Ia responder na mesma caixa de comentários, mas parece-me que é melhor fazer um post sobre este fenómeno do prazer de impunemente mal-dizer e destruir a reputação de quem quer que tenha um pouco mais de visibilidade.
I. Contaram-me que foi nomeada para presidente de uma comissão de não-sei-quê uma pessoa de grande competência e vastos conhecimentos na área em causa. Mal iniciou o trabalho, começaram os habituais ataques ad hominem na imprensa. A pessoa resmungou "não me pagam para me sujeitar a isto", ou algo do género, e demitiu-se. Moral da história: a continuar assim, o critério para escolher pessoas para cargos importantes não será a competência, mas a capacidade de resistência aos ataques pessoais. Belas perspectivas para o nosso país.
II. Há mais de vinte anos (e isto para dizer que o fenómeno não é só de agora, e não é só da direita contra a esquerda), numa sessão pública, a então Secretária de Estado do Planeamento e Desenvolvimento Regional, Isabel Mota, fez uma gracinha: quando lhe perguntaram algo sobre o PDRITM, ela terá dito "PDRITM? PDRITM? É os PDR, é o PDRAM, é o PDRITM, e tantos mais - uma pessoa até se perde...", e a seguir respondeu correctamente à pergunta que lhe fora feita.
O Expresso fez logo uma notícia sobre aquela Secretária de Estado não conhecer o significado das siglas dos programas pelos quais é responsável.III. Pela mesma altura, o meu pai teve honras de primeira página no Expresso, que afirmava que ele concorria em representação de interesses particulares a uma fatia do bolo repartido pela Comissão a que presidia. O caso era simples de resolver: ele tinha um nome semelhante (nem sequer era igual) a uma das pessoas que concorria.
A tradição portuguesa de mal-dizer entrou numa dinâmica de não deixar pedra sobre pedra.
Começo a acreditar que tanto faz que Sócrates se demita ou não. O próximo - aposto com quem quiser - também vai ser enxovalhado. Se não for ridicularizado por tudo e por nada como aconteceu com o Santana Lopes, se não for perseguido pelas casas que assinou ou pelo curso que tirou, vai ser por ter batido na avó ou no neto, por não ter sabido separar o lixo correctamente, por ter ido a 135 km/h na autoestrada. E haverá sempre uma fuga ao segredo de Justiça, um bocado de haxixe que lhe é metido no bolso, um truque qualquer.A tradição portuguesa de mal-dizer entrou numa dinâmica de não deixar pedra sobre pedra.
Independentemente do seu carácter, se uma pessoa aceitar servir o nosso país num cargo político, imediatamente abre a época de caça contra ela. Torna-se incompetente e corrupta por definição.
Não sei a quem interessa esta estratégia. Não sei se toda a gente que entra na tramóia (os que escrevem, os que lêem, os que comentam "já sabes que...?") o faz por cálculo, por mero prazer, ou por ingenuidade - ou misturas aleatórias de tudo isto.
Mas estamos todos a destruir o nosso país.
(Atenção: não discuto se Sócrates é culpado ou não. Parece-me que ninguém em Portugal está em condições de o saber. Como é possível tirar conclusões antes de ter havido um processo ou um inquérito parlamentar, e a partir de meros elementos desgarrados entregues a um jornal sabe-se lá com que intenção?)
Se me deixassem mandar (já me conhecem: fujam todos!) obrigava o jornalista que publica uma peça propositadamente mentirosa ou mal investigada a pagar do seu próprio bolso o mesmíssimo espaço para informar sobre os factos correctos. Não, não é uma nota minúscula, perdida entre as cartas dos leitores, a dizer que o jornal se enganou, é o mesmo espaço, o nome do jornalista responsável e com custos suportados por este (ou pela sua Seguradora - o mercado acabaria por ter uma interessante função reguladora). Por exemplo: o jornalista que acusou o meu pai de ser corrupto, teria de pagar o mesmo espaço na primeira página, onde assinaria uma notícia informando que afinal tinha havido uma mera confusão de nomes.
Se fosse uma notícia que ocupasse várias páginas centrais, por simples preocupação ecológica concederia que não fosse usado todo o espaço para a reposição da verdade, mas apenas o necessário para expor esta integralmente, pagando o jornalista todo o espaço que foi usado para a mentira.Tenho a certeza que num instante se acabavam estas notícias de atirar o barro à parede a ver se pega.
