08 fevereiro 2010

férias

Porque é que atravesso a Alemanha, perguntava eu, se afinal todo o país está tão homogeneamente coberto de branco?

Porque, posso responder agora, os amigos do Lago Constança hasteiam uma bandeira de Portugal sempre que os visitamos; e porque só os primos da Floresta Negra se lembravam de passar a tarde a brincar em grutas construídas na neve. Em suma: o que nos faz mover são as pessoas.
Oh, que admiração.


Esta não foi a semana melhor para fazer ski. Chuva gelada, nevões, vergastadas de vento.
Andar dentro das nuvens é bem diferente daquilo que imaginamos ao voar sobre elas. É atravessar um nevoeiro denso que se nos cola à roupa em forma de água.
Mas houve dias, ou apenas momentos, em que o céu se abriu sobre as pistas de neve fresca, e descíamos em curvas suaves, como se as tais nuvens míticas da janela do avião existissem realmente, como se fosse possível deslizar sobre elas.


Queria conseguir pôr em fotografia aquela árvore junto ao corredor do lift, macieira talvez, e os seus ramos nus cobertos de neve transparente de sol contra o céu muito azul.
Não era esta, e era muito mais do que esta imagem:



E queria mostrar a pequena península no lago Schluchsee tão bela como nos apareceu na manhã de quinta-feira: o pavilhão recortado contra a névoa rente à água, e a neve tinta de sol.
Nesse dia não tive coragem para parar o carro e fazer a fotografia da minha vida, de modo que passei o resto da semana à espera de um momento semelhante.
(Primeira lição de fotografia: não hesitar.)
No último dia antes da viagem de regresso, ao fim da tarde, encontrámos a península assim:


Desta vez não hesitei. Encostei o carro à berma da estrada, e subimos para a paisagem, ou seja, começámos a andar sobre uma camada de neve mais de um metro acima do que seria passeio e parque. Avançar em neve fofa não é fácil: volta e meia uma pessoa enterra-se até ao tronco.
Não me lembro de ter rido tanto para fazer uma fotografia.



Mas nem tudo é riso. Justamente no momento em que decidimos regressar a casa, uma criança teve um acidente na pista onde tínhamos passado um óptimo dia, e que eu achava tão fácil e segura. Ficou caída na neve sem se mexer, foi levada de helicóptero para o hospital.
Entrámos no carro com um nó na garganta.


6 comentários:

Gi disse...

Lindas fotos, Helena.
Coitada da criança. Eu tenho um medo do ski que me pelo.

Helena Araújo disse...

Obrigada, Gi.
Só uma delas foi feita por mim (a do lago).
Este blogue vive da delegação de tarefas...

E sim: coitada da criança.
Eu já não tenho medo do ski porque só ando onde me sinto realmente segura - quer no que diz respeito às minhas capacidades, quer no que diz respeito ao outros utentes da pista. Se há gente a mais, ou demasiado rápida, saio.

Na última descida o meu cunhado levou-me para uma pista vermelha. Já estava cansada, enchi-me de medo, desci em escadinha (ou seja: com os esquis paralelos à montanha, degrau a degrau, 10 cm o da esquerda, 10 cm o da direita, 10 cm o da esquerda, 10 cm o da direita...). Levou uma eternidade, mas não me importa. Foi enquanto eu ia descendo tal e qual como me sentia segura, sem me preocupar minimamente com a figura que estava a fazer, que o tal miúdo teve o acidente na pista azul do outro lado da encosta.

io disse...

Oba! Voltaste! Belas fotos, belos posts e as burkas, ao ralenti, à tua espera. ;-)

Helena Araújo disse...

Voltei, voltei!
E nenhum de nós partiu uma perna nem nada! Ufff!

E já que escreves burka, diz lá:
burqa, burka, burqua ou burqha?
Ou quê?
Só por causa dos problemas de ortografia já era boa ideia acabar com ela...
;-)

io disse...

Perguntas bem?
Pois não é que não sei.
E sim, inteiramente de acordo: exterminemo-la!

Helena Araújo disse...

:-)