igreja. Por um lado, não concordo com muitas delas; por outro lado, acho necessário que alguém aponte uma perspectiva moral, desde que não se faça disso lei (por exemplo, que o debate sobre a eutanásia e o aborto seja *enriquecido* pela experiência da Igreja, e não pirateado por posições fundamentalistas antagónicas); finalmente, há momentos em que me orgulho: quando um João Paulo II diz ao George W. Bush e à sua pandilha que a guerra do Iraque é um crime, ou quando um Bento XVI diz em Angola, perante o Presidente da Républica, que o modo como a riqueza desse país é distribuída é uma profunda injustiça.
Quanto à questão moral: que autoridade moral tem a Igreja para andar a mandar palpites para o mundo, se os seus membros cometem gravíssimas asneiras?
Isto dá pano para mangas. Deixo apenas duas ideias:
- Cada vez mais penso que se deve olhar para o que uma pessoa diz e não para o que ela faz - as nossas ideias e os nossos ideais devem ser e são maiores que nós próprios. Mal ficará o mundo se os seus valores não puderem ser mais ambiciosos que aquilo que os seus formuladores conseguem realizar. Estou a pensar, por exemplo, nas pessoas que escreveram a Constituição alemã, e que provavelmente não seriam tão virtuosas como o texto que escreveram.
- A Igreja é um lugar de realidades diversas: muito pecado e muita santidade. Nela encontras padres e bispos de cérebro esclerosado, leigos fundamentalistas e cegamente obedientes, bem como padres, freiras, bispos e leigos que fazem um trabalho admirável de "caritas", e estão ao lado dos mais fracos onde mais fede, onde mais ninguém quer ir. Penso que não preciso de dar exemplos sobre esse trabalho.
Vamos criticar a Igreja como um todo? Ou vamos fazer uma distinção? Será que quando alguém da Hierarquia (ou de entre os leigos - e lembro algumas crónicas do João César das Neves) faz um erro é legítimo criticar toda a Igreja, mas quando alguém age de forma correcta e admirável subentende-se que o faz a título individual?
Lembro aqui aquela passagem da Bíblia em que Abraão desata a regatear com Deus: "e se houver cinquenta justos, poupas a cidade? E se forem só dez?"
Quantos justos são necessários para salvar a face da Igreja Católica?
Repara: a ICAR colocou-se num pedestal tão intocável que só com uma espécie de guerrilha é que se consegue atingi-la. Daí eu ter dito que compreendia os tais ataques. Uns serão mais inteligentes que outros, como também é natural.
Em minha opinião, o que está em questão agora são os casos específicos que deveriam ser julgados, se bem que a cumplicidade no seio da ICAR seja enorme. E é por isso que considero cada vez mais repugnantes as reacções dos membros mais altos da hierarquia. Não serão todos, como é óbvio. Mesmo por cá também já se ergueram algumas vozes deplorando os casos de pedofilia no seio da Igreja.
Tudo isto é uma questão de moral, sim. Para um ateu nascido numa família católica praticante, que foi baptizado e frequentou a catequese, mas cedo percebeu que não conseguia encontrar Deus em lado nenhum, há coisas que fazem muita confusão. Não reconheço o direito a nenhum padre, bispo ou papa, de mandar palpites sobre o que eu faço ou deixo de fazer. E isto não é de agora. É desde sempre. Porque estou farto de ouvir moralizações de Nogueiras Pintos e de abomináveis Césares das Neves. E porque estou farto de ver a ICAR a proteger todas as suas pontas como as galinhas abrindo as asas para proteger os pintos. Vou contar uma história:
Há pouco tempo foram descobertas as vigarices do pároco de uma pequena freguesia do distrito de Lisboa. O centro social, gerido por ele com a boa-fé dos crentes, foi de tal modo defraudado que correu o risco de fechar as portas por falência. Um secretário do patriarcado (talvez a função seja designada por outro nome) foi investigar o caso e concluiu-se que houve de facto danos muito graves (para não dizer um roubo descarado). Consta que as dívidas vão (ou estão) a ser assumidas pelo patriarcado. Assim fica tudo em paz, não se fala mais no assunto, pelo que sei apenas o jornal lá do concelho noticiou o caso e o pároco foi afastado. Para onde? perguntas-me tu. Para uma paróquia chiquíssima ali ao Estoril.
Ainda sobre este assunto, gostava de deixar aqui alguns links:
Bento XVI pede aos católicos que façam penitência.
Através da Joana Lopes cheguei a esta carta aberta aos bispos católicos, escrita pelo teólogo Hans Küng.
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