Eu sei que a culpa não é toda dos jornalistas. Mas é preciso dar uma solução à parte do esterco que a alguns deles se deve.
Agora vou pensar um bocadinho como é que se resolve a parte da culpa que cabe à Justiça, e volto já.
Uma vez esses dois problemas resolvidos, não tenho dúvidas que a fama dos políticos melhora. Deixam de ser todos corruptos e incompetentes por mera definição. E não será por falta de liberdade de expressão, mas por responsabilização dos agentes.
E então, finalmente, ufa, já não era sem tempo, podemos discutir o carácter e a competência não dos "políticos portugueses", mas de cada um deles.
(O Thomas Morus inspira-me tanto!)
***
Anda uma pessoa toda contente a pensar que acabou de inventar a roda, no entretanto vai dar um passeio por outros blogues e descobre que já foi ultrapassada pela direita por diversos veículos rolantes. No caso, este post do Ricardo Alves, que refere este outro, do Francisco Proença de Carvalho, no 31 da Armada. Pensar que foi preciso chegar a 2010 para um post do 31 da Armada me passar à frente! Só se pode concluir deste facto que isto está mesmo muito mal para Portugal.
E então, finalmente, ufa, já não era sem tempo, podemos discutir o carácter e a competência não dos "políticos portugueses", mas de cada um deles.
(O Thomas Morus inspira-me tanto!)
***
Anda uma pessoa toda contente a pensar que acabou de inventar a roda, no entretanto vai dar um passeio por outros blogues e descobre que já foi ultrapassada pela direita por diversos veículos rolantes. No caso, este post do Ricardo Alves, que refere este outro, do Francisco Proença de Carvalho, no 31 da Armada. Pensar que foi preciso chegar a 2010 para um post do 31 da Armada me passar à frente! Só se pode concluir deste facto que isto está mesmo muito mal para Portugal.
34 comentários:
A partir de tudo o que sei do mundo, continuo a pensar que vês a história do ovo e da galinha a partir da perspectiva errada. Quantos casos queres de corrupçao que nunca chegou aos jornais, de escândalos que eles sabem e nao publicaram, etc?
Quanto à tua proposta de forma de reposiçao da verdade: parte dela nao é nova, isto é, a que dita que deve ser dado igual destaque à notícia e à sua correçao, ou seja que um erro numa notícia de capa deveria ser capa. Isto nao se cumpre nunca, mas nao tenho dúvidas em que deveria e apoiaria qualquer passo nesse sentido.
Quanto ao resto, a parte do pagamento por parte do jornalista, acho uma ideia perigosíssima (deve ser de andares a ler demasiados blogues liberais). Em primeiro lugar, acho perigoso porque essa tua multa (devo supor multa definida em tribunal ou coima exequível por qualquer polícia?) sugere uma substituiçao de algo que já existe, um processo civil e/ou criminal, processo esse que permite cobrir muitas mais matizes e tendencialmente poderá ser muito mais justo, obrigando quando justificável a pagamentos muito mais altos do que o preço de uma capa de jornal. Por um preço fixo num acto criminoso nao o torna menos apetecível, basta imaginares o que acontecia se o preço fixo do assassínio fossem 150.000. Passava a ser uma coisa que podíamos considerar.
Em segundo, é muito perigosa porque substitui a deontologia pelo dinheiro e isto é fundamentalmente errado. Primeiro, pelo poder do dinheiro ('deixa estar, publica lá isso que eu depois pago por ti') e a corrupçao que lhe está associada (nao só a do 'publica lá isso' mas também a do 'ah, e tal, agora nao me apatece verificar, olha, seja o que for, assim como assim é só um quadradinho da 5a página, isso nem sao 100 euros'). Imagina um padre que sabe que contar o segredo de confisao se faz por 50 euros ou um médico com pouca vontade de ir pescar o bisturi do meio do paciente mas que sabe que isso se faz por 1500. Dirás: mas nem o padre nem o médico fariam uma coisa dessas. E eu respondo: também 90% dos jornalistas nao. Para convencer os restantes, podemos escolher entre apostar no seu bolso e apostar na sua honra. A primeira encara-os como potenciais criminosos a tempo inteiro, a segunda diz que lhes demos uma responsabilidade de que queremos que estejam à altura. Acho que sabes tao bem como eu qual é que funciona melhor, mais que nao seja também tens filhos. É a diferença entre o tabasco e uma conversa séria.(gostaste do também? nao sei de onde me saiu).
