(Não pode uma pessoa sair descansadinha para uma semana de férias, sem que o pessoal cometa a indelicadeza de começar a discutir coisas interessantes como a burqa. E uma pessoa a regressar de férias, e a desatar a correr, gritando ofegante: esperem por mim! esperem por mim!)
Ora então: descubra a diferença entre estas duas cenas.
No primeiro caso, é uma afirmação de liberdade. Um bocado pateta para o meu gosto, mas uma afirmação de liberdade. Em qualquer momento esta miúda pode dizer "agora vamos brincar a outra coisa", e aposto que a mãe solta um suspiro de alívio, em vez de mandar os filhos mais velhos matar a irmã.
Trelas há muitas. Esta é um pouco mais surpreendente por ser tão visível, mas desconfio que a personagem se sentaria roubada no seu acto provocatório se tivesse lido um artigo que apareceu há alguns anos numa revista alemã tipo "Pais e Filhos", no qual uma mulher (alemã, com curso superior) fazia a apologia da divisão de tarefas e da submissão feminina. Ao marido compete ganhar o pão da família, dizia ela, e à mulher compete cuidar dos filhos e da casa, criando um ambiente acolhedor e harmonioso. E chegava ao cúmulo (ao cúmulo, digo eu) de dizer que o sexo é muito melhor quando os papéis estão assim distribuídos, e se sabe bem quem é que manda.
Em todo o caso: a dependência e a submissão como afirmação de uma escolha livre.
No segundo caso, não sabemos.
Pode ser uma mulher que decidiu em plena liberdade cobrir completamente o seu corpo, e que em qualquer momento pode dizer "hoje não me apetece, está demasiado calor para usar burqa".
Pode ser uma mulher cujo contexto cultural a leve a aceitar a burqa como parte da ordem natural das coisas, mesmo que não goste (é isto a liberdade?).
Pode ser - desculpem a linguagem - mercadoria importada com certificado de origem e garantia de qualidade, já que "as raparigas que crescem na Europa acabam por se estragar".
"Descubra a diferença" é todo um programa. A discussão sobre o uso da burqa na Europa não pode ser separada do contexto concreto de cada uma das mulheres que usam burqa na Europa.
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"Deus odeia as mulheres" é o título do post de onde tirei a fotografia seguinte. Quanto mais a vejo, mais me irrita. Tal como me irrita o homem da imagem anterior: não terá vergonha de ir todo fresquinho de t-shirt, enquanto a mulher passeia à torreira do sol debaixo de panos pretos?
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