28 abril 2010

be afraid, be very afraid (2)

Quando a recente tragédia grega começou a ser conhecida, os meios de comunicação alemães encheram-se de imagens e notícias sobre os gregos a protestar e em greve, os gregos a viver largamente acima das suas possibilidades, os gregos ricos a fugir aos impostos, o governo grego a usar truques para enganar a Europa. Uma vergonha de país, onde é preciso pagar luvas para obter serviços estatais, onde os habitantes dos bairros mais chiques pagam pouquíssimos impostos, onde o pessoal protesta "por tudo e por nada", cego ao beco sem saída onde o país se meteu.

Esta semana já mostraram auto-estradas e estádios portugueses vazios. Be very afraid: é apenas o início. Os podres e as fraquezas do meu país vão andar por aí, expostos cruamente e até com lentes de aumento.

7 comentários:

Rita Maria disse...

O pior de tudo é a entrevista do ministro das Finanças ao Spiegel. Estava eu a pensar para comigo 'ah, finalmente, vao encostar estes políticos alemaes contra a parede' e nada disso, é o homem a tentar dar uma entrevista equilibrada e o jornalista a puxar para o populismo e aquela raivinha que é o equivalente zangadinho do lágrima de crocodilo. Argh, que raiva!

(no meio disto tudo, terei perdido metade da minha consideraçao pela Merkel)

Helena Araújo disse...

Rita,
passas-me o link dessa entrevista, ou só está na revista em papel?

A Merkel foi eleita pelos alemães.
E não sei que parte das honras lhe cabem, que parte cabem ao sistema. Num país como a Alemanha, é mais fácil ser político...

Este é um caso para uma Comissão muito forte, e um Parlamento Europeu fortíssimo. Infelizmente, ainda não chegámos aí. Parece-me que a Europa está a chegar a uma gravíssima crise.
Será o princípio do fim?

(Vou já tratar de conseguir a nacionalidade do país onde resido. Pode ser que volte a ser importante.)

Helena Araújo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rita Maria disse...

Nao encontrei a entrevista online, queres que te faxe?

A Merkel foi eleita ppelos alemaes, por isso nao me parecia mal que fizesse o que convém aos alemaes. Nao acho que a derrocada da economia europeia lhes convenha.

Por outro lado, se está mesmo a adiar uma resposta definitiva até às eleiçoes de NRW, isso é de um cinismo e de uma irresponsabilidade absolutamente criminosos, revolta-me as entranhas!

Helena Araújo disse...

Não tenho fax (não contes a ninguém). Talvez em papel, juntamente com aqueles famosos dvd?
Talvez já este sábado? (estamos a preparar-nos para te invadir, já sabias?)

Voltando à Merkel: talvez estejamos outra vez a falar de muitas coisas diferentes.
Eu estava mais virada para a culpa da Alemanha na situação dos países periféricos europeus. Essa de ser a grande ganhadora dos alargamentos, e de ter uma balança de exportações cronicamente excedente. Como é que a Merkel se pode virar para os alemães e dizer "meus amigos, o nosso desafogo económico é pago pelos vizinhos, se queremos uma Europa forte temos de mudar de vida e fazer sacrifícios"?

Quanto a esta hesitação que está a destruir o que restava de confiança no sistema: parece-me que é mais sinal de sentido de responsabilidade que cálculo político.

io disse...

Infelizmente, creio que nem vão precisar de lupas e lentes de aumentar. Infelizmente.

Helena Araújo disse...

Rita,
2-1: andam por aí a dizer que a Merkel não decide nada até essas eleições. Ai.
Também andam a dizer que já se lhe esgotou o plafond de ajudas a estes e àqueles.

io,
sim, é verdade que temos alguns podres. No entanto, esta crise é provocada por factores algo externos a nós (o maldito rating) e custa-me o modo como os países não cumpridores vão ser completamente enxovalhados. Será que precisamos que nos ponham assim um espelho cru à nossa frente? Ou será que este apontar o dedo a alguns países vai acabar de vez com a noção de dignidade nacional que devia ser elemento básico da comunicação entre os membros da UE?