Num parentesis a respeito da mesma deontologia e que constituirá um limite mais prático à tua ideia, um jornalista tem, tanto como o dever de verificar as suas fontes, de poder confiar quando três ou quatro dizem o mesmo.
Mas a razao mais séria pela qual acho a tua ideia perigosa é o facto de isolares assim o jornalista. Neste momento, o medium paga pelos erros que comete, nao o jornalista, que sofre apenas as sançoes relevantes a quebras de deontologia, se as ouve. E isto é fundamentalmente correcto porque um jornal, ou uma televisao, ou uma rádio, nao é uma coisa onde escrevem muitas pessoas isoladas, é uma organizaçao com várias instâncias de controlo e, desde a discussao interna, passando pela investigaçao até à publicaçao, feito normalmente em conjunto. É uma pessoa colectiva. E é bom que assim seja, tanto para nao desresponsabilizar editores e redactores à custa de arruinar um estagiário, como para garantir que várias perspectivas, olhos e filtros estao presentes antes de um jornal chegar às nossas maos.
Quanto ao resto, ficamos na mesma: a ti tanto te dá se Sócrates é culpado ou nao, eu pelo contrário gostava de saber. E incomoda-me muito o facto de, conhecendo Portugal, nunca ir ficar a saber.
PS: Se vier aquela senhora dos erros ortográficos, pede--lhe desculpa da minha parte.
Rita,
não digas mais nada, está-se mesmo a ver que hoje inventei uma roda quadrada...
Vá lá, por partes:
- Quero que tudo o que é escândalo verdadeiro chegue aos jornais, mas nenhum inventado/forjado para queimar alguém.
(Já tinha dito isto noutro comentário, mas desapareceu)
- Ainda bem que concordas com a necessidade de dar à correcção o mesmo destaque que foi dado à notícia. Fazemos uma petição? ;-)
- Quanto aos custos: tens toda a razão, nem vale a pena falar mais nisso.
- Quanto ao nome do responsável pela asneira: acho fundamental que alguém que está disposto a sujar o bom nome de outrém seja responsabilizado correndo o risco de perder o seu próprio bom nome. Até achava graça a um registo de correcções e nomes dos jornalistas envolvidos, para se poder ir desenhando uma tipologia. Se se lembram de usar um estagiário para esse fim, a coisa resolve-se por si própria: o desgraçado sabe que ou se demite antes de ser obrigado a emprestar o nome, ou vai arranjar sarilhos para o seu futuro profissional.
Se eu tiver de decidir entre a pena que tenho do estagiário, e a pena que tenho da pessoa cujo nome vai ser enxovalhado por um artigo mentiroso, qual achas que pesa mais?
E não me digas que numa redacção é impossível ver quem teve responsabilidade na criação de uma notícia mentirosa?
Finalmente, não me entendas mal:
- uma coisa são os factos e as culpas. Também eu gostava imenso de saber se este "encostamento" do Sócrates ao Face Oculta é um facto ou uma armadilha;
- outra coisa é este estado generalizado de caça ao político, a todos os políticos. Tanto faz que esteja lá o Sócrates como outro qualquer - vão ser todos, sempre, feios porcos e maus.
Nao precisamos de uma petiçao, porque já é lei. Mas podemos ir para a frente do tribunal com um cartaz a dizer "façam cumprir a lei" anytime. Podemos fazer isso no Verao, antes do empadao. No teu cartaz há um asterisco a dizer "isto nao é contra o Governo, é mais sobre os jornalistas".
Entretanto, quanto ao bom nome do jornalista, acho muito bem que esteja em jogo e acho que a comissao de carteira devia ser muitíssimo mais rigorosa na aplicaçao de sançoes.
Mas gosto que a responsabilidade esteja na redacçao como um todo, tal como gosto de ser tida responsável se a minha estagiária faz erros e que o meu chefe responda em parte pelos meus: profissionalmente, enquanto que regidos pelas mesmas regras e objectivos, somos um todo, com uma hierarquia e um processo de tomada de decisoes pelos quais nos sentimos responsáveis.
Já se eu cometer um crime singular indo contra as regras da empresa, usurpando poder e contrariando as formas estabelecidas de tomada de decisao, a culpa é só minha e tribunal comigo. Que te parece?
E agora sobre os jornalistas vs políticos: como de costume, quem sai de fininho sao os grupos económicos.
Ah.................
(um ah muito espantado, em coro por favor)
(por outro lado (eu tenho um talento escondido para o Correio da Manha) os jornalistas sao mais idiotas, porque depois nunca vao parar à direcçao de grupos económicos)
Fazíamos uma petição a pedir que se cumpra a lei, e uma manif em frente a São bento para dar força à petição. Parece que agora está na moda.
Que cor achas que seria aconselhável?
Azul e branco parece que corre mal.
Verde como a revolução iraniana? Laranja como a ucraniana?
Ou vermelho e verde, que nos dá um ar de defender a pátria?
E no meu cartaz haverá um asterisco a dizer:
"isto não é pelo Governo, apesar de ser contra os jornalistas"
Eu não gosto do título "o Público errou" (ou outro jornal qualquer). Preferia ver lá um nome - seja de quem fez a redacção final da notícia, seja de quem pesquisou mal, seja do chefe da equipa, seja do chefe de redacção. Mas um nome concreto.
Finalmente: se tu cometesses um crime singular indo contra todas as regras da empresa e tal, eu, que sou tua amiga, arranjava maneira de conseguir uma fuga ao segredo de Justiça para deitar areia para o teu processo. Não te preocupes, eu safo-te.
;-) muitas vezes
Helena, já que sou a leitora cujo comentário deu origem a este post, deixe-me dizer-lhe:
#1 não tenho prazer em dizer mal, mas actualmente é difícil poder dizer bem da nossa política e dos nossos políticos; por isso, desabafo;
#2 continuo a achar que a situação em que o país está atrai corruptos para a política. Alguns não corruptos serão tentados, acharão que podem fazer alguma coisa útil, mas em breve se desenganam. Aliás o seu episódio nº 1 é um bom exemplo;
#3 praticamente em todos os partidos políticos com assento parlamentar, do CDS ao BE, há/ houve/ tem havido dirigentes/ autarcas envolvidos em processos judiciais por corrupção;
#4 é importante saber que espécie de pessoas são aqueles que nos (des)governam, apenas para sabermos se podemos ou não confiar neles;
#5 quando a Justiça parece não funcionar são praticamente inevitáveis os julgamentos na praça pública. É horrível e pode calhar a qualquer de nós, mas calha sobretudo a quem voluntariamente mais se expõe;
#6 os jornalistas hoje em dia, se calhar por vontade e pressa em obterem um bom título ou uma notícia sensacional, mal têm tempo de verificar as fontes, embora não acredite que não faça parte da formação deles;
#7 concordo absolutamente que o desmentido ou a correcção deveriam ter a mesma ênfase da notícia errada, e julgo que em teoria já é assim, embora, como diz a Rita, na prática muitas vezes não funcione.
A ver se desta vez acerto sem ter de apagar o comentário:
Quanto aos grupos económicos, Rita, vê o que diz o Ricardo Alves no post que referi:
"Tudo visto, os senhores dos grupos económicos estão todos enrolados uns com os outros. Os media são um meio, e não sei se o próprio governo não será um meio também. Quando as coisas aquecem, fazem umas trocas e baldrocas, tiram este para o pôr acolá, eu compro-te a tua empresa e tu a minha, e vamos lá tentar não dar cabo do sistema que mantém o dinheiro a correr.
Ah, e às vezes nós votamos. O que não lhes interessa."
Sim, sim, eu li. Ele tem toda a razao. E agora?
PS: Eu ainda gosto mais de o Público errou do que do nome concreto, sorry.
PPS: Tens toda a razao, como me posso ter esquecido das cores? Acho que fico bem de azul escuro. Que te parece? Depois levamos também um saco azul metafórico, que usamos de seguida para ir às compras nos antiquários da Rua de S.Bento.
Azul escuro no Verão? Estás maluca? Já agora, vamos de burqa!
Bem, depois discutimos as cores.
Agora tenho de sair, vou cobrir a cabeça de cinza por causa de umas asneiras que disse ali mais atrás, no post.
Gi,
desculpe, só agora vi o comentário, e estou mesmo a sair.
Desculpe, até parece que estava a falar do seu prazer de dizer mal. Não era essa a minha intenção.
Desculpe também não responder agora, mas acabou-se-me o tempo de antena. Volto depois.
Que exagero de "desculpes"!
O do meio era o mais importante.
Fazendo uma achega sobre "#4 é importante saber que espécie de pessoas são aqueles que nos (des)governam, apenas para sabermos se podemos ou não confiar neles;", relembrando que várias vezes se viram casos de políticos acusados em tribunal e até condenados que ganharam eleições.
Em Portugal, todos, mas todos tentam armar-se ao chico-esperto. Nao tenho dedos para os ensinamentos que recebi de como tramar o Estado ou as empresas, essas entidades que podemos roubar sem quaisquer problemas. És considerado tolo se não o fizeres. Essa é a cultura, portanto quando temos cenas caricatas de acusados a defenderem-se de que o que fizeram é ilegal, mas generalizado, é verdade!
O que existe é hipocrisia. Em Portugal, os queixumes entram-me por uma orelha a 10 e saiem a 200. O país que existe é semeado debaixo. Só é ladrao quem é apanhado e o que mete impressao é o deleite com que os que nao foram apanhados esgaçam os que o foram.
Bom post Helena.
Bastava a história do seu pai para responder a vários comentários.
Apenas alguns pontos :
1. Corruptos existem em todas as actividades. E onde há um corrupto há um corruptor ( o patrão de uma empresa, de um jornal ?? )
2. No caso dos políticos é mais grave. Gerem Mas têm que ser julgados pela justiça e não em praça pública, qual Tribunal Popular do século XXI.
3. Os jornalistas não podem ser desculpados porque não tem têm tempos para verificar a história que vão contar ( esta é para a Gi). Quem vai escrever algo que pode afectar definitivamente a vida de uma pessoa tem que confirmar e reconfirmar os dados todos. Se o que contar não for provado...aplique-se o mesmo critério que a todos os corruptos, seja julgado pelos tribunais e condenado.
4. Last but not least : as ditaduras e regimes autoritários são os regimes mais corruptos que há : sonegam a liberdade às pessoas e como não há liberdade de imprensa ninguém sabe.
Cumprimentos
Cá estou eu de novo.
Amanhã conto-vos uma coisa que nem vão acreditar (eu se não tivesse visto também não acreditava). Preparem-se para o próximo post!
(eu ainda estou a rir)
Quanto as estas coisas inacreditáveis também:
Gi,
expliquei-me mal. A partir do seu comentário dei um salto para a dinâmica de dizer mal que existe na área do jornalismo, e comecei por dar exemplos.
Compreendo que as pessoas desabafem, mas o que se passa em Portugal é assustador. Parece que estão todos conjugados para "suicidar" o país. E digo "suicidar", porque o país somos nós todos. Não é que conheça muitos países, mas em nenhum dos que conheço vi esse desalento e essa profunda desesperança. A Política é feita por corruptos, a Justiça está vendida, o Jornalismo também, a Polícia é incompetente. Será que só escapa o Exército?
Voltando ao seu comentário, no post sobre o do CD com dados bancários de pessoas que fogem ao fisco: o primeiro político a passar por corrupto no seu desabafo seria o Teixeira dos Santos. Ora bem: não acredito que o Teixeira dos Santos tomasse a decisão de não comprar o CD só para não "descobrir a careca" a políticos corruptos. Mais depressa o vejo a demitir-se do cargo de Ministro das Finanças.
Há muitos políticos que não estão metidos em processos por corrupção. Só por esse facto devíamos ter mais cuidado quando dizemos "todos os políticos são isto e aquilo". Há muita gente competente e honesta que aceitou servir o país num desses cargos e que não merece ser alvo de ataques feitos com base em invenções.
Devíamos ter vergonha de aceitar este mal-dizer e este constante enxovalhar das pessoas com base em mentiras.
Contaram-me de alguém que trabalha num gabinete ministerial e "morre" de medo que os holofotes do jornalismo se virem para ele. Não é que tenha má consciência, o que tem é terror do que lhe possa acontecer devido à má fé e à "private agenda" de alguns jornalistas.
Isto é, pensando bem, voltar ao tempo da PIDE.
Também há políticos muito corruptos (e muito me espanta que os reelejam!) e há jornalistas que tentam por todos os meios fazer um trabalho competente e sério.
Há de tudo. O ideal seria tentarmos valorizar o trabalho das pessoas sérias, e acreditar no justo castigo dos outros.
António P.,
gostaria de acrescentar mais um apontamentos ao que disse: há um estudo que mostra que é impossível apagar inteiramente os vestígios de um mal-dizer sobre alguém. Se eu digo "o António P. bateu na avó", as pessoas começam a lembrar-se daquela vez em que de facto num post seu lhes pareceu que o António é um bocado violento e tal. Se eu vier dizer no dia seguinte que afinal não era este António P., as pessoas apagam a informação "bateu na avó" mas não o resto da imagem que formaram de si à luz de uma informação falsa.
Em suma: dizer algo de mal sobre uma pessoa é uma enorme responsabilidade.
Para piorar, a gente tende a acreditar no que quer, independentemente dos desmentidos.
Veja-se o fenómeno "Protocolos dos sábios de Sião".
Veja-se o que aconteceu ao Paulo Pedroso no caso Casa Pia.
Abrunho,
sendo assim, achas que devemos pedir ajuda à Espanha, para tomarem conta de nós? ;-)
Se pudesses escolher um país tutor para Portugal (que vergonha!), qual escolhias?
(não te esqueças de vir aqui amanhã de manhã - prometo que tenho um post como não imaginas)
(hehehehe, este é o único blogue com "não perca os próximos episódios", como as telenovelas)
Cada país tem uma ética social e um estar na vida. É como uma cortina que nos envolve e onde nos sentimos bem ou mal. Eu acho que há países que se adequam a certas personalidades. Há pessoas com sorte que dão-se conta disto e pesquisam o país que melhor se adequa à sua personalidade.
Portugal nasce dessa massa de pessoas com uma certa maneira de ser e Portugal só muda devagar se as pessoas começarem a ser diferentes e isto não se ensina, vai-se incorporando. Se querem mudar Portugal depressa, a solução é a imigração maciça. E tem que ser maciça, pois senão os portugueses iriam contaminar os recém-chegados.
Não tenho a certeza que os espanhóis sejam melhores que os portugueses e não acho que estar ainda mais longe do centro de decisão é uma solução.
Desde quando ter menos responsabilidade e menos capacidade de controle nas nossas vidas é melhor?
Eu não desgosto Portugal. Há coisas que não gosto e outras que gosto, como nos outros países em que vivi. Entediam-me as queixas tugas e entedia-me ainda mais a ideia que a culpa vem de cima, do lado, mas nunca do próprio. Mas eu sou tolerante com as faltas dos meus conterrâneos. A perfeição é chata. A imperfeição é ternurenta.
Abrunho,
eu estava a brincar com aquela de sermos colonizados por Espanha.
Mas, sem brincar: temo que o que se está a passar em Portugal não seja simples idiossincrasia, mas um descarrilamento total.
Esta falta de confiança em tudo o que é instituição, esta perseguição de todos a todos estão-me a assustar.
Para piorar, há a questão das perspectivas económicas: que desenvolvimento para Portugal? E como é que a dívida pública vai ser paga?
Se alguém descarrilou em Portugal são os media. Se não se virem telejornais e agora se não se lerem jornais, a vida volta aos eixos. É como nos EUA. Eu deixei de ver o telejornal lá, senão tinha medo de sair à rua. Parei e pude sair de novo e gozar o som dos grilos a cantar pelas Rocky Mountain.
Dizes: mas assim não sabes o que acontece. Tu não sabes o que acontece pelos media. Sabes de uma realidade distorcida que te assusta e te põe a desconfiar de tudo. Assim, mais vale não saber.
Desde sempre Portugal foi pobre. Continuamos pobres. Onde está exactamente a novidade? Eu diria que para a frente está o caminho e não entendo este pânico. Pânico de um sistema criado pelo homem, com valor de jogo de monopólio. Buda volta. As pessoas precisam de perspectiva.
A Abrunho tem alguma razão: dir-se-ia que a melhor maneira de ir vivendo é sem ligar aos media. Por outro lado não será isso apenas a táctica da avestruz? E um dia pode-se ser apanhado desprevenido. Não sei.
António P, eu também acho que os jornalistas têm obrigação de verificar as histórias que publicam. Apontei apenas uma possível razão, que nem é propriamente uma desculpa.
Seria a técnica da avestruz se estivéssemos a desviar a vista da realidade. A realidade não está nas notícias.
Na verdade pode-se viver lindamente e ter uma vida muito agradável sem ler os jornais, e até se pode ignorar todo o processo político, nao conhecer os programas evitando a desilusao quando eles nao sao cumpridos, nunca chegar a acreditar num candidato que se revelará um potencial corrupto e nunca deixando uma notícia merecer a nossa credibilidade quando pode ser desmentida na semana que vem. Muito mais facilmente do que sem jornais vive-se sem política: os milhares de pessoas que nao votam, nao lêm jornais e nao militam em partidos fazem-no todos os dias.
A pergunta é que efeito tem essa postura para a qualidade da nossa democracia e se demitir-se (de ser parte activa da política, por exemplo lendo jornais) é o melhor caminho. O meu seria a exigência, e sim, até acho que os jornalistas têm um papel relevante nessa exigência e sao parcialmente culpados da falta dela (vou ali escrever um post).
O meu ponto é que não vale a pena ler jornais que não descrevem factos. Não ver isto é que é fazer de avestruz.
Não é a demissão da cidadania, é não entrar em paranóia.
No Natal, eu estava à espera do momento em que os jornalistas anunciavam o escorbuto em Lisboa, porque iam faltar verduras, porque na zona oeste tinham sido destruídas estufas. Era o próximo passo, na tentativa de empolar. Este é o nível a que se chegou. Defender este nível, dizendo que apesar destes espectáculos nós temos que prestar atenção porque é nosso dever, é, no mínimo, estranho.
E eu a vê-las falar...
;-)
Chovendo no molhado: o que está a acontecer nos meios de comunicação social é trágico, porque eles se estão a desacreditar (como diz a Abrunho). Daqui a nada estamos todos a repetir com o Dragão: "apesar de vir nos jornais, estou em crer que é verdade".
E é trágico porque desmotivador. Se não se pode acreditar no quarto poder, como é que fica a Democracia? Porque é que as pessoas hão-de participar, tentar informar-se e votar, se tudo está atrapalhado de ruído?
Então eu vou ali ser estranha e fazer de conta que são só os jornalistas. Depois se a areaia onde metemos a cabeça for a mesma, sempre podemos tomar um café.
Nâo, Rita, não são só os jornalistas.
Também é a Manuela Moura Guedes...
;-)
Não, não são só os jornalistas.
Óbvio.
Mas agora estamos a falar dos jornalistas. De alguns jornalistas.
E também do público em geral, que gosta de mandar bocas.
Quanto ao "Desde sempre Portugal foi pobre. Continuamos pobres. Onde está exactamente a novidade?", a novidade está na evoluçao económica dos últimos anos.
A evoluçao está entre os meus dez e dezoito anos, em que Portugal crescia, a situaçao económica das famílias melhorava, a pobreza dominuia, havia mais emprego e os salários subiam devagarinho para o que passou a acontecer desde entao (eu na verdade quase tenho vontade de sugerir que foi a partir do primeiro governo de Durao Barroso), para salários congelados (de acordo com o magnífico plano de estabilidade a minha mae, que anda a perder poder de compra há uns seis anos, vai continuar a perdê-lo no futuro), um enorme consenso nacional de que nao se pode subir salários mínimos porque senao o mundo vem abaixo, a pobreza a crescer todos os dias e um nível de desigualdade social absolutamente gritante.
Isto é Portugal e nao é um destino ou um fado, é uma escolha. E é uma escolha essencialmente política. Porque é isso a política: um conjunto de escolhas, de prioridades, de definiçao de rumos. E têm os jornais e o povo culpa quando nao oos exigem dos políticos, mas têm os políticos culpa quando nos os têm e nos tentam convencer, e talvez a si ppróprios, de que a política é isto, a gestao do corrente e o servir dos interesses, que os nossos baronetes económicos, já se sabe, podem emigrar a qualquer momento.
Nao quero continuar por aqui fora, mas Portugal nao era pobre e é pobre, Portugal era pobre e está a ficar cada vez mais pobre, cada vez mais pobre a cada sílaba que escrevo (e é mais uma razao para me ficar por aqui). E nao há nenhum indicador, nenhum, zero, de que estejam a pensar mudar de rumo nos próximos tempos.
É pena este post já estar aqui tão no fundo do blogue, porque a discussão está mesmo boa.
Duvido que o problema esteja apenas na evolução económica dos últimos dez anos. Desde sempre Portugal teve uma economia muito frágil, assente (e até prejudicada) em golpes de sorte ocasionais: o caminho marítimo para a Índia, o ouro do Brasil, o triângulo do Atlântico, a exportação de mão-de-obra, os fundos europeus.
Sempre que há um esforço de definir um rumo de futuro para a economia, acontece alguma coisa que dá cabo disso.
Já nos anos oitenta, quando eu estudei Economia, se falava da catastrófica especialização sectorial do país: conservas de tomate e de sardinha, têxteis e calçado.
No entretanto, os fundos da união europeia estão a acabar-se, e - como parece que é do conhecimento geral - enquanto existiram muitos deles foram usados de forma errada. A globalização piorou a situação de Portugal.
Duvido que outro partido ou outros políticos pudessem fazer melhor.
Curiosamente, isso tudo que dizes que está a acontecer em Portugal, disseram-me anteontem que estava a acontecer na Alemanha. E até afirmavam que a culpa era da SPD, que só têm feito asneiras, e que há cada vez mais pobres na Alemanha, e aumenta o desemprego, e a classe média está a reduzir a olhos vistos.
E se o problema fosse de ordem global, de esgotamento de uma fase do sistema económico semi-capitalista?
Mais um comentário da Rita
(Rita, desculpa, não sei o que aconteceu: não o consigo publicar com o teu nome)
Na minha lista dos problemas de Portugal, a qualidade do jornalismo está em 26o lugar, se tanto (e agora durante uns dias nao vai parecer porque, inspirada na RFI e chocada com a incompetência de uma entrevistadora, também me apetece bater nos jornalistas, mas isso é só até chegar aos políticos).
Mas agora sejamos sérios, tomemos por exemplo o caso de Sócrates: ao vigésimo sexto escândalo, o homem ainda nao descobriu que a forma de pará-los é dirigir-se ao país, explicar claramente o que aconteceu, o que nao aconteceu e permitir todas as perguntas necessárias até dar por encerrado o caso quando considerar ter dado todas as respostas necessárias. Se Sócrates soubesse lidar com eles (e estou a presumir a sua inocência), nenhum destes escândalos duraria mais de três dias.
Claro que eu posso supor que os milhares, de resto totalmente inaceitáveis, que ele gasta com acessores, nao suportam um decente aconselhamento em comunicaçao, e que ele acha mesmo que dizer duas frases sobre o assunto que nao passam da superfície, seguido de muitas diatribes sobre como o mundo está contra ele e de um processo porque o compararam com a Cicciolina. Posso partir do princípio de que ele nao sabe comunicar e que à vigésima vez também ainda nao aprendeu com a experiência. Posso acreditar que ele é burro em vez de ser corrupto (será que fico mais aliviada?).
Mas nao posso deixar de frisar que a sua própria incompetência (ainda partindo do princípio da sua inocência) é condiçao sine qua non para a campanha que dizem (e vocês concordam) lhe estará montada. Sua e das pessoas que o rodeiam.
Mas isto ainda era se eu nao achasse que os dados que tenho, nomeadamente os do último processo, chegam para saber que, se Sócrates for inocente, o que nem neste caso rejeito totalmente, as pessoas de que se rodeia nao sao fruto do acaso.
Rita,
eu não sei o que faria, no lugar do Sócrates.
Duvido que, neste contexto de mobbing mediático, prestar esclarecimentos ajude muito. Nunca mais fazia outra coisa na vida.
Voltando muito atrás, à minha utopia: o que eu queria era que a comunicação social fizesse o seu trabalho bem feito, e que as revelações fossem realmente casos sérios, e que aí os envolvidos viessem prestar declarações.
O que temos é, repito, um ruído extremamente confuso.
Quanto às companhias: ainda virá o dia em que te perguntarão "tu andavas com a Helena?!" e tu me negarás três vezes...
;-)
OK, OK, a sério: sobre as companhias, prefiro ficar calada.
Isto já é toda uma outra discussao, mas tocaste-me no ponto fraco: eu acho que isto podia ser melhor gerido, mas nao há dúvidas que no fundo nao acredito no capitalismo :)
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